Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

9 de janeiro de 2013

Uma História de Baleias

No Canal Arte, no serão de sábado passado, foi transmitido um programa sobre a importância da caça à baleia para o desenvolvimento industrial e a criação do capitalismo, nos Estados Unidos da América.

Este programa televisivo deixou-me duas horas colada ao ecrã, por três razões:

1 - Mostrou, mais uma vez, que o ser humano é um animal muito irracional, em certas circunstâncias. Mesmo que o avisem das más consequências de certo ato, não consegue parar. Só o faz, ou quando a coisa descamba numa tragédia, ou quando se encontra outra fonte geradora de riqueza. E toca a explorar a nova até a tutano, sem olhar às consequências (sejam elas ambientais, ou provoquem elas sofrimento em outros humanos e/ou animais).

2 - Fiquei a saber que Moby Dick, a obra-prima da literatura de Herman Melville, foi, em parte, baseada num relato verídico. Melville entrou em contacto com o diário de um caçador de baleias, entretanto falecido, que sobrevivera ao naufrágio de um barco baleeiro, um veleiro de três mastros, à volta de 1820, quando este foi atacado por uma baleia. O insólito, no caso, foi precisamente o ataque da baleia, sem que esta estivesse ferida, ou a ser perseguida pelos caçadores. A tripulação conseguiu salvar-se em três pequenas baleeiras a remos (que serviam também de salva-vidas). Vaguearam pelo Oceano Pacífico durante três meses, sobrando cinco sobreviventes, porque se foram alimentando dos colegas que iam morrendo. O mais trágico no meio disto tudo é que eles se aventuraram numa viagem de cerca de cinco mil quilómetros, até à costa do Chile, recusando a hipótese de rumarem ao Tahiti, a menos de mil quilómetros do local do naufrágio, com medo dos canibais!

3 - Moby Dick, à altura da sua publicação, foi um flop de vendas, arrasado pela crítica. Melville nunca mais escreveu romances, dedicou-se à poesia, mas nunca teve êxito, caindo no esquecimento e morrendo, com 72 anos, anónimo. Histórias destas são muito românticas. Mas alguém pensa na tristeza e na frustração de um escritor que sabia ter escrito um grande livro, sem encontrar esse reconhecimento?

Todos sabemos que não é caso único. Valha-nos hoje em dia haver gente que entende muito de literatura e que reconhece um talento, assim que lhe põe os olhos em cima...

2 comentários:

Bartolomeu disse...

Apesar de todos os protocolos estabelecidos, os países continuam a fazer vista grossa a estes atentados à natureza, em nome da manutenção dos proveitos de uma classe que deles retira todo o lucro e nada lhes retribui.
E ainda ha quem se encrespe tanto contra os princípios politico-economico-sociais de Marx...

Cristina Torrão disse...

E se, em tempos, a caça à baleia ainda se justificava (embora não nas dimensões em que era feita), hoje, não há mesmo razão para tal "atividade"!