Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

8 de dezembro de 2010

D. Dinis e seu avô

Pelo lado materno, D. Dinis era neto de D. Afonso X de Leão e Castela, um dos monarcas mais influentes do seu tempo, apelidado de o Sábio. Ele próprio também poeta (D. Dinis ter-lhe-ia herdado este talento), escreveu vários livros e incrementou a cultura. Entre outras medidas, fundou a Escola de Tradutores de Toledo e um Observatório Astronómico.

D. Afonso X  favoreceu igualmente Portugal, ao prescindir dos direitos que tinha sobre o Algarve, a fim de presentear o neto D. Dinis, à altura com apenas cinco anos. E, no seu testamento, presenteia a filha ilegítima D. Beatriz, mãe do monarca português, com as vilas de Moura, Serpa, Noudar e Mourão, que pertenciam ao reino de Leão.

Um rei que conheceu a glória, mas que acabou exilado em Sevilha, deposto pelos seus próprios nobres em Cortes reunidas em Valhadolid, na sequência de desentendimentos com o seu herdeiro Sancho. D. Beatriz acompanhou o pai até ao fim, enquanto o jovem rei português ficou do lado do tio, contra o avô. O que muito indignou a mãe e desiludiu o velho Sábio, a ponto de este referir essa sua amargura no testamento.

Na minha opinião, D. Dinis, apesar de ter sido poeta, sabia pôr os sentimentos de lado, sempre que as circunstâncias o exigiam. E aqui vai o excerto do romance, em que o monarca, com 23 anos, recebe a notícia da morte do avô: 


            Uma vez sozinho, e depois de respirar fundo, o jovem rei leu a carta de sua mãe. Beatriz confirmava aquilo que o irmão Afonso já lhe dissera: a fim de recompensar a lealdade da filha, D. Afonso X deixara-lhe as vilas de Moura, Serpa, Noudar e Mourão. Mas também lhe havia deixado as rendas de Badajoz, cidade que, como Sevilha, fora fiel ao velho monarca até ao fim. A neta Branca herdara a quantia de 10 000 marcos, que lhe devia servir de dote.
            Na sua carta, Beatriz transcrevia ainda um passo do testamento, em que Afonso X se referia ao neto, rei de Portugal:
           
E voltamo-nos para o rei de Portugal, que era nosso neto, filho da nossa filha, que nos ajudasse de maneira que não caísse sobre nós tão cruel fim como este. Mas ele, juntando à sua juventude o conselho que lhe deram contra Deus e contra o direito aqueles que o aconselharam (…). Mas fê-lo de muitas maneiras ocultamente, o que nos fez um grande dano. Assim que mais o vimos amigo do nosso inimigo que nosso.

Dinis ficou longos momentos a olhar para aquelas linhas, onde Afonso X expressava a sua mágoa por não ter recebido o apoio do neto, ao mesmo tempo que o desculpava, que assim agira devido à sua juventude e por ter sido mal aconselhado. Mas era precisamente isso que mais enfurecia o jovem! Compreendia que o avô, sentindo aproximar-se o seu fim, desse largas à sua angústia, mas teria preferido que ele se tivesse abstido de tentar explicar as razões do comportamento do neto. Na opinião de Dinis, a sua própria atitude nada tinha a ver com imaturidade ou maus conselheiros. E não se arrependia!

(Para ler outros excertos do romance, clique na etiqueta Citando o Lavrador).

3 comentários:

antonio ganhão disse...

O pragmatismo político sempre nos teve na massa do Sangue, pelo menos até D. Sebastião.

Daniel Santos disse...

vou ter de procurara a obra da menina.

Cristina Torrão disse...

Espero que não seja difícil de encontrar ;)