Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

5 de fevereiro de 2014

Silêncio e Paz


Nota: neste texto, uso o conceito de «paz» como antónimo de «ruído», não propriamente de «guerra».

O monge beneditino e líder espiritual Anselm Grün distingue entre «silêncio» e «paz» (uso esta tradução para distinguir os termos alemães Stille e Schweigen, embora se possam usar outras versões). O silêncio é algo que já existe, independentemente do que possamos fazer. Na natureza existe silêncio e também se pode entrar num edifício onde impere o silêncio. Mas esse silêncio só persiste se nos abstivermos de falar, ou seja, implica iniciativa própria. Assim funciona a paz, é necessário construí-la, temos de nos tornar ativos.

Anselm Grün parte do princípio de que só nos podemos libertar daquilo cuja existência admitimos. Daí, não ser saudável fazer de conta que o negativo na nossa vida não existe. Peguemos, como exemplo, numa emoção considerada altamente destrutiva: a inveja. Se eu me quiser libertar dela, tenho, primeiro, de admitir que sou invejoso. Só depois de me aceitar como sou, conseguirei a energia necessária para me distanciar desse pensamento. Para isso, não é imprescindível meditar no silêncio (embora ajude). Há outras estratégias, como fazer jogging concentrado nessa emoção destrutiva e, através do cansaço físico, libertar-se dela.

Admitir emoções destrutivas exige, porém, grande coragem. Por isso, há pessoas que receiam o silêncio, algumas entram mesmo em pânico. Anselm Grün diz que, no fundo, têm medo de descobrir que nunca viveram. E, no entanto, não há nada que mais desejem do que encontrar paz. Andam esgotadas, gastam toda a sua energia a recalcar tudo o que consideram destrutivo.

Segundo o beneditino, a paz interior é apreciar o facto de não ser obrigado a dizer nada. Silêncio e paz significam permitir-se apenas ser, existir.


2 comentários:

Daniel Santos disse...

excelente. Vou ver o link quem me leva ao perfil do senhor.

Cristina Torrão disse...

Daniel, o link não diz muito, mas é em inglês. De resto, só encontrei informações sobre este monge em alemão. E os seus livros também não devem estar traduzidos.