Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

31 de outubro de 2016

Tu és a única Pessoa (11)

Da sinopse:

Helena vê-se empurrada para um casamento desastroso. Entre um marido vigarista e negligente, um pai que finge que ela morreu, uma mãe incapaz de enfrentar adversidades e um irmão que se habituou a ignorar um membro familiar incómodo, Helena perde o controlo sobre a sua vida.



Nas lojas FNAC e em algumas livrarias independentes, como Pó dos Livros (Lisboa), UNICEPE e Lello (Porto), 100ª Página (Braga).


28 de outubro de 2016

Cão Como Nós





Todos os amantes de animais gostarão de ler este pequeno grande livro de Manuel Alegre. Mas também o aconselho a pessoas que nada têm a ver com animais, principalmente, a quem não entende como se pode considerar um animal um membro da família. A escrita poética e assertiva do autor torna evidente, em poucas palavras, o facto de também os cães terem sentimentos e conseguirem comunicar de forma incrível com os humanos.

«- Fiteiro, disse eu numa dessas ocasiões.
  - Como tu, retorquiu Joana, minha filha. Tu também fazes fitas, pai, às vezes amuas para chamar a atenção ou para que a gente te dê mimos, o cão percebe isso tudo. E os manos fazem a mesma coisa. Até a mãe. O cão imita-nos a todos, tudo o que ele faz é para que se repare nele e se lhe dê mais carinho. Não é por ser cão que ele não tem sentimentos». (p. 49)

O cão de que fala este livro já morreu e Manuel Alegre, que, no início, não o queria conceber como membro da família, acaba por lhe prestar esta homenagem, dando-nos pequenos episódios marcantes de um animal que, segundo ele, «queria ser gente», «cão como nós».

«Quando envelheceu, passou a ter mais relutância em meter-se dentro de água. Se a minha mulher se afastava um pouco mais, ele abocanhava a toalha, atirava-a ao ar e começava a ladrar. Se ela nadava a favor da corrente, ele vinha pela margem fora de toalha na boca. Era uma cena que se repetia e começava a juntar pessoas que vinham ver aquele cão que trazia na boca a toalha da dona como forma de lhe dizer que o seu lugar era em terra. Então eu tinha ternura pelo cão. A agitação dele era uma forma de amor. Um amor atento, aflito e vigilante. Estou a vê-lo na praia, de toalha nos dentes. Cão bonito, apetece-me dizer». (p.65)

O Kurika foi um cão que conquistou o seu lugar dentro de casa, junto da sua família. E Manuel Alegre dá-nos momentos magistrais:

«Creio que ele também gostava da música da poesia, da alquimia do verso, da litania e da celebração mágica que todo o poema é. Algo que os bichos talvez entendam melhor do que os especialistas de literatura.
Às vezes, eu dizia-lhe aquele fabuloso verso de Camilo Pessanha:
«Só incessante um som de flauta chora.»
E ele arrebitava as orelhas. Tenho a certeza de que estava a ouvir a flauta». (p. 104)

Um livrinho que se lê em duas horas, que faz as delícias dos amantes dos cães e que ensina muito a todos os outros.


24 de outubro de 2016

Tu és a única Pessoa (10)

O escritor Paulo M. Morais teve a gentileza de me enviar esta fotografia, tirada na FNAC de Santa Catarina, Porto, há alguns dias. Agradeço muito este gesto, pois, vivendo na Alemanha, tenho de prescindir destas imagens ao vivo.

Agradeço igualmente ao Mario GM Dos Santos e à Oxalá Editora por terem acreditado no meu projeto.




22 de outubro de 2016

Rio do Esquecimento



«Há coisas que, ainda que contadas de modos diversos, desfiguradas ou até inventadas, são verdade, verdade absoluta. Procure cada um nos seus conhecimentos, nas suas lembranças, e veja se não é assim. Então, para quê contá-las, para quê escrevê-las, perguntar-se-á. Para quê? Para que se preste ao fictício a atenção que não se prestou ao real. Factos há que, de tantas vezes que se repetem, se tornam trivialidades: ninguém os sente, ninguém os avalia, ninguém os comenta. Afazemo-nos a eles como um organismo se afaz a certas drogas que, no entanto, tomadas a primeira vez, produziram uma reação extraordinária. Os venenos da alma parecem-se com os venenos do corpo. Se não vos conseguir convencer destas e de outras coisas, alguém um dia vos convencerá».
p. 149

O que mais me agradou neste livro de Isabel Rio Novo foi o olhar para a crueldade, o absurdo e o inacreditável na vida quotidiana. As tais coisas a que nos acostumamos e a que já não damos importância. Também os segredos que cada um esconde, por vezes, graves, as frustrações e o sofrimento acumulado transformados nas tais crueldades, ou em atitudes inexplicáveis, me cativam. Porque tem de haver sempre uma válvula de escape. Acrescente-se as vidas adiadas, as oportunidades perdidas, por medo, ou por acomodação, e temos uma leitora rendida (pelo menos, no meu caso).

Nesse aspeto, a autora fez-me lembrar Alice Munro, de quem muitas vezes se diz que escreve sobre coisas banais. Mas é só preciso estar com atenção, ou possuir sensibilidade suficiente, para descobrir o turbilhão por baixo da superfície calma.

Outra vantagem deste livro é dar-nos um bom retrato da sociedade portuense do século XIX, embora não o achasse camiliano (como já li), apenas a época descrita é a mesma. Isabel Rio Novo tem um estilo muito diferente e ainda bem, pois tem o seu próprio estilo, sem precisar de imitar ninguém. Uma nota negativa para certas frases muito longas, de orações encaixotadas umas nas outras (como se diz em alemão) que, por vezes, nos fazem esquecer qual o início da oração principal. Trata-se de uma marca de estilo que pode resultar, mas, neste caso, talvez seja aconselhável aperfeiçoar.

Sem dúvida (e apesar de não ser o de melhor qualidade literária; aí, continuo a apostar em Que Importa a Fúria do Mar), esta foi a obra finalista do Prémio LeYa que mais me agradou ler.


Nota: comprei o livro na Feira do Livro do Porto, em dia de sessão de autógrafos da autora, e não resisto a publicar a fotografia da praxe, agradecendo a simpatia de Isabel Rio Novo.





20 de outubro de 2016

Boas surpresas


Montalvo e as Ciências do Nosso Tempo foi um dos primeiros blogues que conheci, quando entrei nestas lides, já lá vão mais de seis anos. Não faço ideia de quem seja o autor, que se dá a conhecer apenas pelas iniciais JDACT. Não apresenta qualquer contacto, nem permite comentários aos seus posts.

O blogue é muito interessante, porque se resume à transcrição de excertos de livros. Nota-se uma certa tendência para assuntos históricos, mas também são divulgados outro tipo de livros, ficção e não-ficção.
Descobri agora que JDACT tem vindo, nas últimas semanas, a publicar excertos dos meus livros A Cruz de Esmeraldas e Afonso Henriques - o Homem. Seja quem for, agradeço-lhe muito e deixo aqui o link, para quem estiver interessado.


Só um pequeno aviso: a transcrição do discurso direto é feita sem parágrafos nem travessões, ao contrário do que acontece nestes meus livros, em que esse tipo de discurso surge de maneira tradicional.


18 de outubro de 2016

Os últimos meses de Dom Dinis

Em Outubro de 1324, Dom Dinis fez-se ao caminho de Santarém, como de costume. Tinha-se tornado um hábito passar o Natal e o fim do ano naquela cidade, só regressando a Lisboa na Primavera. Naquele ano, porém, Dom Dinis fora desaconselhado a empreender a viagem, pois estava muito doente. A rainha Dona Isabel tratava dele, administrando-lhe pessoalmente os remédios.
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Pormenor da estátua de Dom Dinis, em Coimbra








Durante a viagem, Dom Dinis sentiu-se tão mal, que Dona Isabel mandou chamar o filho Dom Afonso, que se encontrava em Leiria. Depois de uma desgastante guerra civil, o rei e o seu herdeiro haviam assinado as pazes a 26 de Fevereiro daquele ano. A guerra terminara, mas, a nível pessoal os dois continuavam desentendidos, não se falavam e evitavam encontrar-se. Por isso se quedava Dom Afonso em Leiria.

Vendo o pai em tão mau estado, porém, o infante tudo fez para cuidar dele e, com a sua ajuda, Dom Dinis chegou a Santarém, onde melhorou um pouco. Mas o destino do Rei Lavrador estava traçado. Sentindo a morte aproximar-se, fez o seu terceiro e último testamento a 31 de Dezembro. Morreria a 7 de Janeiro de 1325.

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Imagem encontrada aqui







Cinco dias antes, Dona Isabel tinha declarado querer usar o hábito de Santa Clara até ao fim da sua vida, em sinal de viuvez e humildade, desejando ser sepultada com ele. Depois da morte de Dom Dinis, passaria inclusive a viver no convento de Santa Clara, em Coimbra, embora nunca tenha professado. A 22 de Dezembro de 1325, a rainha fez um segundo testamento, onde exprime o desejo de ali ser enterrada, embora o seu marido repousasse no mosteiro de Odivelas. Dona Isabel morreu em Estremoz a 4 de Julho de 1336 (onze anos depois de Dom Dinis). O seu corpo foi transportado para Coimbra, como havia sido seu desejo.

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O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook, por exemplo, na LeYa Online, na Wook, na Kobo e na Amazon (pagamento em euros); Amazon (pagamento em dólares).

No Brasil, está disponível na Livraria Saraiva e na Livraria Cultura.

Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.

16 de outubro de 2016

Tu és a única Pessoa (9)






O meu romance em boa companhia, graças à Oxalá Editora.

Nas lojas FNAC e em algumas livrarias independentes, como: Pó dos Livros (Lisboa), UNICEPE e Livraria Lello (no Porto), 100ª Página (em Braga).


15 de outubro de 2016

Cortes de Lisboa de 1323



História Universal da Literatura Portuguesa


Em Outubro de 1323 (não se sabe em que dias) reuniram-se Cortes em Lisboa, a pedido do infante Dom Afonso, o herdeiro de Dom Dinis. Nestas Cortes, reacendeu-se a guerra civil, que já se dera por terminada, uma guerra que tinha a sua origem nos desentendimentos entre o rei e o seu herdeiro.

O infante Dom Afonso exigia que fosse retirado a seu meio-irmão Afonso Sanches o cargo de mordomo-mor, assim como as terras e dinheiros que o pai de ambos lhe havia doado. As suas pretensões foram, porém, desleixadas, enquanto se tratou de outros assuntos, o que acabou com a paz frágil que fora negociada entre pai e filho, em Leiria, no ano anterior. A seguir ao cerco de Coimbra, essa paz tinha sido possível através da mediação da rainha Dona Isabel e do conde Dom Pedro de Barcelos.

Deixo-vos com um excerto do meu romance relativo às Cortes de Lisboa, quando o príncipe herdeiro viu os seus desejos ignorados pelos pares do reino, sem que seu pai interviesse a seu favor:

Ninguém abriu a boca. Mas Dinis arrependeu-se daquele procedimento em relação ao príncipe. Apesar de Afonso se manter digno, a humilhação era enorme, principalmente perante a notória satisfação dos meios-irmãos. Naquele instante, o rei apercebeu-se de que havia exagerado na sua proteção e no seu favorecimento dos bastardos.

Não podia, porém, voltar atrás, dando o dito por não dito e, por isso, nada fez para impedir que o seu herdeiro voltasse as costas àquela assembleia.

No fim daquele dia, o rei foi informado que o príncipe deixara a cidade e, passado duas semanas, soube que juntava os seus partidários em Santarém, planeando marchar sobre Lisboa, a fim de se apoderar do trono à força!

Era a rutura total. Embora Isabel não o dissesse, Dinis sabia que ela o considerava responsável pela situação. Ele próprio assim se sentia. A rainha recolheu-se novamente em jejuns e penitências, recusando falar com o consorte que, não obstante o arrependimento, não podia deixar de defender o seu trono. Passou o mês de Novembro a organizar um exército, formado principalmente pelos combatentes do concelho de Lisboa.

A questão decidir-se-ia numa batalha em campo aberto, onde não existiria lugar para piedades nem perdões. As tropas digladiar-se-iam até haver um vencedor.

Os exércitos aquartelaram-se na zona do campo de Alvalade.





O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook, por exemplo, na LeYa Online, na Wook, na Kobo e na Amazon (pagamento em euros); Amazon (pagamento em dólares).

No Brasil, está disponível na Livraria Saraiva e na Livraria Cultura.

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