Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

13 de maio de 2012

Pré-publicação #8


Embrenhou-se na serra, correndo sem parar, com a trouxa na mão. Não fugia apenas do mosteiro. Fugia também do turbilhão de sentimentos que alastrava no interior do seu peito, como o vinho de um cálice tombado numa toalha de linho. Fugia, como se o virar das costas à mancha negasse a sua existência.
Mesmo quando já sentia falta de ar e as pernas lhe doíam, ela continuou a galgar os caminhos íngremes da serra.
Chegou ao moinho de rastos e deixou-se cair no chão, a respirar às golfadas.
Não deu conta de se acalmar. A certa altura, tomou consciência do frio, dos pés gelados, sem saber há quanto tempo ali se encontrava. Rastejou até ao canto das mantas e assim ficou, tolhida, sem expressar qualquer reação. Ignorava fome e sede, ignorava tudo o que significasse vida, esse albergue de sensações e pensamentos que a aterrorizavam.
Só ao escurecer foi acordando daquele transe, que ia, enfim, sendo perfurado pelos espinhos da dor.

2 comentários:

George Sand disse...

De vez em quando temos mesmo que fugir...e galgar a dor.

Cristina Torrão disse...

Verdade, George Sand.