Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

12 de novembro de 2010

D. Afonso Henriques




Além de ter sido o fundador da nossa nacionalidade, D. Afonso Henriques teve uma vida longa e muito preenchida: Batalha de São Mamede, campanhas na Galiza, Batalha de Ourique, conquistas de Santarém e Lisboa, desastre de Badajoz, etc., etc. Por isso, muito me admira que quase ninguém escreva ficção sobre ele.

Só há cerca de dez anos começou a surgir literatura mais diversificada sobre o nosso primeiro rei (ficção e não-ficção). O Professor Diogo Freitas do Amaral, autor de uma biografia publicada pela Bertrand em 2000, lamentava, no texto da contracapa: "como será que, sabendo Portugal quem foi o seu primeiro rei (...) não há sobre ele uma boa biografia, uma boa tese de doutoramento ou de mestrado, um filme ou uma peça de teatro, uma série de televisão?" Uma boa biografia, felizmente, já existe. Mas, interessada como sou na ficção histórica, eu vou mais longe: porque será que ainda não se fizeram dois ou três filmes, algumas peças de teatro, uma série de televisão e, pelo menos, dez romances históricos sobre D. Afonso Henriques?

A biografia do Professor Freitas do Amaral deu-me o mote. Não sendo licenciada em História, mas interessando-me pela época medieval, comecei, nesse ano de 2000, a juntar toda a informação que me era possível, decidida a escrever um romance histórico sobre o nosso primeiro rei. Não descurando os seus feitos guerreiros, interessavam-me, acima de tudo, os aspectos da sua vida privada, perguntava-me como seria D. Afonso Henriques na intimidade, que mulheres amou, que conflitos o dilaceraram.

Mal sabia eu no que me estava a meter! Enfim, passando por cima de pormenores que não vêm ao caso, realizei o sonho de ver a minha obra publicada, em 2008 (ver faixa lateral). Curiosamente, um ano antes, tinha sido publicado um outro romance histórico sobre o monarca, escrito por Maria Helena Ventura.

Não chega, deveria haver muitos mais! Por acaso, há dois aspectos na vida do nosso primeiro rei que, por si só, dariam belos romances. Um deles assenta na possibilidade de D. Afonso Henriques, numa fase da sua vida, ter pertencido aos Templários. O 1º volume dos "Grandes Enigmas da História de Portugal", publicado pela Ésquilo em 2008, dedica um capítulo a este tema.

Na verdade, o facto de D. Afonso Henriques ter tido o seu primeiro filho apenas com cerca de trinta anos, já levou muitos historiadores a questionar a razão para tal. E, na carta de doação do castelo de Soure aos Templários, em 1129, o primeiro rei português dizia: "... e porque na vossa Irmandade e em todas as vossas obras sou Irmão." Os Templários, além de serem guerreiros, eram monges e cumpriam um voto de castidade. Este podia ser o ponto de partida para uma ficção interessante, tendo ainda em conta que o mistério à volta dos Templários atrai muita gente.

Uma outra ideia seria esse seu primeiro filho, ilegítimo, D. Fernando Afonso, nascido à volta de 1140, quinze anos antes do infante D. Sancho. Pouca gente sabe que ele terá lutado pelo seu direito de suceder ao pai.


Na sua biografia de D. Afonso Henriques, o Professor José Mattoso fala na "existência de tensões ou conflitos, talvez mesmo conflitos graves", pois "a derrota e a diminuição física de Afonso Henriques no desastre de Badajoz criaram no reino um ambiente de apreensão". Mais: depois de um exílio no estrangeiro, onde terá chegado a ser grão-mestre da Ordem do Hospital, D. Fernando Afonso regressou ao reino em 1206, já D. Sancho I era rei e, ainda citando José Mattoso: "... foi envenenado em 1207, num contexto que parece quase de guerra civil. Ou seja, os ódios que envolveram Fernando Afonso e o levaram ao exílio permaneceram insanáveis até à sua morte, quase quarenta anos depois".

Será que houve, na nossa corte, uma conspiração digna dos Plantegenetas? Embora eu planeie a presença de D. Afonso Henriques em romances futuros, não pegarei nestas temáticas, pois já publiquei a minha versão. Mas pode ser que alguém, ao ler este meu post, tenha ficado com ideias...

Adenda: siga as fases mais importantes da vida de D. Afonso Henriques na etiqueta Citando Afonso I.

5 comentários:

jota disse...

Os meus caminhos, para já, levam-me para outros destinos, mas já fiquei a saber coisas que desconhecia. Com que então um filho ilegítimo? Nesta temática dos reis talvez fosse giro ver quantos reis não tiveram filhos ilegítimos :) Aqui fica mais uma ideia.

Cristina Torrão disse...

Muito poucos, amigo Jota. Da Idade Média, só do rei D. Afonso IV, filho de D. Dinis, não temos notícias de filhos ilegítimos.

D. Afonso Henriques teve, com certeza, três, talvez quatro; seu filho D. Sancho I, entre legítimos e ilegítimos, teve cerca de 20 filhos.

Aliás, os ilegítimos chegaram a fazer parte da estratégia política de certos monarcas. D. Afonso III e seu filho D. Dinis casavam os seus bastardos com elementos da alta nobreza, mantendo assim as famílias poderosas ligadas à casa real, assegurando-se da sua fidelidade.

James disse...

Não se esqueçam que há época não havia Têvê nem camisas-de-vénus, nem electricidade...
Poranto fazia-se o quê ?
Claro.

A bastardia (ou se preferirem uma frase 'brasuca' mais elegante, "costurar p'ra fora" é uma constante , e então nesse pessoal... é a mato.

O vosso 'homenageado' teve aparentemente um comportamento pouco elegante com a própria mãe (mas 'mães há muitas' como se sabe...) e valia-se dos fidalgotes e candidatos a isso mesmo que tinha trazido de toda a parte (León, Galiza, Borgonha, e sabe-se lá mais...)

Não tenho grande respeito pela criatura, se há rei que eu prefiro era um alemão que fex/mandou faxer os palácios de Sintra e que logo que a parvalhona da rainha dele morreu tratou de casar com uma cantora de ópera (ou de vaudeville ?)

Mas isto sou só eu.

:-)

Cristina Torrão disse...

É verdade, James, sem TV, sem contraceptivos... E não esqueçamos que todos estes casamentos eram "políticos".

Quanto ao "comportamento pouco elegante com a própria mãe", as opiniões dividem-se. Não esqueçamos que os conflitos entre os dois não foram provocados por motivos exclusivamente sentimentais. Aliás, havia muito pouco espaço para sentimentos no seio destas famílias, as crianças eram, em tenra idade, postas a cargo de nobres conhecidos, que as deveriam educar, pelo que os laços que os ligavam aos pais e aos irmãos se tornavam bastante ténues.

Se D. Afonso Henriques fez bem ou mal, na sua teimosia em se tornar independente, também é certamente discutível. Por isso mesmo, acho que, quanto mais livros (ficcionais ou não), filmes, séries, etc. houvesse sobre o tema, melhor :)

Anónimo disse...

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