Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

3 de fevereiro de 2014

Silêncio



Neste nosso mundo apressado e barulhento, há muita gente à procura de silêncio. Na Alemanha, pode-se quase dizer que está na moda passar férias num convento (sim, também os há por aqui). Desligam-se os telemóveis, ipads, internet e passa-se o tempo a meditar e a passear pela natureza.

Mas basta isso para conseguirmos paz? E será a melhor estratégia esquecer os problemas, fazer de conta que eles não existem?

Muita gente segue uma linha estoica, a fim de criar uma espécie de resistência às dificuldades da vida, ignorando as emoções destrutivas. Wilhelm Vossenkuhl, um prestigiado professor de filosofia em Munique, com vários livros publicados, não vê vantagens nesta «estratégia da negação», como lhe chama, porque a pessoa gasta todo o seu tempo e a sua energia a recalcar o negativo. Cícero, por exemplo, terá tentado superar o desgosto pela morte da filha, alegando que o desagradável não é a morte em si, mas o pensar nela. Não pensando, ficamos imunes!

Anselm Grün, um monge beneditino, autor de vários livros sobre espiritualidade, acompanha pessoas que vão para o seu convento à procura de paz e, à semelhança de Wilhelm Vossenkuhl, não concorda com o estoicismo. Segundo ele, a alma só encontra o seu equilíbrio se admitir o negativo, pois só nos podemos libertar de algo que admitimos.

Para Anselm Grün, os conceitos de silêncio e sossego estão para além da mera ausência de ruídos, já que o mais importante é apaziguar o nosso interior. A uma senhora que lhe disse: «eu não posso ir para o meio do silêncio, sempre que o faço, sinto um vulcão a crescer dentro de mim», o beneditino respondeu: «deve gastar muita energia da sua vida a domar esse vulcão».

Sobre este tema e Anselm Grün continuarei no próximo post.


4 comentários:

Alice Alfazema disse...

Excelente tema, eu sinto necessidade do silêncio, no meu trabalho existem demasiados gritos, para mim o silêncio é hoje uma bênção, antes trabalhava com máquinas, havia muito mais barulho, mas eu não sentia essa necessidade de paz, talvez seja também porque as emoções se misturam com o barulho e com as pessoas, com as máquinas não existe interacção...

Tenho que reflectir melhor sobre isto.

Um abraço.

Daniel Santos disse...

O silencio deixa-me doido. prefiro o sossego.

Cristina Torrão disse...

Olá Alice, sim, é possível que o barulho de máquinas exerça em nós efeito diferente do barulho humano (qeustão, de facto, interessante). Sei que os professores, ou, de maneira geral, que as pessoas que trabalham com crianças necessitam muito de paz. Os meus pais, hoje reformados, eram os dois professores primários e ainda me lembro de a minha mãe nos pedir, em casa, que não gritássemos, ou falássemos alto. Depois de um dia de escola, ficava extremamente sensível a esse tipo de ruídos.
Mas também será bom considerar o aspeto da idade ;) Digo isto por experiência própria (e não sou assim tão velha ;) Tive uma altura em que frequentava muito as discotecas. Hoje em dia, não aguentaria nem um minuto, dava logo em doida ;)

Abraço.

Cristina Torrão disse...

Daniel, acho que vais gostar de ler o próximo post, a ver se tem a ver com isso que dizes ;)