Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

22 de abril de 2011

Mensagem de Páscoa

(em estéreo, embora com outro título) 


Quando as pessoas se sentem ameaçadas, constroem barreiras à sua volta. Pouco importa se a ameaça é real, ou não, atrás de um muro, sentimo-nos protegidos, mas também importantes e superiores. Foi assim com o muro de Berlim, é assim com o muro dos israelitas e é assim nos condomínios privados, onde certas famílias vivem separadas do mundo que as rodeia.

Há pessoas que gostariam de viver num país rodeado de muros, para afugentarem pessoas vindas de outros países. No seu entender, assim se vivia em bem-estar, sem desemprego, sem crime, numa sociedade mais justa, mais civilizada, quiçá, perfeita.

Quando as coisas correm mal, há que procurar bodes expiatórios, numa tentativa de explicar aquilo que não se compreende. Na Idade Média, quando a peste grassava na Europa Central (no que hoje é a Alemanha e não só), a maioria cristã meteu na cabeça que a culpa era dos judeus, que envenenavam a água das fontes, onde as comunidades iam buscar a sua água. Começaram, assim, as matanças de judeus, organizavam-se milícias, que espalhavam o terror, matando e linchando a torto e a direito.

Hoje em dia, há quem veja nas hordas de imigrantes à procura de uma vida decente na Europa a razão de todos os males e de todas as crises. Não estou a negar que a Europa está a rebentar pelas costuras, que o financiamento estatal aos mais fracos está a soçobrar e que existem conflitos entre religiões. Mas as razões do desemprego, da criminalidade e da crise, em geral, devem ser procuradas na incapacidade dos nossos governantes. Além de uma gritante falta de visão, não exercem o seu posto a pensar no bem comum, mas no proveito próprio. E conflitos religiosos sangrentos existem igualmente entre cristãos, como o prova o caso da Irlanda do Norte.

Construindo um muro à volta do nosso país, travando a imigração, resolveríamos os nossos problemas? Não creio. Portugal depende muito do estrangeiro. Devemos, então, construir um muro à volta da Europa? De toda a Europa? Incluindo a Roménia, Albânia e outros países, onde existem tantos ciganos? Hum… Talvez construir um muro à volta da Europa rica, deixando a pobre de fora… O pior é que, neste caso, Portugal arriscava-se a ficar do “lado errado”!

Os ódios, extremismos e fanatismos que grassam um pouco por todo o lado só provam uma coisa: que nós, a Humanidade, estamos ainda muito longe de encontrar soluções para os nossos problemas e de viver em paz uns com os outros. Mas uma coisa é certa: a resposta não está (não pode estar!) no erigir de barreiras e, sim, no estender de mãos.

Uma Páscoa Feliz para todos!

4 comentários:

Bartolomeu disse...

Cristina, isto é um assunto para ser discutido, não é?!
;)
Se pensarmos numa única forma de gerir a invasão, enquadramento e estabilidade de todos os que saem dos seus paises para se instalar na europa, em busca de uma vida melhor... possívelmente essa forma passa pelo erguer de muros.
No entanto, sabemos bem que qualquer muro cumpre duas funções; tanto impede a entrada como a saída. Logo, o isolamento de um país, ou de um continente, ditam o atrofio, obrigam a um fecho sobre si mesmo, impossiblitam a evolução.
No entanto, outros olhares sobre o mesmo problema são admissíveis.
Não podemos ignorar os graves problema de segurança que essas hordes, como lhes chamas, causam nos paízes que as recebem. Para os governos desses países, surgem também problemas nos âmbitos da segurança social, do emprego, dos apoios sociais, etc.
Não é segredo nenhum, que vivemos num mundo globalizado. Um mundo que se pretende seja equilibrado, sustentável, justo, humano, contextualizado. Mas este desejo globalizado, encontra-se na prática fraccionado e em muitos casos, fracturado. Dividem-nos ainda muitas diferenças, apesar de admitirmos a igualdade temos ainda alguma relutância em a aplicarmos na nossa vida privada e social.
Move-nos no entanto, o desejo de igualdade, alimentados pelo sentimento da fraternidade, animados pelos resultados que passo a passo vamos conquistando, encontraremos um dia o caminho que nos igualará. Nostradamus, Bandarra, Teixeira de Pascoaes, Pessoa, Agostinho da Silva, profetizaram estes tempos, enquadrando-os no quinto império sonhado pelo Rei D. sebastião, o qual tem como base o conceito da universalidade, de uma identificação colectiva de sentido positivista, um império de cariz espiritual.
se reflectirmos um pouco, percebemos, um pouco a contra-vontade, que o grande impeditivo de progredirmos como seres humanos altruistas e equilibradamente humanistas, se prende, remediávelmente (e este conceito está a conhecer mudanças) com a atitude de possuir materialmente, em deterimento de possuir espiritualmente. E isto não tem rigorosamente nada a ver, com religiões, mas sim com o reconhecimento da interioridade, da essência do nosso ser.

Cristina Torrão disse...

Este assunto é muito polémico, sim, constato-o no outro blogue onde tenho o privilégio de escrever e onde publiquei este e outro texto relacionado com o tema.

Não há dúvida que a imigração descontrolada causa muitos problemas na Europa e há muitas máfias envolvidas, gente que ganha muito dinheiro a "traficar" essas pessoas. Por outro lado, nós (o chamado mundo ocidental) somos responsáveis por muitos dos problemas existentes em África, consequência da globalização. Temos, por isso, obrigação de os ajudar. E uma das maneiras de o fazer é, por exemplo, pôr fim ao consumo desenfreado, de que falávamos há dias.

Podíamos estar aqui a noite toda a "falar", caro Bartolomeu, e eu também não tenho solução para estes problemas. Mas pretendi dizer que acredito que essa solução passa pela construção de pontes e, não, de barreiras.

antonio ganhão disse...

Sejamos pela redenção dos espíritos e libertação das mentes.

Maria do Mar disse...

Tentei passar esta mensagem, mas creio que não chegou. Ainda que pareça um pouco atrasado verdade é que a mensagem da Páscoa se pode continuar hoje e amanhã porque a libertação é um apelo continuado
Aqui junto algo que merece a reflexão "dos espíritos atentos"


“A DIVIDA SOBERANA”

“1º - A primeira de todas as dívidas soberanas, e certamente a mais fundamental, é aquela que cada um de nós mantém para com a Vida. Essa dívida nunca a pagaremos, nem ela pretende ser cobrada. Reconhecer isso em todos os momentos, sobretudo naqueles mais exigentes e confusos, é o primeiro dos mandamentos.
2º - Se a maior de todas as dívidas soberanas é para com um dom sem preço como a vida, cada pessoa nasce (e cresce, e ama, luta, sonha e morre) hipotecada ao infinito e criativo da gratidão. A dívida soberana que a vida é jamais se transforma em ameaça. Ela é, sim, ponto de partida para a descoberta de que viemos do dom e só seremos felizes caminhando para ele. É o segundo mandamento.
3º - O terceiro mandamento lembra-nos aquilo que cada um sabe já, no fundo da sua alma. Isto de que não somos apenas o recetáculo estático da Vida, mas cúmplices, veículos e protagonistas da sua transmissão.
4º - O quarto mandamento compromete-nos na construção. Aquilo que une a diversidade das profissões e as amplas modalidades do viver só pode ser o seguinte: sentimo-nos honrados por poder servir a Vida. Que cada um a sirva, então, investindo aí toda a lealdade, toda a capacidade de entrega, toda a energia da sua criatividade.
5º - A imagem mais poderosa da Vida é uma roda fraterna, e é nela que todos estamos, dadas as nossas mãos. A inclusão representa, por isso, não apenas um valor, mas a condição necessária. O quinto mandamento desafia-nos à consciência e à prática permanente da inclusão.
6º - As mãos parecem quase florescer quando se abrem. Os braços como que se alongam quando partem para um abraço. O pão multiplica-se quando aceita ser repartido. A gramática da Vida é a condivisão. Esse é o mandamento sexto.
7º - O sétimo mandamento resume todos os outros, pois lembra-nos o dever (ou melhor, o poder) da esperança. A esperança reanima e revitaliza. A esperança vence o descrédito que se abate sobre o Homem. A esperança insufla de Espírito o presente da história. Só a esperança, e uma Esperança Maior, faz justiça à Vida.”
José Tolentino Mendonça

"A GRAMÁTICA DA VIDA É A CONDIVISÃO "