Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

16 de julho de 2015

Eu era tão feliz... e não sabia!



Quando o meu avô materno morreu, a minha avó sentiu-se perdida, sem motivação para continuar a viver. Algo passageiro, pensámos nós. Mas uma doença de Parkinson acelerou a degradação psicológica e física. A minha avó nunca mais foi feliz, até à sua morte, escassos quatro anos mais tarde. 

Há meses, a minha mãe contou-me algo curioso: recordando os tempos em que ela e o meu avô recebiam os filhos e netos em sua casa, a minha avó exclamou: «eu era tão feliz… e não sabia!» 

Hoje completo meio século de vida e há sempre a tendência para lamentar a pressa com que o tempo passa, que os melhores anos já lá vão, que estamos a envelhecer… Mas eu não quero constatar, daqui a vinte anos, que não me dei conta da minha felicidade. Quero vivê-la agora, tomar consciência dela! 

Adoro mergulhar em mundos diferentes, em frente do computador, escolher as palavras certas, organizar as cenas, ler, reler, corrigir, apagar, escrever de novo, reorganizar, sem notar como as horas passam, às vezes, nem noto que tenho fome. 
Adoro os passeios com a Lucy, observar o seu comportamento canino, a sua felicidade, por estar viva e poder passear. 
Adoro, no Inverno, que as árvores estejam despidas de folhas, permitindo a passagem dos mais fracos raios de sol. 
Adoro, no Verão, o telhado frondoso das árvores que me protege do calor. 
Adoro cheirar as alfazemas em flor no meu jardim.

  
Adoro os dois passarinhos que dormem debaixo do alpendre que construímos para o carro.
Adoro ler, sonhar, conversar, fazer planos para o futuro, ouvir música, dançar e ter comigo aqueles que amo e de quem gosto.
Adoro…
Tanta coisa!

Não quero, por isso, saber se sou nova ou velha, bonita ou feia, talentosa ou desajeitada, famosa ou anónima na multidão.
Estou aqui. Vivo. E não há melhor prenda.

Obrigada, querida avó Deolinda, por mais esta lição de vida!
Desejo a todos um excelente dia!



A minha avó Deolinda e eu, em 1972


6 comentários:

NLivros disse...

É isso mesmo Cristina.

Eu todos os dias dou graças à família que tenho e ao facto de termos saúde, o resto vem por acréscimo.

Só um pequeno aparte, comecei há algum tempo a escrever, apenas para mim e sei pretensões de publicar, mas é complicado conseguir de uma forma diária algum tempo para me dedicar. O que me aconselhas?

Um beijinho e parabéns. Que contes muitos.

Diverte-te!

Cristina Torrão disse...

Muito obrigada, Iceman :)

Quanto à escrita... É uma coisa que nos rouba realmente muito tempo. Mas também não tem de ser diariamente. Tenta dedicar, pelo menos, duas horas seguidas (uma hora não dá para muito), em três dias por semana. Escolhe os dias que achas serem mais apropriados e estabelece o horário. Encara como se fosse um emprego, ou seja, só não cumpres por força maior ;) Se tiveres filhos pequenos, pode ser mais difícil, mas tenta encaixar esse horário na tua rotina diária.

Bartolomeu disse...

Quem tem da vida essa perspectiva, quem olha e compreende tudo o que existe em seu redor e com que coexiste, que complementa a sua existência, não é e nunca será velho; Será! Existirá consciente e portanto, aproveitando tudo o que é possível aproveitar... sendo feliz!
Felicidade, minha Amiga, toda a que puderes retirar deste tempo que te é concedido!

Ângela disse...

Gostei muito do texto! Também penso assim como tu. A primeira vez que comecei a ter consciência que o tempo tinha passado, e eu estava mais velha, foi no último dia de aulas do 4.º ano. No ano seguinte eu iria para o 5.º ano, para uma escola diferente e eu não queria. Não pelo motivo de ser uma escola nova, mas porque significava que eu tinha crescido. Lembro-me de, nesse dia, não querer mesmo sair daquela escola... :/
Depois foi o meu aniversário, em que fiz 10 anos, e não queria fazê-los porque a minha idade ia ter 2 algarismos e nunca mais voltaria a ter uma idade com um algarismo, o que significava que eu tinha crescido. Acho que comecei muito nova a "preocupar-me" com a velhice. :p Por outro lado, acho que por um lado foi bom, porque a cada momento estou sempre a ter consciência que o tempo não volta atrás e tenho que aproveitar cada momento presente!! :)

Cristina Torrão disse...

Tudo o que pudermos retirar deste tempo que nos é concedido - a grande arte de viver. Beijinhos, Bartolomeu :)

Obrigada pelo teu comentário interessante, Ângela :) É curioso uma pessoa preocupar-se com o completar da primeira década de vida. Mas é verdade: nunca mais voltamos a ter um algarismo na idade! E muito pouca gente atinge os três ;) Beijinho e continua a aproveitar bem o tempo que te é concedido, como diz o Bartolomeu.

Alice Alfazema disse...

Felicidades Cristina!Gostei muito do texto, é bom aproveitarmos o efeito real das coisas, não quando já passaram, mas enquanto passam.

Beijinhos :)