Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

14 de novembro de 2013

Ele está de volta


Este livro desiludiu-me um pouco, talvez porque as expectativas eram enormes. Tanto o meu marido, como um sobrinho (ambos alemães) se fartaram de o elogiar, depois de ouvirem a versão audiolivro. Ora, essa versão é lida pelo ator/humorista Cristoph Maria Herbst, que, na comédia Der Wixxer, uma paródia aos filmes policiais ingleses dos anos 60, encarna o papel de um butler, Alfons Hatler, numa clara alusão a Adolf Hitler.


Cristoph Maria Herbst é exímio a imitar os trejeitos e a voz do ditador, pelo que dá um toque especial ao audiolivro.

Optando pela versão ebook, faltou-me a voz e o carisma do ator. E contava com uma ironia mais mordaz e mais momentos hilariantes. Na verdade, encontrei momentos bastante aborrecidos, quando o Hitler, ressuscitado em 2011, começa a divagar, bem ao estilo de Mein Kampf, o que, aliás, não pude apreciar, por falta de conhecimento de causa.

O grande problema deste livro, na minha opinião, consiste em o autor Timur Vermes gerir mal o balanço que se propôs fazer entre a sátira ao ditador racista, por um lado, e à sociedade em que vivemos, por outro. A figura de Hitler é usada para ridicularizar a sociedade atual, pondo o leitor na bizarra situação de concordar com o ditador, o que não me caiu bem.

Em abono do autor diga-se que Hitler não é levado a sério e visto como uma figura cómica, um mero imitador. Por outro lado, que escolha tinha Timur Vermes? Não é todos os dias que se assiste a uma ressurreição, seria natural que as pessoas assim reagissem. Como humorista, Hitler consegue grande êxito num programa televisivo, embora as opiniões se dividam. Torna-se naquele estilo de ator que, ou se ama, ou se odeia.

O livro tem os seus bons momentos em críticas, de facto, mordazes. Hitler fica, por exemplo, abismado com a importância e a quantidade de programas de culinária na televisão. Adorei a sua perplexidade ao constatar a enorme reverência com que uma senhora convidada de um desses programas observa o cozinheiro na espantosa atividade de picar cebolas e pimentos. E a sua ida à festa da cerveja, em Munique (Oktoberfest), onde o jet-set alemão faz questão de se exibir, constitui igualmente um momento alto. Assim como a sua ida à sede do NPD, o partido neo-nazi alemão. O ditador fica escandalizado com a falta de prestígio, disciplina e organização naquele casebre mal amanhado, nos subúrbios de Berlim. Indignado por só lá encontrar um jovem imberbe, mal vestido e sem saber falar em condições (o típico skinhead), exige a presença do representante máximo do partido, ao qual dá um valente raspanete. Tudo fica registado em vídeo e a cena será responsável por um pico de audiências no seu programa.


Nota: li a versão alemã, pelo que nada posso dizer sobre a tradução portuguesa. Mas encontrei piadas que dificilmente serão entendidas pelo público português, pelo que me pergunto como o/a tradutor/a resolveu esse problema (não consegui saber o nome do/a tradutor/a, na página da editora não encontrei qualquer informação sobre o livro!).


3 comentários:

NLivros disse...

Olha, parece-me um livro interessante.
Vou pesquisar.

Anónimo disse...

Há muitas montanhas a parirem um rato.

ABC

Vespinha disse...

Eu gostei, ri-me bastante em algumas passagens e consegui rever a arrogância de Hitler noutras.