Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

29 de novembro de 2014

Os Segredos de Jacinta - Excertos (2)



À medida que a noite caía, o arraial tornava-se mais agreste e jocoso. Os homens e muitas das mulheres já haviam bebido a sua conta, jograis e segréis começavam com as cantigas de escárnio e maldizer, a que se juntavam as pantominices de bufões e histriões. Um dos segréis gabava-se, ao som das cítaras, de obter os favores da mulher de um nobre, sem este dar pela conta. O povo delirava com a linguagem rude, gargalhando até à exaustão.
Seguiu-se outra cantiga, em que se contava como uma dama da nobreza tentava seduzir um jogral, sem ser correspondida. Apreciava-se este tipo de sátira, maior vergonha não podia suceder a uma fidalga: dar-se aos amores de um homem de condição inferior, neste caso, com a agravante de o jogral a desdenhar. Para aumentar a animação, uma das soldadeiras encarnava o papel da dama, tentando, através de gestos e movimentos sensuais, atrair um dos histriões. Perante a indiferença deste, não hesitava em agarrar-se a ele, apalpando-lhe as partes pudendas.
Era o delírio total.
Passou-se a uma cantiga sobre um frade que se fazia passar por impotente (escaralhado), mas que ia emprenhando todas as donas que dele se acercavam, tendo três delas dado à luz no mesmo dia.




4 comentários:

Bartolomeu disse...

Um dos filhos que este frade... (escaralhado) foi fazendo a todas as donas que - sabe-se lá com que intento - dele se acercavam, é quase de certeza, tetra avô do famoso padre de Trancoso que até emprenhou a mãe a quem fêz 2 filhos, fora os outros duzentos e tal que fez a outras donas que dele se acercaram. Razão tinham os homens de Trancoso que se encostávam às paredes, assim que avistavam o padre. «O seguro morreu de velho!»

Cristina Torrão disse...

Ora bem! O mérito destas cantigas era mostrar aquilo que todos sabiam, mas dinguém dizia ;)

Bartolomeu disse...

Mas olha que ha zonas do interior do país onde esta tradição se mantem. Bom, algum jornalismo também faz disto uma arte. Afinal os tempo de D. Dinis não vão tão longe como à partida julgamos...
;)

Cristina Torrão disse...

Em certas zonas do interior ainda podemos ver reflexos da mentalidade e dos costumes medievais, sem dúvida :)
Quem conhece a vida no interior, encontra muita coisa que lhe é familiar, ao ler livros sobre a vida na Idade Média (do prof. Mattoso e outros).