Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

24 de novembro de 2010

Visita a Toledo

Assim se intitula o primeiro Capítulo do meu novo romance.  D. Dinis tem apenas cinco anos e encontra-se de visita à corte de seu avô materno, el-rei de Leão e Castela, D. Afonso X o Sábio.

E os leitores deste blogue têm direito a dar uma espreitadela nos acontecimentos:



     "O pequeno continuou a observar a sala e o seu olhar pousou numa escrivaninha, perto de uma janela. Lembrou-se de uma visita que fizera com o pai ao mosteiro de Alcobaça, onde tinha visto os monges copistas sentados em frente de escrivaninhas iguais àquela, copiando e ilustrando livros. Dinis observara fascinado o movimento das penas por sobre as folhas, perguntando-se o que estariam eles a escrever, tão concentrados.
     Também sobre esta escrivaninha se encontravam folhas escritas, uma pena sobressaía de um tinteiro. A curiosidade era grande e Dinis aproximou-se. O tampo era alto demais para ele, mas, notando que a mãe e o avô estavam embrenhados na sua conversa, subiu à cadeira, pondo-se de pé sobre ela.
     Pela forma e tamanho das frases, reconheceu que os pergaminhos continham versos e teve uma pena enorme por ainda não saber ler. Quanto não daria para saber o que estava ali escrito! Adorava recitar versos e cantar com os trovadores. João Soares Coelho, um cavaleiro trovador da corte de seu pai, que aliás também os havia acompanhado naquela viagem a Toledo, já lhe dissera que, assim que ele soubesse ler, lhe seria mais fácil decorar as cantigas.
     Dinis inclinou-se por sobre o tampo da escrivaninha e aproximou o nariz da primeira folha. Gostava daquele aroma da tinta por sobre a pele de cabra curtida. Depois, começou a desenhar as letras com os dedos, imaginando-se o criador daquelas linhas, escrevendo poemas bonitos, que deslumbravam toda a corte. Embrenhado nestes pensamentos, não notou que as folhas por baixo da sua se deslocavam. E, quando começaram a cair em cascata, espalhando-se pelo chão, era tarde demais para evitar o desastre." 

2 comentários:

antonio ganhão disse...

Promissor; os sonhos costumam desabar dessa forma, como folhas espalhadas pelo chão. Terá o pequenino D. Dinis aprendido a lição? Quando terá ele deixado de sonhar?

Cristina Torrão disse...

Bem, o "meu" D. Dinis é bastante pragmático, porque eu acho que ele foi mesmo um homem pragmático. Mas também é verdade que era poeta... Na minha opinião, ele conseguiu separar muito bem os momentos de lazer e de sonho dos de regência.

Obrigada pela visita, gostei de te ver por aqui ;)