Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

29 de abril de 2011

Pedofilia



Felizmente, o abuso sexual de crianças está a deixar de ser um tema tabu, algo menorizado. Antigamente, escondia-se essa realidade, tanto por vergonha, como pela crença de que o que se passava na infância era rapidamente esquecido. Hoje, sabemos que não é assim, vivências traumáticas deixam marcas, martirizam-nos durante uma vida inteira.

A questão que muito pais se põem é: qual a melhor maneira de protegermos os nossos filhos? Uma vigilância 24 horas por dia, só não é possível, como não aconselhável. Uma criança super-protegida é uma criança/jovem medrosa/o, com dificuldades de encontrar o seu caminho na vida. Mas como preparar as crianças para certas situações, sem lhes meter medo?




O melhor é alimentar a sua auto-estima, contribuir para um espírito forte e decidido, mostrar-lhes que, como qualquer ser humano, elas têm fronteiras que merecem ser respeitadas. Têm-se feito seminários, nas escolas alemãs do ensino básico, e todos passam por certos princípios que as crianças devem assimilar. Dizer-lhes, por exemplo:

- O teu corpo pertence-te só a ti!
- Os teus sentimentos são importantes!
- Há toques e festas que são agradáveis, outros desagradáveis. Tu tens o direito de dizer não!
- Há segredos bons, mas também há segredos maus. Procura ajuda e fala sobre o que te atormenta!

Muitas vezes, frases deste tipo são inseridas em canções, que se ensinam às crianças, para que decorem e interiorizem estes conceitos mais facilmente (principalmente, "tenho o direito de dizer não").





Infelizmente, constata-se o uso frequente de frases do tipo:

- O menino não tem querer!
- Eu é que decido o que é melhor para ti!
- Não sejas malcriado com o/a senhor/a que te quer fazer uma festa/dar um beijinho!
- Não sejas respondono/a!
- Não queres? Não gostas? Ai a formiga já tem catarro!

Frases destas são muito contraproducentes. Se a criança não quer dar beijinho, porque há-de ser obrigada a dar? Se não se sente bem ao lado de determinada pessoa, porque há-de ser obrigada a ficar lá? Para não deixar mal os pais? Para não ter fama de mal-criada? Tudo crenças prejudiciais! Os pais/educadores devem, acima de tudo, agir de acordo com os interesses/necessidades dos seus filhos e, não, preocupar-se em deixar nos outros boa ou má impressão. Devem-se levar a sério os sentimentos infantis, aproveitar a sua franqueza. As crianças que não estão habituadas a seguir os seus sentimentos e as suas vontades, até mesmo a sua intuição, crianças que não são respeitadas, são incapazes de dizer não e de estabelecer as fronteiras, que salvaguardam a sua intimidade. Presas fáceis para pedófilos!




Se o pior aconteceu e a criança se abre com algum adulto da sua confiança, há regras básicas que devem ser seguidas. A primeira, é acreditar nela e assegurar-lhe que não lhe cabe qualquer culpa. Deve-se manter a calma e mostrar-lhe que pode confiar em nós, mas, ao mesmo tempo, não lhe fazer promessas que não se podem cumprir, por exemplo, não lhe prometer não contar nada a mais ninguém. Também não nos devemos precipitar, ao confrontar o pedófilo com os seus actos (que, muitas vezes, é um parente, ou conhecido). Além de os negar, dá-se o perigo de ele, tendo oportunidade, reforçar as ameaças que faz à vítima. O melhor, é ficar vigilante, em relação ao suspeito, e procurar ajuda profissional o mais depressa possível.

Nota: este texto é um resumo de vários artigos que li sobre o tema, baseados nos seminários que se fazem nas escolas. Um dos artigos foi publicado num jornal da Igreja Católica alemã.

6 comentários:

Miriam disse...

Gostei do que li, mas sobre este assunto que tanta atenção nos merece é muito complicado arranjar como que expressões já feitas que definam este estar atento.
Ainda que com cuidados, vigilância e mesmo dialogando com as crianças, o perigo espreita-nos, por vezes no andar de baixo, ou na família que sem nos passar pela cabeça, que corríamos perigos escolhemos para tomar conta dos nossos filhos.
É muito complicado fazer ou dar grandes receitas sobre este assunto. Quantas crianças e parece que as estatísticas não enganam, que os maiores perigos ocorrem ou no seio da família ou perto da criança, mesmo com aqueles em que confiámos.
Não sei dar receitas seja a quem fôr, mas posso dizer que já vivi de perto uma situação destas com alguém da minha família que apenas tinha 5 anos e ficava numa família depois do colégio até que eu chegásse do trabalho.
Talvez que ums das formas que mais ajudem é sermos capazes de desde muito pequeninos abrir o diálogo sobre todas as coisas, e sobretudo tentar falar sobre tudo de uma forma natural.
Mas mesmo assim podeis acreditar que não é fácil para a criança contar este ou aquele primeiro sintoma que sentem e que do outro lado pode ser sinal de perigo.
Apenas sei, que se não tivesse havido uma abertura ao diálogo sobre todos os assuntos e se não estivermos atentos sem deixar de ser naturais, talvez que a criança a que em refiro nunca tivésse sido capaz de contar, como naturalmente
contava os acontecimentos diários do colégio, e o resto, o final do dia em casa de gente, no mesmo prédio e nos quais confiei, era contado com a mesma liberdade, mesmo que a criança, fosse amedrontada e aconselhada a não contar. É deveras mau, passar por algo semelhante e por muito que se partilhe e acompanhe, é uma marca que fica para toda a vida.
Tenho receio de me alongar, e é realmente difícil sabermos qual a resposta feita para cada problema e caso real vivido.
Não gosto de me recordar disto, mas falo a muitas pessoas, contando como caso verídico que conheço. È uma forma de alertar...

Bartolomeu disse...

As crianças são tesouros.
Tenho dois filhos, já homens. Quando nasceu o primeiro, coloquei duas imposições à minha mulher; não quero que ninguem beije o bébé, nem que façam mesuras em frente à cara dele!
Táu... assim de caretas!
Ela, ficou espantada e perguntou-me como iría dizer às pessoas, sobretudo de família para não beijarem o bébé.
Simples, respondi-lhe; dizes que o pai é um brutamontes e que deita a casa a baixo se souber ou vir que alguém beijou o miudo.
Ela ficou triste, mas acatou a minha decisão e eu notei os olhares estranhos e as "bocas" provocatórias da família, mas borrifei-me. Causa-me imenso desconforto, assistir àquelas situações em que as pessoas quase que tocam com a cara, na cara dos b´bés para lhes transmitir um carinho, lançando no auge da excitação, predigotos para cima da criança e mexendo-lhes com as mãos sujas sabe-se lá de que porcarias em que tocaram antes.
Bom, mas isso sou eu, que até posso ser considerado paranoico nesses aspectos. Tou-me nas tintas, os filhos são meus e eu determino o que acho errado e não admito que lhes façam.
;)
Quanto àquilo que é a matéria do teu texto, Cristina, acho muito bem, acima de tudo, que os pais sejam capazes de criar com os filhos, uma relação forte de confiança e de apoio, falando-lhes sempre abertamente e o mais possível evitando tabus.

antonio ganhão disse...

Qual é o professor que se vai meter numa denúncia destas? Se nem nos casos de bulling se metem?

Ou, por outras palavras, quantas denúncias saíram das escolas?

Cristina Torrão disse...

Obrigada pela vossa participação, sei que este é um assunto difícil de comentar. E é claro que não há "receitas" seguras, o perigo existe sempre e uma criança é sempre mais fraca do que um adulto. Apenas quis chamar a atenção para duas coisas que, felizmente, hoje em dia já são mais frequentes na educação das crianças:

- direito a dizer "não". Eu ainda sou do tempo em que uma criança não podia dizer "não", era logo malcriada. Os desejos e as opiniões das crianças não eram respeitados e, com o tempo, acabávamos por aprender a ignorar aquilo do que gostávamos, ou não. Deixávamos outros decidirem por nós, mesmo depois de nos tornarmos adultos.

- respeitar fronteiras. Todos sabemos que os adultos antigamente se achavam no direito de fazer à criança aquilo que lhes apetecesse: dar beijos, abraçar, fazer festas. Claro que as crianças precisam de carinho e não devem ter medo do contacto. Mas, como não nos pomos a beijocar e a fazer festas a um adulto que acabámos de conhecer, também não o devemos fazer com uma criança.

Cristina Torrão disse...

P.S. A abertura ao diálogo, sobre todos os assuntos, referida pela Miriam, é importantíssima. E, sim, mesmo que façamos tudo correcto, em caso de alarme, a marca fica, sem dúvida. A única coisa que se pode fazer é tentar atenuar as consequências do trauma.

Ignorar (mesmo que se desconfie) é que é mesmo a pior coisa a fazer.

George Sand disse...

É um tema muito importante. Com a linguagem apropriada a cada idade, mas começando pela da privacidade, pode ser muito útil para proteger as nossas crianças