Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

4 de junho de 2013

Cristo e as Mulheres Desaparecidas (6)


Júnia

O título desta série aplica-se literalmente a esta mulher, cujo papel a Igreja não se limitou a menorizar. Júnia desapareceu, de facto, da Bíblia, durante vários séculos!
Na sua carta aos romanos, São Paulo saúda dois apóstolos importantes, Andrónico e Júnia, um casal missionário: «Cumprimentos também a Andrónico e a Júnia, meus compatriotas e companheiros de prisão. Eles são bem conhecidos entre os apóstolos e tornaram-se fiéis de Cristo ainda antes de mim», Rm 16:7.

Esta passagem tem provocado problemas de tradução. «Conhecidos entre os apóstolos» (noutra versão: «os quais se distinguiram entre os apóstolos») pode não querer dizer que os dois igualmente o fossem, mas a maioria dos teólogos, hoje em dia, é de opinião de que São Paulo os considerava apóstolos (tanto o homem, como a mulher). João Crisóstomo, um dos Pais da Igreja, arcebispo de Constantinopla (fins do século IV e início do V), afirmou: quão importante seria esta mulher, para ser considerada apóstolo/a por São Paulo!

E, no entanto, Júnia foi, durante séculos, transformada num homem! Egídio de Roma, um estudioso da Bíblia da época medieval (1243-1316), corrigiu o nome para Júnias, a versão masculina, sem fundamentar essa sua opção. Hoje pensa-se que o facto de Júnia ser a única mulher nomeada «apóstolo» no Novo Testamento confundia a mentalidade medieval. Dois séculos mais tarde, Jacques LeFevre, um teólogo francês, deu continuidade à versão masculina, assim como Martinho Lutero, pelo que ela se manteve até aos anos setenta do século XX!

A diferença entre os dois nomes, no grego, é muito subtil, apenas uma questão de acento: Ἰουνίαν, Júnia (nome feminino), ou Ἰουνιᾶν, Júnias (nome masculino). Mas tudo leva a crer que se tratava de um casal (Andrónico e Júnia). São Paulo saúda vários casais nessa mesma carta. E o teólogo Hans-Gebhard Bethge, Professor do Novo Testamento na Universidade Humboldt de Berlim, lembra que, nos primeiros anos do Cristianismo, não havia igrejas e os cristãos se reuniam em casas particulares, onde celebravam a eucaristia, tendo, como cicerone, normalmente, um casal.

Nota: os posts desta série são baseados num documentário da ZDF.


4 comentários:

Bartolomeu disse...

A ZDF anda a tentar provar à igreja que o dogma que dita a interdição do sacerdócio às mulheres, não se sustenta em nenhuma ordem divina?!
Acrescente-se então, uma brevíssima dúvida, talvez estribada na indumentária religiosa: os habitos religiosos e os paramentos eclesiásticos, tendem a ser largos, austeros e constituídos de uma só peça, por forma a não evidenciar, ou até a dissimular as formas corporais.
depreende-se um interesse forte, em que se tornem os sexos indistintos, apesar de essa tática, na prática, não funcionar.
Então; qual o interesse de Roma ividencia, em "apagar" a mulher da história eclesiástica?

Cristina Torrão disse...

Sim, Bartolomeu, no fundo, o objetivo deste documentário foi mesmo esse: em nenhuma parte do Novo Testamento se diz que o sacerdócio está reservado aos homens (ou que está proibido às mulheres).
Qual será o interesse de Roma? Pois, ainda estou para saber...

fallorca disse...

«Júnia desapareceu, de facto, da Bíblia, durante vários séculos!»
E ninguém se lembrou de a procurar em Pitões ;)

Cristina Torrão disse...

E se é minhota é de "pelo na venta" ;)