Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

5 de fevereiro de 2012

A ode ao cheiro do papel

«Resistir à tecnologia parece ser uma obrigação entre aqueles que têm mais ligações aos livros e às livrarias. Um dos argumentos frequentes é o cheiro do papel. Falta na literatura portuguesa uma ode ao cheiro do papel.»
Palavras do escritor José Luís Peixoto, publicadas na Time Out e citadas no número de Janeiro da Os Meus Livros.

Confesso que gostei de ler estas palavras. Também eu já estou farta desse argumento do "cheiro do papel", para defender o livro convencional em relação ao electrónico. Não digo que não tenha a sua razão de ser. O problema é que, de repente, toda a gente gosta de cheirar o papel dos livros, até o faz quem nunca lê. Basta dizer-se que se adora o cheiro do papel, para se ser olhado com respeito, considerado um literato.

Apetece-me usar aquela expressão de "crescem como cogumelos", a que, por acaso, os alemães dão outra graça, porque dizem algo como "disparam da terra como cogumelos" (schießen wie Pilze aus dem Boden). Talvez fosse uma boa maneira de iniciar a tal ode ao papel:

Disparam da terra como cogumelos,
aqueles que se deliciam com o cheiro do papel.

P.S. Isto não tem nada a ver contigo, fallorca, nem com o teu excelente blogue. Aliás, fala-se em "cheiro do papel" e, não, em Cheiro dos Livros. E os teus livros "sabem ao cheiro do café" ;-)

7 comentários:

Olinda Melo disse...

Interessante este incentivo a uma 'ode ao cheiro do papel', género irónico/sarcástico.

:)

Eu vou mais para o manuseamento,a qualidade da edição, o ano, o nº, a capa, a contracapa, as dimensões, a editora,etc. e depois a leitura, o folhear, tudo o que tem a ver com o tacto e a seguir a compreensão da trama ou da tese. É uma questão de hábito...

Mas não desdenho de um bom texto em suporte tecnológico, aliás, leio amiúde sob essa forma.

Bj

Olinda

Cristina Torrão disse...

Olinda, o problema é que já há mais gente a cheirar do que a ler...

Carla M. Soares disse...

Confesso que adoro - mas sempre adorei - o cheiro de um livro novo e, curioso, o meu filho mais novo também o adora, já adorava antes de aprender a ler. Calro que veio a revelar-se um apreciador da leitura.
Posto isto, não me incomoda nada a tecnologia, leio no PC sem desconforto e há muito que desejo um Kindle. Não vou é deixar de comprar livros.
A apologia do "cheiro do Papel" pelos que não são leitores parece-me uma forma de saudosismo como outra qualquer, infelizmente uma carateristica que, a meu ver, tem impedido algum progresso por cá - somos um país estranho, com este misto de "anda-para-a-frente, segura-o-passado"...

Daniel Santos disse...

falando nisso, quando vieres cá temos de ir ao melhor museu do país, o museu do papel.

Cristina Torrão disse...

Vamos ver, Daniel :)

Bem, eu também gosto do cheiro do papel, principalmente, de livros e revistas. Talvez até nem seja o cheiro do papel propriamente dito, é mais o da impressão. O que eu queria criticar (e penso que José Luís Peixoto também) é esse facto de muita gente, que nunca lê, se pôr, agora, a fazer a apologia do cheiro do papel, apenas porque está na moda.

Bartolomeu disse...

Disparam da terra como cogumelos,
Aqueles que se deliciam com o cheiro do papel
Esquecidos talvez dos poemas mais belos
Lembrados somente da mercadoria a granel

Ou então, porque a memória lhes transporta
Da poeira do tempo arquivado, da aldeia
O sabor dos míscaros, que o paladar lhes exorta
De uma existência bucólica, que no éter ainda campeia

Disparam da terra como cogumelos...
Num desejo infernal de busca, de procura
Tentando manter com a vida, desesperados elos
Encontrando nas palavras alheias, motivos de ternura.

;))

A mim, agrada-me sobretudo o cheiro de alguns livros velhos.
Por vezes, o cheiro novo de tipografia, é-me de certo modo desagradável ao olfacto.
Não é o caso dos teus livros, Cristina, talvez porque o papel das páginas não é brilhante e porque o traço da letra é fino. Penso que o cheiro a que me refiro, é mais agressivo, no caso dos livros impressos em papel com mais brilho e letra que utiliza mais tinta.
Portanto, posso resumir afirmando que os teus livros são bem escritos, e bem impressos!

Cristina Torrão disse...

Obrigada, Bartolomeu, o teu comentário é um espanto ;)