Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

10 de março de 2014

Elogio das igrejas vazias

O texto é de Andreas Hüser, colaborador da KirchenZeitung. A tradução é minha (do alemão original):

Em que pensamos, ao ouvir a expressão «igrejas vazias»? Que cada vez menos pessoas vão à missa. «Igrejas vazias» é sinónimo de decadência.  Não poderiam estar as igrejas sempre cheias, como os estádios de futebol, os centros comerciais, as estações, os restaurantes de fast-food?

Felizmente existem igrejas vazias! Felizmente existem esses edifícios, no meio da cidade, que não são lojas, apartamentos, câmaras, repartições públicas. São igrejas.
As igrejas têm características especiais. As portas estão abertas. Não há campainhas, porteiros, controlos. Qualquer um pode entrar.  Em que outro sítio é assim?

Posso ficar o tempo que quiser. Não tenho de fazer nada. Na igreja, não há negócios para tratar, nem necessidade de fazer conversa. Posso ajoelhar-me, ou não, posso apenas estar lá. Em que outro sítio é assim?

Na igreja, há silêncio, o barulho da rua fica lá fora. Se alguém fala, fá-lo baixinho (espera-se). Só em algumas igrejas se ouve, pelos altifalantes, um órgão  a tocar baixo. É pena pelo sossego, pois, em que outro sítio é assim?

Na igreja, ninguém me incomoda. A probabilidade de que alguém nos dirija a palavra, nos atropele, empurre, ou que algo inesperado nos assuste, é ínfima. Não preciso de me justificar, se me rio, se choro, ou se simplesmente não faço nada. Em que outro sítio é assim?

A casa de Deus é também a minha casa. O dono desta casa não tem o hábito humano de se fechar nela. Quis morar entre as pessoas, convidá-las e ser convidado por elas. Ele está lá, mas numa presença silenciosa.

Quantos de nós já procuraram o sossego de uma igreja vazia para refletir, tomar decisões, sofrer, agradecer, ou apenas procurar a proximidade de Deus?

É de uma destas pessoas que fala a história contada por um padre parisiense. Havia um homem que ficava sentado no seu lugar, muito tempo depois de a missa ter acabado. Quedava-se tão compenetrado, que não dava para perceber se rezava ou sonhava. Um dia, o padre esperou que ele se levantasse e dirigiu-se-lhe, queria saber o que ali fazia. A resposta: «Limito-me a estar. Estou aqui e Deus vê-me. É essa a minha oração».


4 comentários:

Luís Henriques disse...

Muito interessante este post. Apesar de breve, tive de o ler várias vezes pois em poucas linhas diz o autor muita coisa, lançando muitas ideias sobre as quais se pode (deve) reflectir com calma.

É uma visão que me fazia falta na minha argumentação quando sou confrontado em conversa com esta "estatística" dos tempos modernos.

Talvez tenha interesse em visitar o meu blog: www.luiscfhenriques.com
Vou adicionar o seu ao blogroll

cumprimentos,
LH

Cristina Torrão disse...

É verdade, diz muito em poucas palavras ;)

Cristina Torrão disse...

O seu blog é interessante, sim. Adicionei-o ao blogroll dos blogs com História ;)

Cristina Torrão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.