Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

16 de maio de 2013

Divagações Abrilinas (7)




Não obstante E Depois do Adeus ser considerada uma balada inofensiva, os seus versos encerram muito do espírito do 25 de Abril. Provocaram celeuma em lares familiares, ao referirem uma intimidade entre homem e mulher só aceite dentro do casamento religioso, o único aceite em sociedade e que era indissolúvel, perdurava até à morte de um dos cônjuges.
Mas o parzinho da canção, depois de ter partilhado cama e mesa (principalmente, cama) separava-se, ia cada um para seu lado! Mentes bloqueadas por doses maciças de convenções e preconceitos entravam em curto-circuito.
Depreende-se que a mulher teria abalado, ou seja, a iniciativa de acabar com a relação teria sido dela, enquanto ele reconhece:

Tu te deste em amor
            Eu nada te dei.

Estará aqui implícita a ideia de que a mulher já não se contentava em poder dizer que tinha um marido? Que se atrevia a exigir algo em troca? Empenho, interesse, paixão, quiçá, satisfação sexual… Ideias bem revolucionárias, no Portugal ainda salazarista!






2 comentários:

Bartolomeu disse...

E hoje, Cristina?
Muito mudou social e profissionalmente para as mulheres, é verdade mas, continuamos a uma distância imensa de um suposto ponto que já deveríamos ter atingido hà muito.
No nosso país parece que o que não presta ganha raízes tão fortes, que tornam titânico qualquer esforço para as mudar.
O mais estranho sucede quando olhamos para as gerações mais jóvens e verificamos que a mulher, apesar de aceite nos grupos sociais com maior naturalidade, continua a ser discriminada, ofendida e vítima de maus tratos.
Na zona onde habito, apesar da proximidade à capital, é no entanto iminentemente rural, mas dispõe de meios adequados para o ensino, actividades de lazer e convívio. Aqui, verifica-se um nº bastante significativo de jóvens que ainda a estudar, começam a namorar, passando a viver juntos e, os casos de violência doméstica são inúmeros.
Algo incrivelmente incompreensível.

Cristina Torrão disse...

É verdade, Bartolomeu. Ainda bem que referes este assunto. A sociedade atual, aparentemente igualitária, está longe de o ser. Em vez de consideradas ao mesmo nível, as mulheres são, apenas, toleradas, com as suas exigências, ou seja, continua a atitude paternalista. Esta atitude tem as suas vantagens, pois os homens têm a tendência para (ou sentem a obrigação de) proteger as mulheres. Mas a que preço, pergunto eu, já que isso lhes dá, ao mesmo tempo, legitmidade para pôr e dispôr.
Numa sociedade com grandes problemas, como é agora o caso português, há tendência para aumentar a violência.

Dizem os entendidos que os jovens tendem a repetir aquilo que aprenderam em casa. Será?