Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

15 de abril de 2013

Pré-Publicação #17



- Peca-se, quando se escolhe o caminho do mal. Mas como é, quando não se tem escolha?
- Que dizes?
- Imagina que vamos por uma estrada fora e que ela, num certo ponto, se divide em duas. Dizem-nos que a da direita leva a anos de sacrifício, mas, no fim, à salvação; a da esquerda leva-nos a anos de folia e prazeres, mas, no fim, à condenação. Pecamos, se nos deixarmos levar pela folia, escolhendo a da esquerda. Mas… E se não nos dão escolha? Se nos encaminham para uma estrada que nunca se bifurca e somos obrigados a percorrê-la até ao fim, seja ela qual for? Pecamos, mesmo que escolhêssemos outra, tendo essa oportunidade?
A moura olhava-a, agora, igualmente séria. Ela acrescentou:
- Nem D. Mafalda, uma donzela tão nobre, tem a possibilidade de escolher o rumo da sua vida. Às mulheres raramente dão a possibilidade de escolher. Temos de nos sujeitar àquilo que decidem por nós… Ou àquilo que nos fazem…
Apesar de os olhos da moura não poderem ser mais negros, ela viu perfeitamente como uma sombra de tristeza e sofrimento os perpassava.


6 comentários:

Bartolomeu disse...

in: "A Cruz de Esmeraldas"
;)

Anónimo disse...

Ainda hoje há tantas mulheres que não podem escolher o rumo da sua vida.
Nem ir á escola,porque não podem pensar.Li o livro "A Cruz de Esmeraldas" gostei e aconselho a lerem no.

Cristina Torrão disse...

Muito obrigada pelos vossos comentários, nomeadamente, pelo conselho de leitura ;)
Mas penso que há aqui uma pequena confusão. Embora, neste texto, haja uma protagonista moura, não se trata d'A Cruz de Esmeraldas, mas de algo ainda não publicado.

Bartolomeu disse...

Tens toda a razão Cristina. Estou a misturar alhos com bugalhos. É o que sucede quando depois se ler pela rama, se quer comentar aquilo que afinal se não leu.
;)

Manuel Joaquim Sousa disse...

"Apesar de os olhos da moura não poderem ser mais negros, ela viu perfeitamente como uma sombra de tristeza e sofrimento os perpassava." Que sensação teria ela nos dias de hoje? Teria ainda a possibilidade de escolher entre o caminho da direita e o da esquerda ou apenas teria um caminho sem qualquer bifurcação para que possa escolher?
Nos dias que correm as mulheres já têm possibilidade de escolher, mas tal apenas se sucede em algumas sociedades porque noutras, nem D. Mafalda poderia escolher o seu destino por mais nobre que fosse, entre os nobres dos nossos tempos.
A Moura ficaria com os olhos igualmente negros por saber que a sociedade, que se considera como livre e dona do seu destino, cria condutas para que aqueles que se querem considerar como aceites e marginaliza dos grupos aqueles que querem viver de forma alternativa.
A Moura estaria terrivelmente assustada se fosse confrontada com a actualidade onde por entre tanta evolução existe tanto retrocesso.

Cristina Torrão disse...

Bem visto, Manuel Joaquim, é verdade que, hoje em dia, as mulheres ainda estão longe de poder escolher com a mesma liberdade dos homens (ou, se, em teoria, o podem fazer, as suas escolhas estão longe de ser aceites). Nalgumas sociedades, isso é óbvio, mas, também na nossa, há ainda muita repressão "disfarçada".
Por acaso, iniciarei em breve uma série de posts sobre o papel das mulheres na Bíblia, a partir de um excelente documentário que vi no canal alemão ZDF.
Obrigada pelo seu excelente comentário :)