Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

20 de fevereiro de 2011

Teimosia

Nota: Não pretendo "catequizar" ninguém, apenas, digamos, proporcionar matéria de reflexão. Interesso-me por Psicologia e leio muito sobre o tema. Este post, à semelhança do Relativizar (e outros que se seguirão) resultam dessas leituras e exprimem aquilo que me parece correcto.






A teimosia é vista como um grande defeito, algo a corrigir, principalmente, quando a pessoa "teimosa" ignora conselhos que lhe sejam dados e persiste na sua intenção.

Eu já aqui chamei a atenção para a frase do Prof. Eduardo Sá, autor do livro Sindicato da Bondade: "Ninguém educa com bons conselhos, mas com bons exemplos". Crianças e jovens, principalmente, não têm paciência para ouvir "bons conselhos", preferem ficar à espreita da primeira oportunidade de os contrariar.

Se alguém (seja criança, ou adulto) insiste em fazer algo, claro que se lhe pode dar a nossa opinião, mas seria bom que prescindíssemos de censurar, ou julgar, essa pessoa, por ela levar a sua avante. A melhor maneira de aprendermos algo é cometendo erros.


Eddie


Os animais não entendem a nossa linguagem, o que nos treina a aceitar a teimosia, ao mesmo tempo que nos mostra como as experiências (principalmente, as más) ensinam melhor do que qualquer conselho. Tivemos um cãozinho (o nosso saudoso Eddie) que, em cachorrinho, insistia em transportar pauzitos na boca ao comprido, assim como se de um charuto se tratasse. Tínhamos medo que ele se magoasse e fazíamos trinta por uma linha para lhe dar a entender que era muito melhor transportar aquele objecto atravessado. Em vão, claro. Por outro lado, não queríamos impedir que ele brincasse com pauzitos e íamos aturando aquele comportamento. Até ao dia em que um pauzinho bateu no chão e a outra extremidade lhe foi de encontro ao céu da boca. O Eddie ganiu com dores. Mas, a partir daí, transportou sempre os pauzitos como devia ser!

Os pais gostariam de poupar os filhos a experiências más e/ou dolorosas, mas, na verdade, assim se aprendem as lições para a vida. Como nos diz o psicólogo alemão Karl König, a aprendizagem resultante da sequência tentativa/erro é essencial para a criança. O papel dos pais será mais o de acompanhantes, mostrando compreensão para os problemas e as angústias dos filhos, independentemente da idade destes. Claro que também são orientadores, mas, na medida do possível, sem julgamentos ou censuras. Não é vergonha nenhuma admitir que se errou, pelo contrário. Por isso, será bom evitar frases do género: "Estás a ver? Eu bem te disse. Bem feito!" Isto gera vergonha, por se ter errado. E, ainda, raiva, revolta e falta de confiança nas próprias capacidades.



Foto recebida por email sem indicação da fonte


Em vez de teimosa, eu prefiro dizer que sou persistente, que tenho objectivos a atingir e que não deixo que ninguém me impeça de fazer aquilo que acho certo (não vale prejudicar terceiros, claro). Se, mais tarde, constato que estava errada, resta-me a grandeza de o admitir. Sem vergonha!

10 comentários:

jota disse...

O meu pai antes de estar como está, dizia perante a acusação de teimosia que para ser teimoso é preciso haver dois.

Na realidade se encontramos um teimoso pela frente, muitas vezes, isso implica uma posição de força nossa. Então, estamos a ser teimosos também, quem sabe mais do que ele.

Perante uma teimosia é inteligente aprender com a experiência, pois umas vezes é mesmo casmurrice e aprendemos a evitar esse caminho, mas outra vezes é persistência no atingir de um objectivo e isso é pedagógico.

antonio ganhão disse...

Eu confesso que ao fim de cinco minutos de teimosia me transformo num adepto da pedagogia da palmadinha... mas depois arrependo-me.

Bartolomeu disse...

Parece-me que a "teimosia" poderá funcionar em algumas circunstâncias, como motor evolutivo.
Tal como aconteceu com o Eddie, nem sempre as experiências que nos ensinam algo, decorrem pacificamente, muitas vezes, são dolorosas.
Com as crianças, existe sempre a possibilidade de com a nossa mão protectora, pressionarmos um pouco a extremidade do pauzinho, por forma a que compreendam o perigo que correm. Mas o universo de outras experiências de risco é vasto e completamente incontrolável, devido à imprevisibilidade.
Lembro-me em criança de ouvir com frequência a frase materna: «este miudo é terrível... lembra-se de coisas que não lembram ao diabo».
Deve ser por isso que outra frase do "breviário" popular tem força de lei: «ao menino e ao borracho, põ-lhes Deus a mão por baixo».
;)

Cristina Torrão disse...

Nem sempre é fácil, implume, imagino. E ninguém é perfeito. Além disso, haverá vários géneros de teimosia, talvez se possa chamar a alguns "casmurrice", como disse o Jota (quando insistem em querer um doce, ou um brinquedo, por exemplo, os pais também devem dizer não, se acharem conveniente).

De qualquer maneira, penso que o importante será não neutralizar qualquer manifestação de iniciativa própria (isso, sim, pode ser grave). Sempre que possível, deixar as crianças levarem a sua avante, mesmo prevendo um desfecho desfavorável, ou até infeliz. Cada um deverá decidir em que circunstâncias. E, depois do "falhanço", ouvir as mágoas do/da "piratinha", mesmo que apeteça dar a tal palmadinha ou um raspanete.

Falar é fácil, eu sei (para quem não tem filhos). Mas, como digo, só quero dar ideias (depois de ler quem entende do assunto).

Cristina Torrão disse...

Exactamente, Bartolomeu (só vi o seu comentário, depois de responder ao implume).

O caso com o Eddie foi só um exemplo, claro que com crianças temos outras possibilidades, até porque, desde muito cedo, elas entendem o que dizemos (ainda antes de aprenderem a falar). O importante é, sempre que for impossível, deixá-las seguir a sua própria iniciativa. Porque se esta for quebrada e insistirmos em dizer "és teimosa/o", como se de algo grave e "feio" se tratasse, pode-se estar a criar um adulto sem iniciativa e confiança nas suas possibilidades. A teimosia, às vezes, dá jeito, não devemos desistir ao primeiro obstáculo :)

Felizmente, tem-se evoluído no bom sentido, nos últimos anos :)

António Lopes disse...

Olá,

Gostei muito do teu texto :-D
Tanto que roubei para o meu blogue.

Já é o segundo! Qualquer dia começo a pagar-te direitos de autor!

Concordo com o que dizes e, com uma filha de 8 anos, tenho muito por onde praticar o deixá-la dar umas quedas para ganhar equilíbrio ;-)

bjs

antonio ganhão disse...

Cris, quem falou em filhos? Eu estava a pensar na mulher... (estou a brincar.)

Cristina Torrão disse...

António Lopes, usa e abusa (é uma maneira de dizer). É interessante verificar que estamos muitas vezes de acordo :) "Deixar dar umas quedas para ganhar equilíbrio" - é isso mesmo.

Implume, já estou habituada às tuas brincadeiras...

Daniel Santos disse...

eu sou teimoso.

Cristina Torrão disse...

:)