Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

12 de maio de 2015

Os Segredos de Jacinta - Excertos (22)



- Que desgraça, D. Jacinta! Que grande matança… Os cruzados estão desesperados… Hão mister de auxílio… Vós sabeis falar latim… E sois tão boa curandeira…
Os mouros haviam dado a volta à situação, disparando setas incendiárias com as suas bestas, ao abrigo dos merlões quadrados. As fundas baleares dos alemães e flamengos arderam e a pesada torre dos ingleses acabou atolada na areia e igualmente consumida pelo fogo. Os cruzados fugiram desordenadamente, sob a chuva de projéteis vinda do adarve.
Jacinta reuniu as suas ajudantes e seguiram o irmão Ambrósio com o seu grupo de monges, encosta abaixo. Viram os corpos espalhados entre as muralhas e a colina do oriente, mas nem todos estavam mortos. Braços agitavam-se, ouviam-se gritos desesperados, alguns arrastavam-se a esvair-se em sangue.
O grupo de Jacinta juntou-se aos que já tentavam tirar dali os sobreviventes. Não se abeiravam, contudo, das muralhas, receando que ainda viesse uma ou outra seta moura, pelo que se viam obrigados a ignorar os feridos que nesse local de perigo jazessem. Agiam por instinto, no meio do desespero daqueles que viam a morte à frente e imploravam salvação. No ar empestado com o odor metálico do sangue e dos engenhos queimados, tentavam suster as hemorragias com panos. Alguns monges dedicavam-se aos moribundos, murmurando as orações da extrema-unção, garantindo-lhes que iriam direitos ao Paraíso, procurando assim aliviar as suas almas atormentadas.
Entretanto Jacinta e as outras mulheres dirigiram-se às tendas onde se depositavam os feridos. Tentar salvá-los era, porém, uma tarefa quase inglória, além de que não havia como minorar o sofrimento e as dores. Labutaram pela noite fora, tão ensopadas em sangue como os seus enfermos.


1 comentário:

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Bem, Cristina Torrão este interessante texto oferece algumas palavras e identifica, identificando-a o limite o exercício a língua portuguesa escrita em sendo está (obra) tomar rumo cá no Brasil, haver-se-ía traduzir a palavra "jazessem" substituindo à outra.

É comum alguma editora utilizar-se, mencionar em diferente forma, advertir o leitor a exclusividade a edição, claro em função a correta ortografia e nem só.