Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

13 de fevereiro de 2011

A Investidura de D. Afonso Henriques

À semelhança do que acontece com o seu nascimento, também não há certezas quanto à data em que D. Afonso Henriques foi armado cavaleiro. Oscila entre 1120 e 1126. Assim se desconhece igualmente a sua idade, à altura. Eu segui a versão do Prof. Mattoso, na já aqui citada biografia, que aponta Março de 1126. E, como escolhi o ano de 1108 para o nascimento do nosso primeiro rei (por razões de enredo), ele teria, então, 17 ou 18 anos.

Quanto ao local, não há dúvidas: Zamora. E porquê Zamora, se o jovem D. Afonso estava tão ligado aos barões portucalenses? Na verdade, o senhorio desta cidade leonesa pertencia, junto com Astorga, a D. Teresa, como sinal da sua vassalagem a el-rei de Leão. Era costume o suserano dar, ao seu vassalo, o senhorio de territórios que lhe pertenciam, precisamente, como sinal da obediência deste.


Catedral de Zamora


Segundo o Prof. Mattoso, Zamora teria ainda outro significado. A irmã de D. Teresa havia falecido e o filho desta, D. Afonso VII, primo do nosso D. Afonso, dava os primeiros passos do seu reinado. A fim de afirmar o seu poder, o jovem soberano exigiu a fidelidade dos barões dos reinos que lhe pertenciam: Leão, Castela e Galiza. D. Teresa hesitava em prestar-lhe vassalagem (como o filho, a seguir a ela) e o sobrinho marcou encontro com ela, em Março de 1126, no lugar de Ricobayo, perto de Zamora. A investidura de D. Afonso Henriques seria, assim, uma tentativa, por parte de D. Teresa, de impressionar o sobrinho rei, mostrando-lhe que tinha um herdeiro para o reino da Galiza, que ela reclamava para si:


Uma chama de fúria assomou nos olhos castanhos da rainha, que, porém, logo se apagou. D. Teresa ensaiou até novo sorriso, ao dizer:
- Esses ricos-homens que me abandonaram parecem adorar-vos. Com certeza que lhes agradará a vossa investidura de cavaleiro.
Ao aperceber-se das verdadeiras intenções de sua mãe, o jovem sentiu uma ponta de desilusão. Mas retorquiu, em tom despreocupado:
- Agora compreendo o vosso repentino interesse pela minha pessoa. Exibindo-me, não só reforçareis as vossas exigências perante meu primo, como agradareis aos senhores portucalenses.


Foto de José Filipe

Para se ser digno da investidura, havia que cumprir um ritual:


Foi então em Zamora, nas margens do rio Douro, cidade leonesa que pertencia ao senhorio de sua mãe, que Afonso Henriques foi armado cavaleiro, em Março de 1126.
            Os combatentes a cavalo não precisavam de ter obrigatoriamente origem nobre, mas o cavaleiro originário da alta nobreza era considerado um guerreiro divino, ao serviço de Deus, combatendo os infiéis e protegendo os pobres e os fracos. Para se alcançar este estatuto, havia que cumprir um ritual. Também Afonso purificou o corpo e a alma: tomou banho, jejuou um dia inteiro e passou a noite em vigília, numa capela. De manhã cedo, entrou na catedral de Zamora, envergando uma vestimenta branca e comprida, que ostentava a cruz azul do Condado Portucalense. O bispo abençoou a espada e as esporas, em cima do altar. Afonso tomou-as, armando-se ele próprio.


Ponte medieval sobre o Douro, Zamora

Como se vê, Zamora tem ainda um significado especial, que não terá contado para a decisão de D. Teresa, mas que não deixa de ter um certo encanto, para nós portugueses: fica situada na margem direita do rio Douro. E é uma cidade belíssima, a hora e meia de carro de Bragança, merece uma visita.


Zamora, nas margens do rio Douro

1 comentário:

antonio ganhão disse...

Devias de organizar umas visitas de estudo a estes locais. Revisitar a nossa história com os seus personagens em discurso directo.