Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

7 de agosto de 2013

O síndrome "Shades of Grey" ou tanta luta para nada

A maneira como as mulheres são representadas em livros que surgiram na senda da série Shades of Grey é denunciada pela Sara, nos Desabafos Agridoces. Pondo de parte o tema do momento andar à volta do sexo e a suposta falta de qualidade literária dos livros em questão, a Sara, que nos dá vários links de sinopses de obras deste género, diz: é sempre a mesma treta: mulher virgem e inexperiente que se submete a um tipo, invariavelmente, possessivo e ciumento. E acrescenta: inacreditável que se continue a querer que as mulheres sejam caladinhas, virgens e totalmente obedientes.

O caso torna-se mais insólito por as autoras de tais livros serem mulheres! Depois de tantas batalhas ganhas, a fim de nos livrarmos do estatuto de pessoas menores (que nem sequer podiam votar), como se chega a uma moda destas? Gostarão, de facto, as mulheres de serem subjugadas pelos homens?

Na minha opinião (e como referi no meu comentário ao post da Sara), a luta das feministas andou mais depressa do que as mentalidades, que, contaminadas pela educação de séculos, ainda não se adaptaram à mudança da legislação. Infelizmente, as meninas ainda são educadas para obedecerem, serem boazinhas e, no fundo, se sujeitarem aos homens. É só comparar, em casais que têm um filho e uma filha, a diferença de trato que conferem a cada uma das crianças. Salvo exceções, é a menina que é iniciada nos trabalhos domésticos e ensinada a submeter-se à palavra do irmão, em caso de conflitos. A menina é bem vista quando aguenta adversidades com um sorriso; o menino é elogiado quando leva a sua avante.

Eu não defendo a igualdade dos sexos, eles são diferentes e é indiscutível que a Natureza concedeu a cada um deles funções distintas. Defendo, sim, a igualdade na diversidade, ou seja, as diferenças não podem servir de pretexto para que um dos sexos seja considerado superior (abaixo a veneração da força física! No quotidiano, há outros atributos que são tão, ou mais, importantes) e seja objeto de maior respeito, valor e consideração.

Todos nós sabemos que é dificílimo fugirmos àquilo que nos ensinaram em crianças. Entra-nos no subconsciente e é um caso sério. Passamos uma fase de rebeldia, na adolescência, mas, ao tornarmo-nos adultos, adotamos o retrato dos nossos pais. É só compararmos os nossos amigos e conhecidos (e, muitas vezes, nós próprios) com os pais: profissão, estilo de vida, vícios, hobbies, às vezes, até o número de filhos é igual.

Por isso, seria bom que as mães (principalmente) começassem a educar as suas filhas de maneira diferente, criando-lhes mais autonomia, autoestima e (muito importante) longe da crença de que só são amadas quando se sujeitam e satisfazem os caprichos dos homens!


2 comentários:

Imperatriz Sissi disse...

Cristina, falei sobre o tema (mais uma vez) no meu blog a propósito da "blurred lines" e acho que isso só tem uma justificação: as mulheres estão cansadas de tomar todas as iniciativas. Querem voltar a ser tímidas, a não assumir um papel despudorado que não está na sua natureza, a ter um homem que domine a situação na intimidade. Claro que livros (maus) como esses são hiperbólicos, mas o seu sucesso reflecte algo da realidade. O bom e velho "diverti-me, mas foi ele que me desencaminhou...". Salvo seja!

Sara disse...

É difícil fugir ao que nos ensinam desde pequeninos...Isso é bem verdade! Sei-o por experiência bem próxima...Mas também acredito na capacidade de as pessoas pensarem por si, não temos de cometer os mesmos erros do que os que nos precederam...Eu no meu caso sempre levei a melhor sobre o meu irmão como provam as nodoas negras que ele foi coleccionando...:) O problema é que este género de estereótipos são passados quase inconscientemente de tal maneira estão enraizados...Realmente não é fácil mudar mentalidades. E só cá em Portugal já morreram mais de uma dezena de mulheres vitimas de violência este ano...É arrepiante.

cumps