Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

5 de janeiro de 2011

D. Dinis e D. Maria de Molina

As pesquisas necessárias à escrita de um romance histórico reservam-nos surpresas agradáveis, principalmente, quando se depara com uma personalidade que não se conhecia e que nos enche as medidas. Foi o que me aconteceu com D. Maria de Molina.

É do conhecimento geral que a Idade Média não era propícia às mulheres, vistas como seres menores, oprimidas, sem acesso à cultura e afastadas do poder. Mesmo assim, houve quem se conseguisse impor num mundo de homens. Na Península Ibérica, há vários exemplos, D. Teresa foi uma delas. Infelizmente, a nossa tradição vê-a como uma mãe desnaturada e mulher promíscua. No primeiro caso, porque foi adversária do próprio filho, o fundador de Portugal; no segundo, porque, depois de enviuvar, envolveu-se em aventuras amorosas com os dois irmãos Trava. Pouca gente se pergunta como conseguiu ela a proeza de se colocar à frente de um Condado. Dona de uma personalidade forte e de uma vontade indomável (aliás, como a da irmã D. Urraca; qualidades que, a meu ver, transmitiu ao filho Afonso), D. Teresa merecia mais estudos, mais livros, mais romances sobre ela.

D. Maria de Molina viu-se viúva à volta dos trinta anos, com sete filhos por legitimar (entre os 11 e 1 ano de idade). O seu casamento com el-rei D. Sancho IV de Leão e Castela nunca chegou a ser reconhecido pela Igreja, dado o parentesco entre os dois (que até nem era tão próximo como isso). À altura da morte do monarca, o varão mais velho, D. Fernando, contava 9 anos. Geraram-se lutas terríveis pela posse do trono, com os irmãos de D. Sancho IV à cabeça, pois recusavam-se a obedecer a uma "criança bastarda".

A causa de D. Maria de Molina e dos seus filhos parecia perdida. Mas ela surpreendeu tudo e todos. No meu romance, D. João Anes Redondo relata impressionado, ao seu monarca el-rei D. Dinis, o que presenciou em Valhadolid:

Imagem Wikipedia


- Numa das cenas mais admiráveis e mais impressionantes que eu presenciei, D. Maria de Molina, cheia de coragem e majestade, apresentou o filho de nove anos à assembleia ali reunida, convencendo o arcebispo de Toledo, os bispos e todos os nobres a jurarem fidelidade ao pequeno rei D. Fernando IV.
            Dinis quedou-se estupefacto. Maria de Molina estava longe de ser uma viúva abandonada, com um rancho de filhos por legitimar. Uma mulher que se impunha num mundo dominado por homens! Ser-lhe-ia realmente possível tal proeza?

De facto! Além de exercer uma primeira regência, enquanto esperava pela maioridade do filho, a rainha castelhana orientou-o durante o seu reinado e, como D. Fernando IV  morreu cedo, ela exerceu uma segunda regência pelo neto, D. Afonso XI (que era igualmente neto de D. Dinis e D. Isabel). Esteve à frente dos destinos de Leão e Castela durante mais de vinte anos, apesar dos obstáculos que lhe surgiram, pois nem todos os nobres viam com bons olhos tal protagonismo por parte de uma mulher.

Continuarei com este tema.

(Para ler mais excertos do romance clicar na etiqueta Citando o Lavrador)

1 comentário:

António R. disse...

Está visto que era o que se chama uma "mulher de armas"!