Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

26 de dezembro de 2013

Cena Natalícia



Houve uma tentativa de cantar É Natal, é Natal, mas não pegou, os homens e os três rapazes não estavam para aí virados. A avó, porém, recordou que o filho havia cantado o Silent Night num coro do liceu, um momento que nunca esquecera. E, a pedido dela, não obstante a desaprovação da tia Guiomar e da filha Clara, fez-se ouvir a voz grave e poderosa, mas desafinada, do tio Januário:

                        Siiiii-ilent Night

Os primos trocaram olhares. Se Clara se mostrava incomodada, o irmão Mário parecia encontrar-se literalmente sob tortura. A vontade de rir nos outros primos, porém, fê-lo descontrair-se um pouco.
Januário, com os seus olhos esbugalhados, expelia agora um ôôôôôô, que a Sandra não entendeu. Não fazia parte da canção que ela conhecia. Até que o tio completou a frase:

                        Ôôôôôô-ôly Night

Aquela maneira de ele pronunciar o Holy, sem o mínimo vestígio de um H expirado, provocou-lhe um ataque de riso muito forte e ela teve de tapar a boca com o guardanapo. Os rapazes estavam igualmente capazes de rebentar e também Clara esboçava um sorriso, embora a tia Guiomar continuasse de nariz torcido. Narciso e Carlos revelavam-se enfadados e Nelinha e Tininha quedavam-se sem qualquer expressão especial que pudesse revelar o que lhes ia na cabeça, assim como o avô, que se diria estar a dormir, não fossem os olhos abertos. Já a avó… A Sandra olhou para ela e pasmou: lágrimas de comoção caíam-lhe pelas faces.


2 comentários:

JoZé disse...

"sem o mínimo vestígio de um H expirado"
Bem português! ;)

Boas Festas, Cristina!

Cristina Torrão disse...

Viva, Exilado!
Agradeço e retribuo as Boas Festas :)