Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

26 de fevereiro de 2011

Batalha de São Mamede



Foi na sequência da Batalha de São Mamede, a 24 de Junho de 1128, às portas de Guimarães, que D. Afonso Henriques atingiu a liderança sobre o Condado Portucalense. O nosso primeiro rei tinha entre dezassete e vinte e dois anos (no meu romance, ele tem vinte). Estava ainda longe de ser o Conquistador que conhecemos da nossa História, não passava de um jovem inexperiente. Mas os barões portucalenses apoiavam-no em peso. Também não há certezas quanto ao número exacto de guerreiros envolvidos, as fontes, como sempre, são contraditórias. Afonso Henriques, porém, teria muito mais gente do seu lado do que sua mãe, pensa-se que à volta de 600 homens, contra cerca de 300 de D. Teresa (há quem fale do Recontro de São Mamede, em vez da Batalha, já que, ao todo, o número de tropas não atingiria o milhar).
 



Em Miniatura


Poderia pensar-se que a vitória do infante estava assegurada, mas, pelos vistos, houve problemas. Devido à inexperiência do jovem? Há, inclusive, uma lenda que diz que Afonso Henriques, vendo a coisa malparada, terá abandonado o campo de batalha. Só a perseverança de Soeiro Mendes o Grosso, representante da poderosa família de Sousa, o terá convencido a regressar à luta.

Eu usei uma versão um pouco diferente (a ideia de que Afonso Henriques teria fugido não combina com o seu carácter). Inventei um desaguisado entre o príncipe e aquele barão, antes da batalha, que levou o primeiro a ordenar ao segundo ficar na vila com os seus homens (Guimarães era vila), a fim de a defender, em caso de necessidade. Soeiro Mendes acatou a ordem, mas contrariado. Durante a batalha, o jovem dá conta do seu erro:


Afonso olhou à sua volta, as perspectivas não eram animadoras. Os guerreiros continuavam espalhados pelo campo, abrindo espaços que poderiam permitir ao inimigo aproximar-se das muralhas. Precisava de mais gente.
Tinha de ir buscar o Grosso!
Custava-lhe dar o braço a torcer, mas mais importante lhe era a vitória, que lhe permitiria a soberania sobre o Condado. Vendo-se livre naquele momento, não quis perder tempo a arranjar um mensageiro e decidiu ele próprio ir ao encontro de Soeiro Mendes.
            Ainda não acabara de contornar o castelo, já o barão vinha à frente dos seus homens, ao seu encontro. Travaram as suas montadas, Soeiro Mendes bradou-lhe:
            - Sempre me viestes dar razão?
            - Porque deixastes o vosso posto, sem a minha ordem expressa? - berrou o príncipe de volta, ignorando-lhe a pergunta.
            - Não houve ataque à vila. Eu bem vos disse que...
            Interrompeu-se, quando Afonso lhe agarrou nos arreios do cavalo e lhe bradou na cara:
            - Nunca vos esqueçais de quem detém o comando, D. Soeiro Mendes!
            Os dois olhavam-se ferozes, quando surgiu um cavaleiro vindo da refrega:
            - D. Afonso! Os homens de D. Fernão Peres aperceberam-se de que deixastes o campo de batalha. Logo se espalhou entre eles o rumor que teríeis fugido para vos enfiardes no vosso castelo. Os nossos olham em volta e não vos vêem, perdem a coragem…
Era imperioso dar a volta à situação, a sua liderança, todo o seu futuro, estavam em jogo, Afonso não se podia permitir uma derrota. Deu ordem de avanço e fez-se ao caminho, com o Grosso e os guerreiros deste na sua peugada. O príncipe entrou no campo de batalha como um raio, berrando de fúria e atirando um cavaleiro inimigo ao chão à primeira pancada da sua maça.
- D. Afonso Henriques regressou!
A palavra espalhou-se, os cavaleiros ganharam ânimo. E, com as forças frescas de Soeiro Mendes, o inimigo, surpreendido e agora claramente em menor número, não tardou a fraquejar. Os primeiros começaram a fugir, os que ficavam, rendiam-se. Alguns, vendo-se perante Afonso, largavam as suas armas e desmontavam, prontos para lhe jurarem fidelidade.


etc...


Afonso Henriques foi, a partir daquele dia, o líder incontestado do Condado Portucalense. Condado que ele transformou em reino, exercendo a regência até à sua morte, em 1185. Foram quase sessenta anos à frente dos destinos de Portugal!

7 comentários:

antonio ganhão disse...

Este D. Afonso faz-me lembrar Sócrates, embora com uma ligeira nuance, o primeiro lutava por um país que (ainda) não existia e o segundo luta por um país que (já) não existe. Em ambos a mesma ilusão.

Cristina Torrão disse...

:D

Mas olha que há ilusões e ilusões. Às vezes, depende de nós tornar uma ilusão realidade...

Daniel Santos disse...

ando há procura de uns livros, mas ainda não encontrei.

Bartolomeu disse...

Desconhecia que tinha sido no dia 24 de Junho de 1128. Mas sempre achei que o dia do meu nascimento reflectia um facto histórico importante!
;))))

Anónimo disse...

Há um livro, "Assim Nasceu Portugal", de Domingos Amaral, que trata do período histórico entre 1112 e 1130, e narra com minucias as teias históricas e amorosas desta época, comprei na Livraria Lello, em Lisboa

Cristina Torrão disse...

Sim, é um livro novo, recentemente pubicado. Estou curiosa em relação a ele, embora não aprecie a escrita de Domingos Amaral. Mas, tratando-se desta época, penso que será de leitura obrgatória para mim.

Cristina Torrão disse...

"publicado", desculpem