Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

30 de julho de 2011

Filhos

Não tendo filhos, vejo-me sempre numa posição um pouco complicada, quando quero dar a minha opinião sobre crianças, ou questões de educação. Por isso, deixo falar a Zélia Parreira, mãe de três filhos. A propósito das notícias de maus tratos que algumas amas infligiam às crianças a seu cargo, a Zélia escreveu um post que devia pôr muita gente a pensar:

Porque razão temos filhos?

Porque razão insistimos em trazer vidas a este planeta das quais não somos capazes de cuidar?

Porque razão as despejamos nas escolas, nas creches e em amas de madrugada e só voltamos já de noite?

Porque razão não estamos disponíveis para perceber que os nossos filhos estão tristes, acabrunhados, violentados?

Porque razão nós, seres imperfeitos e manifestamente incapazes de lidar com a realidade que vivemos, permanentemente afogados em mágoas e reclamações sobre tudo e sobre todos, insistimos em acreditar que os nossos filhos vão ser seres lindos e perfeitos, sempre lavados e penteados, sempre bem-comportados à mesa, que nunca vão chorar para não incomodar, que nunca vão fazer asneiras, que nunca vão ter problemas, nem angústias, que nunca vão ser infelizes?

Porque razão insistimos em ter filhos se depois permitimos que isto lhes aconteça mesmo debaixo dos nossos olhos e ainda insistimos em negar para não assumirmos que falhámos, que estivemos distraídos, que não vimos os sinais, que não soubemos ser bons pais?

Só uma das partes é inocente, tanto nesta história como nas outras histórias de crianças e jovens perdidos na vida, entregues ao abandono e à violência que têm vindo a público. São eles, as crianças e os jovens, e no entanto, são os únicos que foram punidos. De resto - as amas, os pais das crianças, os professores e todos nós, que construímos esta sociedade onde só o superficial importa - somos todos culpados. Que ninguém se atreva a lavar as mãos como Pilatos.

5 comentários:

Zélia Parreira disse...

Oh Cristina, há coincidências... Estou a escrever um posto sobre a feira medieval em Santa Maria da Feira e o teu livro, e quando vim fazer o link para te identificar, vi aqui o meu texto!

Um grande abraço, obrigada!

Bartolomeu disse...

A questão tem origem na... origem!
Não, sosseguem. Não me vou pôr para aqui a escrever sobre o ovo e a galinha e qual dos dois surgiu primeiro. Não.
Mas é necessários remontarmos à origem, à ancestralidade, para que consigamos entender o "fenómeno" e depois então, regressar à equação,nos nossos dias.
Isto parte tudo de um acordo entre a natureza e o Homem.
No início o homem caçava, perseguia as manadas que se deslocavam em busca de pastagens. No mesmo início, devido a múltiplos factores, o homem em geral não permanecia vivo, mais de uns míseros 40 anos, mas, por volta dos trintas, já era velho e começava a deixar de poder caçar, logo... a não garantir o seu sustento. Foi aí que o Homem se queixou à natureza e lhe disse; tou tramado, pá. Cada ano que passa, noto que mais dificuldade em correr atrás dos mamutes, dos javalis e das corsas, até um mísero coelho já me custa caçar... a minha Maria também já está toda afanada, cheia de dores nas cruzes, já não lhe apetece sair da lareira para ir apanhar umas nozes ou umas avelãs... parece-me que a partir de agora, vai ser mais difícil resistirmos aos invernos...
A natureza ouviu calada as queixas do Homem e decidiu: Olha pá, fazes o seguinte; voltas para a tua caverna, deitas-te ao lado da tua Maria e dás-lhe umas beijocas...
-Umas beijocas? Que raio de coisa é essa?
Xiça! Que grunho! Exclamou a natureza... Já vi que vou ter de te ensinar tudo, tin, tin, por tin, tin.
E pronto, a natureza fartou-se para ali de fazer desenhos e tal, mas o niandertal´lá consegui reter na memória os tópicos mais importantes e chegado à gruta, juntamente com a sua Maria, mais ou menos atabalhoadamente, fez o essencial para que nove meses depois, nascesse entre peles de urso e de coelho finamente curtidas, um latagão com três quilos, oitocentas e vinte e três gramas, que, ensinado pelo progenitor, aos 6 anos de idade, já caçava o suficiente para que o clã não morresse de fome.
A coisa predurou ao longo dos milénios, até aos nossos dias e só se veio a alterar porque o senhor Belmiro de Azevedo e o senhor Jerónimo Martins, se lembraram de denunciar o contrato que a natureza estabeleceu ha milénios, com o homem.
Mas isto ainda vai dar buraco, ai vai... vocês vão ver se não vai...
;)))

Cristina Torrão disse...

Então e Adão e Eva, Bartô? ;)

Bartolomeu disse...

Pois... esses não conheço, Cristina, mas já ouvi falar. Acho que foi um parzinho estranho com tendência para preverter regras, que viveram num condomínio de luxu, ali prós lados do paraíso. Mas aqui entre nós... segundo consta, o rapaz, nem com desenhos "lá ía". Parece que foi preciso a rapariga recorrer à ajuda de uma serpente e de uma maçã; coisa que só uns bons milénios se veio a repetir, com uma tal bela adormecida e um sapo que se transformou em príncipe depois de beijar a bela que tinha trincado a maçã... uma trapalhada, minha amiga. Mas olha, ninguem me consegue convençer que a culpa de tudo... é da cobra. A maçã é só para disfarçar. Topas?!
;))

Cristina Torrão disse...

:D