Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

6 de janeiro de 2017

Quando queremos um filho à nossa imagem




Sou grande admiradora de Cristiano Ronaldo. Apesar de, muitas vezes, se pensar que o carácter dele deixa algo a desejar, ou de se ter chegado a um ponto em que não se consegue distinguir o que é autêntico, ou mero golpe de marketing, não há dúvida de que Ronaldo é a maior estrela que Portugal jamais deu ao mundo. Nem sequer vale a pena comparar com Eusébio ou Amália, por mais respeito que devamos a estas duas pessoas, que tanto fizeram pelo nosso país. Nem sequer com Camões! Cristiano Ronaldo é um símbolo planetário, conhecido nas aldeias mais remotas das regiões mais inóspitas, sejam os seus habitantes ricos ou pobres, cultos ou ignorantes.


Confesso, porém, que fiquei um pouco desiludida, ao ler um artigo baseado numa entrevista que Ronaldo deu a um canal egípcio, nomeadamente, quando fala na educação do seu filho. «Digo-lhe sempre que tem de ser forte para lidar com a adversidade». Tenho sérias dúvidas se se consegue que uma criança fique forte, ao repetir-lhe constantemente que ela tem de ser forte. As crianças esforçam-se muito para não desiludir os pais, por isso, acho contraproducente carregá-las de exigências. Corre-se o risco de as esmagar, desenvolver nelas o medo de falhar, de desiludir, o que desemboca numa grande insegurança.


Educa-se mais com exemplos do que com palavras. Se Ronaldo quer que o filho seja forte, tem, acima de tudo, de dar o exemplo, não só na sua vida pública, como na familiar. Além disso, o mais importante é que ele acompanhe o filho nos seus problemas diários, escutando-o, levando-o a sério, por mais insignificantes que as suas queixas lhe pareçam. E, mais do que repetir: «tens de ser forte», deve apoiá-lo. Fazer uma criança forte não é “largá-la aos bichos”, mas mostrar-lhe que se está do lado dela.



Mas então vai pressioná-lo, ou não? Por um lado, diz que não, por outro, diz que sim, um pouco… E porque não há de o miúdo de ser guarda-redes? Que tem Ronaldo contra guarda-redes? Não há grandes exemplos a seguir? Que dizer de Vítor Damas, Michel Preud’Homme, Gianluigi Buffon e outros fantásticos profissionais?


Os filhos não são uma segunda versão nossa, mas sim pessoas autónomas. Cristiano Ronaldo não precisa de «empurrar um pouco» para que o filho seja futebolista, sendo ele próprio um. Os filhos guiam-se pelos pais. Mas é importante que não se sintam pressionados, pois só serão verdadeiramente felizes se seguirem a sua vocação. Os pais podem dar sugestões, orientações, mas não devem nunca pressionar. Devem, sim, dar competências aos filhos para que possam decidir livremente.


O verdadeiro amor não conhece preferências. Ama-se um filho independentemente do que ele vier a ser.


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