Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

13 de março de 2013

O Primeiro Mandamento

Dita o Primeiro Mandamento: Amar a Deus sobre todas as coisas.

Mas como funciona isso, amar Deus, algo que não se pode explicar, algo que não é palpável, nem visível? Na nossa tradição católica, aprendemos que tal se atinge à custa de muitas rezas, muitas missas, muitas hóstias papadas e muitas promessas a Nossa Senhora de Fátima. Jeremias Müller, um monge beneditino alemão a viver no mosteiro austríaco de Admont, indica-nos cinco caminhos para encontrarmos Deus no nosso mundo palpável e o podermos amar.

1 - Mesmo não tendo sentimentos, a Natureza reage à nossa interferência, à maneira como a tratamos. A nossa relação com ela exige carinho e cuidado, tal como as relações que temos uns com os outros. E, sendo a Natureza obra de Deus, um caminho para O amar é, portanto, amar a Natureza e cooperar com ela (atrevo-me a acrescentar aqui os animais; apesar de Jeremias Müller não os referir, eles fazem parte da obra de Deus).

2 - «Eu só posso amar Deus, se me amar a mim próprio como ser humano e todos os outros com quem eu vivo», diz-nos Jeremias Müller. Aceitar-me a mim próprio e aos outros, respeitar e impor fronteiras, saber fazer e respeitar exigências, é, também, uma maneira de amar Deus.

3 - «O que pretende o ser humano, quando estuda e pesquisa», pergunta o monge beneditino e dá a sua opinião: «Ele pretende, apenas, entender a vida sob diferentes perspetivas, sobretudo o fenómeno que representa o próprio ser humano, seja através da Medicina, da Física, ou das Ciências Jurídicas. A Ciência é, por isso, o terceiro caminho para amar Deus. Ao descobrirmo-nos a nós próprios, descobrimos o Criador que está por trás. Neste terceiro caminho, Jeremias Müller inclui o amor pela Arte, que, no seu caso, se reflete no amor pelos livros. Amar um livro é amar a sabedoria do seu autor e, por consequência, Deus, a origem dessa sabedoria.

4 - O que, para uns, é Ciência, para outros é o trabalho manual, a profissão. Respeitar e admirar o trabalho do trolha, do pintor, do eletricista e do colocador de alcatifas, que vão criando uma casa confortável para as pessoas que lá viverão, é, também, uma maneira de sentir amor por Deus.

5 - Na sua última sugestão, o monge beneditino refere a sua própria rotina no mosteiro, à volta do pressuposto Ora et Labora, reza e trabalha. O quotidiano, marcado por várias celebrações do ofício divino, a horas certas, proporciona encontrar um ritmo onde se pode sentir Deus em todas as fases do dia.

Dispenso este último caminho, não pretendo tornar-me monja beneditina (embora respeite quem escolha essa via e ache que temos muito a aprender de quem leva uma vida de meditação e contemplação). Mas gosto de acreditar que o melhor caminho para Deus seja amar e respeitar a vida, em todas as suas formas e variações.

4 comentários:

Rita disse...

"Amai-vos uns aos outros como Eu vos Amei!" é um grande desafio

Cristina Torrão disse...

É verdade, Rita!
Mas, na minha opinião, apesar de termos essa mensagem sempre em mente, devemos ter um certo cuidado a aplicá-la. É que muita gente está totalmente distanciada dela e, se nos pomos a amar tudo e todos, a torto e a direito, acarretamos com muitos dissabores. Infelizmente :(
O que eu quero dizer é que devemos ter esse princípio de amar o próximo, mas, ao mesmo tempo, e sem prejudicar ninguém, também devemos marcar a nossa posição, sempre que necessário.

Bartolomeu disse...

Grandes ensinamentos nos transmite o monge Jeremias Müller.
Concordo inteiramente com ele, contigo e com a Rita.
Tenho também a convicção que o fundamental na nossa existência, é a relação com tudo aquilo que nos rodeia. Se conseguirmos esse equilíbrio entre nós e os nossos semelhantes e o meio envolvente, seremos certamente mais felizes e por conseguinte, estaremos a contribuir para o equilíbrio universal.
Só não concordo com a tua decisão de não quereres tornar-te monja.
Acho que nessa situação, aumentariam as condições para escreveres mais livros e, por conseguinte, aumentares a nossa satisfação.
Mas suspeito que a tua decisão, tem a ver com a proibição de cães dentro dos mosteiros, o que faria a infelicidade da tua cadelinha... e da dona.
;)

Cristina Torrão disse...

:D Acertaste em cheio, Bartolomeu.

Queria ainda acrescentar que acredito que nos devíamos amar uns ao outros (não sei se no meu comentário anterior dei a entender o contrário). Contudo, durante muito tempo, fui ingénua demais e pensava que, se mostrasse amar as pessoas, elas corresponderiam. Nem sempre é assim (ou raramente é assim) e devemos estar preparados para isso.
Amá-las, apesar disso? Isso, sim, o grande desafio, Rita, sem dúvida ;)