Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

25 de setembro de 2011

Instituto para a Zoologia Teológica

A Igreja Católica alemã ocupa-se de temas como a defesa do meio ambiente e os direitos dos animais, o que eu considero ser uma boa forma de reinvenção, de provar a sua utilidade na sociedade actual. No Jornal Católico do Bispado de Hildesheim, li um artigo sobre o Instituto para a Zoologia Teológica (Institut für Theologische Zoologie), em Münster. O seu símbolo é uma imagem medieval, representando São Jerónimo, na companhia de um leão.



Um dos fundadores deste Instituto é o Padre Dr. Rainer Hagencord, que, já depois de ter sido ordenado, tirou os cursos de Biologia e Filosofia, com foco na Biologia do Comportamento. Interessou-se pelo diálogo interdisciplinar entre Teologia e Biologia, precisamente o tema em que se doutorou, com uma tese intitulada: "O Animal: um desafio para a Antropologia cristã" (Das Tier: Eine Herausforderung für die christliche Anthropologie).

O Padre Dr. Rainer Hagencord é um defensor da inclusão de animais na psicoterapia humana, como aliás vem sendo prática na Alemanha. Dos golfinhos, aos cavalos e aos cães, todos eles ajudam seres humanos a superarem doenças psicológicas e/ou deficiências. Está provado, por exemplo, que, em contacto com os animais, as crianças criam auto-estima e confiança em si próprias e nos outros. Aliás, a ideia de usar animais em psicoterapia vem dos anos 60. O psicólogo infantil Boris M. Levinson constatou que conseguia "alcançar" melhor um dos seus pacientes, uma criança desprezada e extremamente introvertida, quando esta levava o seu cão para as consultas.

A vantagem dos animais, segundo o Padre Dr. Rainer Hagencord, é que o encontro entre um humano e um animal acontece sempre para além do plano racional. Um cão encara todas as pessoas com as mesmas amizade e despreocupação e desprovido de preconceitos, esteja a pessoa doente, mal lavada e vestida, ou mesmo a babar-se. Porque o animal, através do contacto visual, reconhece a pessoa como um ser perante ele, como um "tu", nunca como uma "coisa", daí se poder estabelecer desde logo uma relação entre os dois.

Mas o Padre Dr. Rainer Hagencord vai mais longe, para falar na questão da alma. Na sua opinião, todos os seres vivos, pessoa ou animal, são providos de alma. Diz ele que a alma é o mistério do outro, uma aura que estabelece proximidade e confiança. Na tradição europeia, os animais foram esquecidos. Descartes via neles autómatos desprovidos de alma e Kant considerava-os coisas. Na Bíblia, no entanto, dá-se um outro valor à relação entre o ser humano e o animal e, mesmo, entre Deus e o animal. Para Jesus Cristo, os pássaros servem de exemplo e de modelo às pessoas. Por isso, na opinião do Dr. Rainer Hagencord, do ponto de vista bíblico, pessoas e animais são almas tornadas vida, São Tomás de Aquino disse mesmo que os animais vivem numa grande proximidade a Deus.

O Instituto para a Zoologia Teológica esforça-se por restituir a dignidade aos animais e, claro, combate o consumo desenfreado de carne, tão característico da nossa época. Este Instituto é muito considerado pelos bispos alemães, o jornal católico acima referido já por duas vezes lhe deu grande destaque, dignificando a imagem dos animais no nosso mundo, criado por Deus.

Brevemente, falarei na psicoterapia com a ajuda de cavalos e de Barney, um cão labrador-retriever que apoia os professores numa escola alemã.

6 comentários:

antonio ganhão disse...

O perigo é o de classificarmos os animais em função da sua potencial interacção com o homem. Como se existissem animais de primeira e segunda categoria. Os animais mais nobres não se submetem ao dono humano, não se transformam em solícitas criaturas de companhia.

Cristina Torrão disse...

Sim, é verdade que há animais mais susceptíveis de estabelecerem relações com os humanos. Mesmo assim, eu não divido os animais em categorias, nem acho que haja uns mais nobres do que outros. Dou comigo a arranjar maneira de enxotar moscas ou vespas por uma janela, para não ter de as matar. E, muitas vezes, tolero uma aranha ou outra dentro de casa, que até são úteis, pois exterminam insectos (por uma questão de sobrevivência).

Bem, há o caso das ratazanas, pulgas, ou baratas, por exemplo, que, apesar de também serem criaturas de Deus, não gosto de as saber perto de mim...

No fundo, o que me é importante, é dar dignidade aos animais. São seres vivos e, não, coisas! Não se pode tratar um cão, ou um gato (nem mesmo uma vaca, ou um porco) como se fossem objectos. Eles têm sentimentos!

Cristina Torrão disse...

P.S. Vi ontem, no Canal Arte, um programa sobre um leão, aquele que é considerado o mais nobre dos animais, que estabeleceu uma relação incrível com dois humanos que o criaram. Hei-de falar nisso aqui ;)

Bartolomeu disse...

É verdade Cristina, os animais podem fazer com que os humanos, vivam emoções muito fortes, quer positivas, como violentas. como por exemplo, quando aqueles que deles são adeptos, se defrontam.
Estou a lembrar-me por exemplo de quando se defrontam dragões, águias e leões, com especial simpatia pela vitória das águias ou... pelas águias vitória!
;)))

Cristina Torrão disse...

Sim, os animais também se tornaram símbolos de outras coisas, alheias a eles. Mas isso só prova a importância que têm na nossa vida.

Além disso, focas uma questão importante, Bartolomeu: que os efeitos e emoções que eles nos provocam nem sempre são positivos. Inteiramente de acordo. A vida animal pode ser muito violenta e não se rege pelos nossos dogmas e pressupostos. Mas isso não é razão para que não sejam respeitados. Nós também já fomos assim.

Sou de opinião de que qualquer ser vivo deve ser respeitado. Pelo simples facto de existir. Mesmo um animal que sirva para a nossa alimentação tem direito à sua dignidade, enquanto vive.

Bartolomeu disse...

Inteiramente de acordo, Cristina.
Eu, sou também defensor da interacção Homem/animal. A tal ponto, que não utilizo uma grama de pesticida, fertilizante, desinfestante, ou outra coisa qualquer, no meu terreno, onde habito.
No relvado, podemos ver alguns círculos de caganitas de coelho que fazem os meus visitantes fransir o nariz e proclamar com toda a certeza «se fosse eu, punha aqui um produto qualquer que os extreminasse». Riu-me e contraponho; e depois? como é que via os coelhinhos a correr de um lado para o outro, enquanto tomo o pequeno almoço? É quando engasgam!
Então, o truque consiste em utilizar a inteligência que nos distingue e faço o seguinte: quando semeio, ou planto, faço-o sempre a contar com os coelhos e os pássaros. Depois, basta andar a "pau-com-a-escrita" e assim que as coisas estão prontas para colher; não me atraso.
E assim... vivemos todos felizes e em prefeita harmonia.
Não ha nada mais simples e mais ecológico!
;)))