Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

27 de junho de 2015

O Futuro é Passado no Presente


Depois de Obsessão e Moolb - o reverso, o autor continua a sua "saga" de dissecação do nosso tempo, em que as desigualdades, a desumanidade e a solidão atingem níveis absurdos, resultado da globalização e do capitalismo desenfreado. Há cenas que atingem nível de caricatura e é impossível não reconhecermos certas facetas da nossa sociedade, em momentos como:

«Quando M. entrou no hospital havia um estranhíssimo cheiro a morto (...) Na recepção, uma mulher, de má cara e poucas falas, atirou-lhe com um questionário para preencher. Olhou-a irritado... «Doía-lhe horrivelmente o braço, possivelmente estava fracturado e aquela desagradável mulher a querer obrigá-lo a preencher papelada sem fim.
- ??? - foi tudo o que recebeu na volta de um papel esbranquiçado, sem uma pupila de olho, só com aquele rosnado gutural, seguro por uma mão que o convidava ameaçadoramente a preencher» (p. 94).

Não resisto a citar outro momento, que considero o melhor deste livro. Trata-se de uma redação de uma criança, instada, na escola, a exprimir o seu maior desejo:


«Senhor, esta noite peço-te algo de especial: transforma-me num televisor! Quero ocupar o lugar dele. Viver como vive a televisão da minha casa. Ter um lugar especial para mim, e reunir a minha família à volta... Ser levado a sério quando falo... Quero ser o centro das atenções e ser escutado sem interrupções nem perguntas. Quero receber o mesmo cuidado especial que a televisão recebe quando não funciona. E ter a companhia do meu pai quando ele chega a casa, mesmo quando está cansado. E que a minha mãe me procure quando estiver sozinha e aborrecida, em vez de me ignorar ou desfazer-se em gostos para estranhos. E ainda, que os meus irmãos lutem e se batam para estar comigo... sem me magoar, claro está! Quero sentir que a minha família deixa tudo de lado, de vez em quando, para passar alguns momentos comigo. E, por fim, faz com que eu possa diverti-los a todos. Senhor, não te peço muito... Só quero viver o que vive qualquer televisor».

 Penso que as palavras de Pedro Sande falam por si.


2 comentários:

Unknown disse...

Cristininhamiga

Que magníficos textos este que transcreves. Conheço bem o Pedro Sande andámos na mesma "guerra" pelo euro, aplaudimos os esforços para a sua criação, enfim aderimos a ele com convicção na União Europeia. Mas, hoje, penso que há uma (des)União Europeia, cuja patroa é a Fräu Angela que está a conquistar o nosso Velho Continente através de Finanz- und Wirtschafts Diktat o que o Herr Adolf Hitler não conseguiu manu militari.

De qualquer modo os meus parabéns ao Pedro Sande (que não vejo há muito tempo...) e a ti que fizeste estas belas transcrições.

Qjs

Cristina Torrão disse...

Caro Henrique, para discordar da política da Merkel não é preciso compará-la ao Hitler. A Merkel não é psicopata, nem racista, nem nunca usará de métodos violentos. Além disso, está sujeita ao escrutínio eleitoral e, quando os alemães escolherem um outro governo e ela desaparecer de cena, nada mudará na União Europeia. O problema da Europa não é a Merkel e talvez fosse aconselhável procurar as verdadeiras razões da situação a que se chegou.