Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

9 de junho de 2015

Os Segredos de Jacinta (26)



Ele não contradisse aquela possibilidade. Encarou a vastidão do Tejo, com uma ruga na testa. Jacinta fixou igualmente a sua atenção no rio-mar. O sol já ia baixo, mas ainda refletia na água, que, de tão serena, se podia julgar ser possível andar sobre ela, uma superfície prateada.

Jacinta tornou a sentir-se envolvida pela luminosidade. Murmurou:

- Disseste que a vida começa de novo. A vida está sempre a começar, desde que o queiramos. Mas sem nada se apagar. É essa a vantagem do renascer. Quem nasce pela primeira vez, é atirado indefeso para braços que tanto podem ser fortes, como frouxos, carinhosos, como cruéis. O recém-nascido não está em condições de escolher. Mas nós estamos. Façamos as pazes connosco próprios, acarinhemos o recém-nascido que vive dentro de nós, esse ser frágil que já fomos, que requer atenção e cuidados, mas que nós facilmente rejeitamos e olvidamos. Só quando o abraçamos, aceitando todas as suas fraquezas, nos sentimos fortalecidos para começar de novo, uma outra vida.

Afastou-se, sem mais uma palavra. Pedro não tentou impedi-la, nem sequer chamou por ela. De que adiantaria tentar agarrar o sol que desaparecia no horizonte?


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