Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

27 de março de 2013

Naquele Tempo (16)


A velha tese do total desaparecimento da escravatura durante a Idade Média nunca teve grande sucesso entre nós. Os compêndios falavam nisso, mas os medievalistas sabiam que a escravatura se havia prolongado durante séculos, sobretudo em virtude das presas capturadas por ocasião da guerra com os muçulmanos. A obra clássica de Charles Verlinden, em 1995, mostrou mesmo que nos países mediterrânicos e concretamente em Portugal não chegou a haver um verdadeiro hiato entre a escravatura propriamente medieval e o comércio de negros capturados em África desde a primeira metade do século XV. O recente livro de divulgação de Jacques Heers, de 1981, já traduzido em português (1983), veio enquadrar todo o problema da escravatura medieval como uma característica do mundo mediterrânico, principalmente nos sectores urbanos, estudou as suas modalidades e a sua relação com o serviço doméstico e esboçou mesmo uma certa geografia da distribuição e dos circuitos comerciais.

(...) mesmo no Norte do país, em Aveiro e no Porto, se praticava a compra e venda de escravos, até de escravos brancos. Domingos Anes de Vilar era decerto um mercador especializado neste tipo de negócio, visto que adquire uma moura e vende pouco depois uma branca. Podemos alcançar uma ideia do seu preço no princípio do século XIV. Confirma-se, pois, o que Heers concluíra, ou seja, que a prática da escravatura se manteve, principalmente em meios urbanos e como complemento do serviço doméstico, englobando sobretudo o mundo feminino.

Páginas 379/380 - Comércio de escravos em Portugal no século XIV

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