A 16 de junho, a multidão
que se espalhara pelos montes e colinas sobranceiros ao Douro, assim como os
habitantes do Porto e de Gaia, testemunharam a chegada das embarcações. As que
transportavam os comandantes e os clérigos atracaram no cais da Ribeira,
enquanto as restantes se iam acomodando lado a lado, entre uma e outra margem.
Outras ainda tiveram de lançar âncora nos areais junto à foz.
Nunca se vira tão grande armada e crescia o
entusiasmo em relação ao cerco. Tomava proporções de campanha sagrada,
garantindo a salvação a todos que nela participassem. Pois se Deus decidira
enviar tantos cruzados a el-rei D. Afonso!
Do Sul, veio Soeiro Viegas, um outro filho do falecido Egas Moniz, com uma
carta d’el-rei para o bispo, informando que o monarca já se encontrava na região
de Lisboa, conquistando fortalezas e atalaias, a fim de isolar a cidade,
preparando o caminho para a chegada das tropas cristãs.
Também do Norte chegavam barões. O irmão de
Bernardo surgiu com muitos senhores de Entre Cávado e Minho. O Sousão e Mem Pais Bofinho haviam convencido os Braganções
e, no seu caminho, reuniram-se-lhes nobres de Baião, Benviver e Penafiel de
Canas, ou seja, das terras entre Constantim de Panóias e o Porto, que incluíam
o vale do Tâmega.
Os Braganções
eram a prova de que os barões mais renitentes haviam sido convencidos. Ninguém
escapava à febre do cerco, sentiam-se um povo eleito, testemunhas de uma nova
era, a maioria nem considerava que faltava convencer os
cruzados a auxiliar el-rei. Disso dava conta a carta enviada por D. Afonso a
Pedro de Pitões, que pregou aos estrangeiros no Largo da Sé, tendo a secundá-lo
João Peculiar, arcebispo de Braga, surgido entretanto com os recém-eleitos
bispos de Lamego e Viseu.
Jacinta não se deixava contagiar pela febre
do cerco e volvera ao seu mester de curandeira, tratando de um rapazito atacado
por sezões, o membro mais novo de uma família da Terra de Refojos, composta
pelos pais e mais três filhas. Não possuíam terra própria, eram trabalhadores
sazonais que alugavam casais aos fidalgos. Fartos da miséria, iam em busca de
melhor fortuna, crendo que el-rei os recompensaria a todos, havendo mister de
cristãos para povoar as terras que tomaria aos pagãos. Tomavam D. Afonso por
santo, pois se até Cristo lhe surgira, antes da batalha de Ourique!
3 comentários:
Este longo apontamento a história portuguesa identifica o gosto a simplicidade o direccionar intenso e o significado positivo a unidade em defesa o reino enquanto bem maior.
Muito obrigada, Cláudia :-)
Uma passagem que nos dá uma excelente ideia da mentalidade da época.
Bj
Olinda
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