Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

18 de março de 2015

Os Segredos de Jacinta - Excertos (15)



Jacinta sentiu então uma vontade indomável de lhe mostrar que podia ser melhor do que Zaida. Trocou a pandeireta pelas castanholas e, a fim de contrastar com os rodopios infernais da moura, começou a bailar em movimentos lentos e voluptuosos, realçando o manejo de braços e mãos.
O guarda tornou a incitá-la:
- Mostra-lhe, rapariga!
Zaida apoderou-se igualmente das castanholas. Atirando com o xaile, começou com a sua dança de ventre, sabendo que a companheira não era muito versada naquele estilo, enquanto as castanholas lhe estalavam furiosas nas mãos.
Os homens ensandeciam.
Jacinta livrou-se igualmente do xaile e foi-se insinuar junto do guarda que dissera ter apostado nela. Zaida fez o mesmo com o outro. Por sobre o adarve, faziam-se mais apostas e puxava-se pelas bailadeiras.
O mancebo admirador de Jacinta agarrou-a pela cinta e tentou beijá-la, mas ela deu-lhe um empurrão, causando grande galhofa na assistência. Afastou-se dele em rodopios vigorosos, que lhe levantavam as saias e lhe faziam voar os cabelos. Zaida juntou-se-lhe. Lançando-se olhares hostis, as duas competiam uma com a outra, em movimentos lascivos de ancas, ou, frente a frente, quase se tocando, fazendo abanar as lantejoulas sobre o peito.
O delírio era total, alguém gritou do adarve:
- Deixai entrar essas bailadeiras!
Outras vozes se lhe juntaram, mostrando que uma pequena multidão lá se reunira. Mas um dos guardas contrapôs, cá de baixo:
- Temos ordens para não deixar entrar ninguém.
- O diabo do homem não se deixa amolecer!
- Quer a ruça só para ele!
- Homessa! São bailadeiras para fidalgos! Queremo-las cá dentro!


3 comentários:

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Cristina estou com dúvida nesta questão cultural da "dança do ventre" até então, descreve (resgate histórico?).

Cristina Torrão disse...

Cláudia, também não sei a origem da "dança do ventre", mas sei que é muito antiga, na Turquia, por exemplo.
Não sei se respondi à sua pergunta.
Ou a sua dúvida tem a ver com o nome?

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Sim. Responde, inclusive agradeço vossa atenção Cristina com relação a importância de avaliar a diversidade cultural portuguesa.