Mais uma vez, fiquei na Alemanha, até porque não gosto de andar de avião (e este ano até arriscava passar o Natal no aeroporto). Mas o jantar da Consoada não me saiu bem. É no que dá, experimentar receitas novas em dias destes...
No dia de Natal, a Lucy começou a mostrar sinais de impaciência logo às oito da manhã. Lá me levantei e fui dar a volta habitual com ela, ainda antes do pequeno-almoço. Estavam dez graus negativos, as ruas desertas, a neve acumulada em todos os cantos e eu com aquele vazio... Mas onde estava o espírito de Natal? Porque se esquecia ele de mim?
Ao longe, vi o dono de um cão que conheço de vista, a passear com o dito cujo. Quando nos cruzámos, em vez do habitual "Guten Morgen" (bom dia), saiu-me: "Frohe Weihnachten" (Feliz Natal). O homem olhou-me surpreendido, mas logo abriu um grande sorriso e respondeu: "Danke, gleichfalls" (obrigada, igualmente).
Continuei o meu caminho, sentindo-me mais quente por dentro, como se tivesse bebido um café ou um chá reconfortante. Acho que foi por fazer alguém sorrir. Alguns metros mais à frente, apercebi-me de que se aproximava um ciclista, por trás de mim. Há muitos ciclistas por aqui, eu própria ando muitas vezes de bicicleta. Mas, com este frio... Ainda por cima, o passeio tinha apenas uma faixa estreita limpa de neve. Ainda pensei: não me desvio, o passeio é para os peões, ele que mude para a rua. Mas a rua estava escorregadia. E era Natal. Parei, cheguei a Lucy a mim e deixei espaço para o ciclista passar. O homem abriu um grande sorriso e disse qualquer coisa como: "Mas que simpatia! Muito obrigado." Tive que sorrir também, ao responder: "De nada".
Quando cheguei a casa, o Horst já tinha preparado o pequeno-almoço: o café quentinho, o pão torrado e estaladiço, a manteiga... Falámos sobre os presentes que tínhamos trocado no serão anterior. A sensação reconfortante tomava cada vez mais conta de mim, preenchendo o vazio...
Afinal, ele lembrou-se de mim, o espírito de Natal!
7 comentários:
Muito bom. Fico feliz por ter recebido a visita do Espírito de Natal.
No caso foram as pequenas entrega, os pequenos passos de abertura aos outros que aquecem o coração e tornam o céu mais azul.
Em resposta ao comentário no meu blog, não foi por acaso que usei a palavra comodismo algures. Não me vejo realmente a sair de casa dos meus pais. É por comodismo, também, mas por amor, a minha mãe não aguentaria sozinha a doença do meu pai (apesar de eu não ajudar assim tanto, mas a presença é bem mais importante que a ajuda).
E sim, sinto-me protegido porque tenho eles ao pé de mim. É difícil explicar... quando a compra do carro tornou-se realidade, a minha mãe acabou por ajudar-me ouvindo-me, dando-me mimo. Consegui ir em frente com menos sofrimento do que se tivesse sozinho. É este tipo de protecção, que um dia... enfim, se a lei na vida for normal, deixarei de ter.
Mas o meu texto ajudou-me bastante. Escrever no blog é uma espécie de terapia. Assim que o terminei, comecei a viver o meu Natal de uma forma bastante mais descontraída e positiva. Sempre é mais barato que ir a um psicólogo, mas tudo tem um preço e arrisco-me a ter poucos leitores... mas desde que seja bons, como é o caso, fico tranquilo e feliz.
Continuação de um Feliz Natal!
Ele existe dentro de nós, só temos mesmo de lhe dar uma oportunidade...
Fotografias de um bonito natal branco... que inveja.
E que esse espírito se prolongue pelo ano! Beijoca!
Obrigada a todos pela atenção e pelas palavras simpáticas.
Feliz Ano Novo (apesar da crise...)
Tão bonito, o seu texto.
Obrigada :)
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