Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

16 de dezembro de 2012

As Virgens Suicidas


É um bom filme. Mas fiquei um pouco desiludida, porque julgava que era melhor. Não só por a realizadora ser Sofia Coppola, mas também porque as críticas que tinha lido lhe eram muito favoráveis.

O enredo anda à volta da família americana Lisbon (terá o nome a ver com a religiosidade exacerbada?). Profundamente católicos, os pais (principalmente, a mãe) condenam as suas cinco filhas a um isolamento total. Depois do suicídio da mais nova, com apenas treze anos, resolvem abrir-se ao mundo, a conselho de um psiquiatra. No entanto, como todas as tentativas "contra-natura" de mudar um estilo de vida, também esta se revela desajeitada e artificial, ou seja, é pior a emenda do que o soneto: as restante quatro filhas acabam por se suicidarem todas no mesmo dia, embora cada uma use o seu próprio método.

O filme não mostra apenas a desagregação da família Lisbon, mas também a vida deprimente e artificial de um subúrbio de classe média nos anos 1970. E aí é que está, na minha opinião, o problema deste filme, patente num pequeno promenor, logo no início. Depois da primeira tentativa de suicídio da mais nova, começa o falatório dos vizinhos, especulando sobre as razões da ocorrência. Mas eles são caracterizados com tal ironia, que eu não levei a sério o rumor de que seria o isolamento da jovem a causa do seu desespero. Esta ideia perseguiu-me durante todo o filme, passei o tempo à procura de um outro motivo, o verdadeiro. Uma busca inglória, pois os vizinhos hipócritas e ignorantes tinham razão! Acho, por isso, que a realizadora não soube gerir esse pequeno promenor, que, como digo, influenciou toda a minha visão do filme.

Aliás, é tudo muito subtil, à semelhança do que faz o pai, Francis Ford Coppola, faltando, no entanto, o seu "toque de Midas". Só com muito esforço nos apercebemos de que a subjugação das filhas resulta do medo extremo da mãe de as perder, enquanto o pai navega pela vida, sem opinião nem iniciativa, como que ausente, sujeitando-se à regência da mulher. Trata-se de uma constelação catastrófica. E, como sempre, o medo exagerado acaba por gerar a situação temida: a mãe perde todas as suas filhas, para sempre. Já agora, uma palavra para a atuação de Kathleen Turner, que desempenha o seu papel numa perfeição que chega a ser assustadora. Outra coisa não seria, aliás, de esperar, de tão excelente atriz.

Este filme foi baseado num romance de Jeffrey Eugenides, que não li, mas ponho a hipótese de ele conseguir transmitir melhor a mensagem do que Sofia Coppola. O filme não deixa de ser bom, mas, quando as expetativas são grandes...


8 comentários:

Imperatriz Sissi disse...

Sempre achei o filme um pouco estranho e subtil demais. É bonito de ver mas fica-se em branco quanto aos motivos...concordo que o livro talvez esclareça!

Cristina Torrão disse...

Acho que vou ler esse livro.

Vespinha disse...

Cristina, já leu Middlesex, do mesmo autor? Um excelente livro.

Clara Fernandes disse...

Nunca vi este filme. Ultimamente não consigo ter tempo - nem dinheiro, verdade seja dita, os bilhetes estão caros - para cinema e apenas vejo filmes que partilho com o meu filho pois ele gosta de ver acompanhado!

Cristina Torrão disse...

Este filme já é antigo, Clara, tem uns dez anos (ou mais). A minha escolha de filmes é também aleatória, não vejo obrigatoriamente os mais recentes, mas aqueles que me chamam a atenção, por qualquer motivo, Aqui, foi a realizadora.

Cristina Torrão disse...

Obrigada pela sugestão, Vespinha.

Rita disse...

Olá, também já vi esse filme e gostei bastante. É um filme à Sophia Copolla, :) A banda sonora marca muito bem o filme.
Eu vi-o online, existem muitos sites onde podemos ver gratuitamente filmes, e, até com legendas em PT-PT.

Cristina Torrão disse...

Também achei a banda sonora muito bem escolhida e aplicada. Do ponto de vista estético, o filme é muito bom, aproxima-se da obra-prima. Mas eu dou muita importância a certos aspetos do enredo e, aí, não fiquei plenamente satisfeita.