Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

8 de agosto de 2014

Uma história de bicicletas

A Helena Araújo exprimiu a sua preocupação por o filho se atrever a percorrer Lisboa de bicicleta. Com razão, penso eu, pois em Portugal (salvo exceções) ainda não há boas condições para os ciclistas e os automobilistas também não estão sensiblizados para partilharem as ruas citadinas com a malta do pedal.

Recordei os tempos, no início dos anos 1990, em que o Horst, meu marido, tinha a estranha ideia de vencer as cidades portuguesas em cima de uma bicicleta. Nunca mais me esqueço de como ele atravancou o trânsito no tabuleiro superior da ponte de D. Luís, entre Porto e Gaia. Esse tabuleiro estava ainda aberto ao trânsito automóvel (hoje é só para o metro) e era um movimento descomunal, durante todo o dia. Quem conhece a ponte, sabe que tem apenas uma faixa em cada sentido. Eu vi o espetáculo do lado de Gaia, pois estava à espera do Horst. O que mais me intrigou é que não houve uma única buzinadela, apesar de os carros no sentido Porto-Gaia só circularem a uns 20 ou 30 km/h. Talvez tivessem achado piada ao alemão maluco...

Esta ideia do meu marido não durou muito, como seria de esperar. Em breve pôs de lado a bicicleta, que acabou por apodrecer por falta de uso e manutenção, comprada em Portugal de propósito para as suas estadias no nosso país. Mas o que o fez desistir não foi o perigo do trânsito, ou a impaciência dos automobilistas. Foram os gases tóxicos! Baforadas fortes de gases a entrar-lhe nos pulmões. Carros antigos ou mal afinados, sei lá. Talvez hoje seja diferente. Mas sempre que tinha de parar nuns semáforos, a arrancada fazia-se sempre no meio de uma núvem tóxica. Numa ocasião, parou nos semáforos junto à Câmara Municipal de Gaia, no sentido de quem sobe, com várias faixas de rodagem (hoje também é diferente) e, ao surgir o verde, ele viu-se impedido de arrancar porque esteve um momento sem ver nada, no meio dos gases poluentes.

Foi o golpe de misericórdia! Bicicleta? Só na Alemanha! Eu própria a uso mais do que o carro. E porque a nossa cadela é pequena demais para correr o tempo todo ao lado, arranjámos-lhe um atrelado. Ora vejam, que luxo!



16 comentários:

AprilSkies disse...

Delicioso o pópó da Lucy! Imagino-a com a cabeça fora da janela, as orelhas ao vento, e aquela expressão sorridente dos cães felizes. Entrou a Margarida, viu a fotografia, e exclamou - "è para a Lucy, não é? E ela não sai pela janela?"
O que eu me ri a imaginar o Horst, frente aos degenerados condutores tugas, a tentar civilizadamente atravessar a nossa bela ponte. Felizmente, os carros poluem um bocadito menos, e a nossa avenida está muito mais desafogada. Se o Horst quiser pedalar junto ao mar, já dispõe de uns bons km de ciclovias, mas no meio das gentes é preciso muito cuidado.
C

Cristina Torrão disse...

É verdade, muita coisa se modificou. Sabemos da existência das ciclovias junto à praia, mas ainda não as conhecemos. E a Avenida está muito melhor, para já não falar da zona junto à ponte, com o Jardim do Morro. Tudo sossegado, muito mais aprazível. Nos anos 80/90 era para lá uma confusão! Insuportável, principalmente, em horas de ponta. Eu morava ali bem perto e por vezes precisava quase de uma hora para chegar à Praça da Batalha!

Cristina Torrão disse...

P.S. A janela no atrelado não é aberta, tem uma redinha como as janelas das tendas de campismo. Como é escura, não se vê bem na fotografia. A Lucy não pode ter aberturas, num veículo destes! Em tudo se assemelha a uma tenda, também se abre e fecha com fechos "éclair". E ela, uma vez, conseguiu mesmo abrir um dos fechos em pleno andamento. Já estava meia de fora, quando eu, que vinha atrás, gritei ao Horst que parasse. Enfim, vocês sabem como ela é, põe-nos a cabeça em água...

Alice Alfazema disse...

Adorei o atrelado! Por cá muita coisa mudou, para melhor, apesar de haver ainda uma certa falta de senso, não só da parte dos condutores, mas também dos ciclistas. Na zona onde moro é frequente ver pessoas de bicicleta, principalmente homens, todos aperaltados, ciclistas à séria :)e existem algumas lojas da especialidade com últimos modelos de tudo, fato, bicicletas, acessórios...ao domingo é vê-los exibindo as novidades do momento em plena corrida (ou não) :)

Cristina Torrão disse...

Já é bom :) O movimento é sempre bom, nascemos para nos movimentarmos, não para estarmos quietos.
Mas seria melhor ver a bicicleta integrada no dia-a-dia, a ser usada no caminho para o emprego, para a escola, para as compras (pelo menos, certas compras). Para isso, faltam ciclovias nas cidades, senão é perigoso, principalmente para crianças.

paulofski disse...

Apesar de estarmos ainda bem atrás de outras sociedades europeias no que se refere ao uso da bicicleta, ver muitas pessoas que utilizam a bicicleta nas suas deslocações diárias passou a ser uma coisa rotineira, tanto aqui no Porto como em concelhos vizinhos, em Gaia e Matosinhos por exemplo. Há por cá muitos novos ciclistas, e ainda outros que já o eram mas que passaram a andar na cidade. Os ciclistas urbanos são em número cada vez maior. A sua presença alastra por todas as cidades portuguesas, mesmo nas mais sinuosas e inclinadas por colinas ou nas mais fustigadas pela pressão automobilística. Com as recentes alterações ao Código de Estrada, automobilistas e ciclistas passaram a estar equiparados, concedendo novos direitos e responsabilidades aos ciclistas, o que veio equilibrar um pouco a diferença.

Agora passamos na ponte Luiz I de bicicleta com toda a naturalidade, usufruindo e partilhando das mais belas vistas panorâmicas sobre o Douro com pessoas que caminham a pé ou vão de Metro. Parece-me razoável que uma cidade com menos carros, melhores transportes públicos e mais bicicletas será sempre mais aceitável, pelas óbvias razões ecológicas, económicas e de planeamento urbano. Os carros são mais frequentemente associados à poluição do ar, mas um outro tipo de poluição do carro, muitas vezes esquecido, é a poluição sonora. Embora sejam necessários os carros para a economia e mobilidade, é incontestável que os que estão a pé ou pedalam uma bicicleta, têm a liberdade de enfatizar o valor das bicicletas na redução da poluição do ar e dos malefícios do congestionamento das cidades.

Usando uma bicicleta para o transporte permite a liberdade de parar em qualquer lugar, sem se preocupar com estacionamento, e tornar o ambiente urbano mais natural. Tal como nós, os animais gostam das coisas naturais, como o vento, o sol e a chuva, em estreita proximidade com os seres humanos, como demonstra aqui o jovem com os seus animais (clica aqui para ver a foto).

Queira me desculpar o extenso comentário. Desejos de boas pedaladas :)

Cristina Torrão disse...

Muito obrigada pelo seu comentário, paulofski. E pelo link. Vou passar a seguir o seu blogue ;)

Adorei a foto. Posso publicá-la aqui? (Com informação sobre a sua autoria, claro).

Cristina Torrão disse...

Adoro a maneira como os seus cães andam nesse atrelado. Tão bem comportadinhos :) A minha Lucy não se segurava, é uma maluca!

paulofski disse...

Claro que sim, pode publicar a foto à vontade. Esse instantâneo que captei há uns tempos, refastelado num dos bancos do jardim, foi inusitado pelo "à vontade" com que os cães seguiam no reboque. Não são meus os cães, nem conheço o jovem, apenas me chamaram a atenção pelo facto se seguirem na bicicleta.

Cristina Torrão disse...

Ah, ainda bem que esclareceu, obrigada, tinha entendido mal. Lá para o fim da semana publico :)

Luís Bonito disse...

Olá Cristina!
Quando as minhas sobrinhas cá estiveram há 3 anos a mais pequena ainda não sabia andar de bicicleta e resolvi comprar um atrelado igual, ou pelo menos parecido com o seu. Encontrei uma vizinha que me vendeu um usado por 25 Euros, tinha afixado o anúncio no supermercado do bairro e foi fácil fechar o negócio. Depois desmontei-o e guardei-o.
Já abordei também no blogue por várias vezes o tema das bicicletas e em como é fácil na Alemanha a vida dos ciclistas. Os piores elemento de bloqueio são os mentais :-)
Cristina, já há uma eternidade que lhe queria agradecer a amabilidade em seguir e comentar no meu blogue. O meu muito obrigado :-)
Saudações

Cristina Torrão disse...

Olá Luis!
Sim, eu gosto de ser ciclista na Alemanha. Mas tenho ouvido dizer que as condições na Dinamarca e na Holanda são ainda melhores. Pelo que eu conheço da Holanda (pouco), confirmo.
Tenho seguido o seu blogue, sim, gosto muito, mesmo quando não comento. Obrigada pela visita :-)

Luís Bonito disse...

Aqui na Frísia ainda é melhor do que na Holanda :-) Em 2012 Leer foi considerada a cidade mais amiga das bicicletas deste Estado(„Fahrradfreundlichste Stadt Niedersachsens“). Mas eu, habituado à pacatez da vila, quando vou a Leer já fico um bocado nervoso :-)
Como não aderi ao Google + não consigo enviar-lhe mensagens de outro modo. Se desejar disponha sempre, é bom poder trocar pontos de vista e experiências de vida noutro país :-) O meu email está no blogue.
Fiquei com a ideia que estará em Stade, ou perto da cidade; há umas semanas estive em Stade e tenho uns postais para fazer sobre essa visita.
Cumprimentos mais uma vez

Cristina Torrão disse...

Estive em Leer e noutras cidades da Frísia há quase dez anos, a única vez, em férias, embora não more longe: sim, em Stade.
A próxima vez que cá vier, tem de me avisar ;-) O meu mail também está aqui na barra lateral: andancas@t-online.de
Fico à espera desses postais :-)

Unknown disse...

Cristinamiga

Pela primeira vez venho por cá e como diria o almirante Tomás desde a última esta é a primeira...

E o culpado é o Luisamigo Bonito, onde no blogue dele te encontrei. E mais as bicicletas.

Sou do tempo (estou mesmo velho... rrrsss) em que a Volta a Portugal terminava em Lisboa e as últimas e duras pedaladas eram para subir a calçada de Carriche.

Agora, e como muito bem dizes, bicicletar (gosto de inventar palavras) não apenas na Alemanha; na Holanda, na Bélgica, na Finlândia, na Noruega e por aí fora também se pedala.

Agora, cá pelo burgo, já há algumas faixas só para pedaladores (ver nota anterior) & afins. No Guincho é só dar às canelas.

E por aqui ficaria, não fora o caso de ter em trabalhos de parto, o meu novo livro de crónicas (na maioria as publicadas no meu blogue onde muito gostarei de te ver por lá e comentar, obrigado). Poderás comprá-lo pela net.

Qjs = queijinhos = beijinhos - e até rimam...

Cristina Torrão disse...

Caro Henrique, muito obrigada pela sua visita e o seu comentário. Também gostei de ir ao seu blogue, mas fui de fugida, tornar-me seguidora. Lá irei em breve com mais tempo :)