Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

30 de outubro de 2017

Fazer o Bem Faz Feliz


© Horst Neumann

Não acredito na Humanidade. Penso que acabará por se destruir a si própria, assim como o planeta onde vive.

Não há, porém, dúvida de que há seres humanos fantásticos.

O filho de uma antiga colega de liceu, reencontrada no Facebook, adoeceu com leucemia e precisou de um transplante de medula. Todos sabemos que é difícil encontrar um dador compatível e a família do jovem iniciou uma campanha naquela rede social. Soube, agora, que ele já fez o transplante. E este jovem, que acabou de entrar na Faculdade, pode enfim encarar o futuro com o otimismo próprio da idade.

Não nos devemos esquecer, porém, de alguém que, voluntariamente, se sujeitou a uma operação, para doar parte da sua medula e salvar uma vida. Esse alguém deve ser uma pessoa muito feliz, porque a generosidade faz feliz. Já a maldade, pelo contrário, pode proporcionar alguma satisfação momentânea, mas, a médio e longo prazo, deixa a pessoa extremamente infeliz e vazia.
 
Por isso, me pergunto: as pessoas que insistem em desejar e exercer o mal não se acham dignas de ser felizes?



26 de outubro de 2017

O Estigma do Conceito de “Feminismo”



Depois dizem-me que ser feminista é uma coisa datada? Tenham paciência - escreveu Patrícia Reis, numa crónica publicada a 15 de Outubro. Embora a escritora se refira ao facto de os salários das mulheres serem, ainda hoje, 21,8% inferior aos dos homens, a frase assenta que nem uma luva no caso do acórdão da Relação do Porto sobre violência doméstica.

O feminismo é ainda muito necessário, sim! Mas o conceito não sofre apenas do problema de muita gente o achar datado. Sofre igualmente de um estigma que o apelida de radical e assusta muitas mulheres. Mafalda Anjos, Diretora da revista Visão, escrevia, numa crónica publicada no nº 1279: «Sou pouco adepta da paranoia radical na nomenclatura sem género, mas chamar Ironman a uma competição que admite homens e mulheres parece-me simplesmente estúpido e anacrónico». Esta frase é de uma contradição brutal!

Infelizmente, é frequente encontrar expressões deste tipo, entre mulheres: «eu nem sou nada feminista, mas não acho bem que…»; ou «eu não sou adepta dessas ideias radicais de igualdade, mas o certo é que…».

Quando é que as mulheres vão deixar de pedir desculpa e de polir a sua imagem, antes de expressarem uma opinião? O feminismo possui um historial do qual todas nós nos devemos orgulhar. As nossas antepassadas lutaram por nós. Não fossem as feministas, as mulheres não estariam autorizadas, entre outras coisas, a seguir uma carreira profissional. Nem sequer a votar! As sufraguettes também foram consideradas radicais histéricas, no seu tempo. E, como vemos, o facto de já possuirmos esses direitos não quer dizer que o feminismo se tenha tornado obsoleto. Querem melhores exemplos do que a desigualdade nos salários, ou o minimizar o crime de violência doméstica pelo facto de uma mulher ter cometido adultério?

A verdade é que nós mulheres continuamos a ter medo dos homens. Medo de os desiludirmos, de os chocarmos, medo de não correspondermos às suas expectativas.

Ainda não repararam que quem dá, e deu, uma imagem radical do feminismo foram/são os homens? E que nós continuamos a cair na armadilha? O uso da palavra “radical”, em justificações do género «eu nem sou adepta dessas ideias radicais de igualdade, mas…», é pura manipulação masculina. A jornalista Mafalda Anjos vai ainda mais longe e usa a expressão “paranoia radical”! Tirem-na da frase acima citada e a contradição salta aos olhos!

Quando vamos deixar de querer ser as meninas bonitas, simpáticas e agradáveis, com medo de ofender o papá, o irmão, ou o marido, para passarmos a ser humanas em pleno, com opinião própria, sem medo das palavras?


20 de outubro de 2017

Da Importância das Fotografias




Hoje em dia, as fotografias são tão comuns e tiram-se tantas, em qualquer situação, que custa a crer ter havido um tempo em que eram coisa rara.

Apresento-vos os meus avós paternos, Ludovina Amélia Rodrigues e Fernando César Torrão, naturais da freguesia do Lombo, perto de Chacim e do Santuário de Balsamão, concelho de Macedo de Cavaleiros.

O meu avô era meio leonês, já que a sua mãe era oriunda de Fonfria, concelho de Alcañices. Não me lembro dele, pois faleceu em 1967, mas surge sempre com um ar muito sereno, nas fotografias. Já a minha avó é por mim recordada como uma mulher severa, de feições duras (no fundo, tipicamente transmontana), por isso, gosto de ver aqui a sua bela fisionomia marcada por uma certa leveza, concedida pela juventude.

O meu pai diz que a fotografia foi tirada ao tempo do seu casamento, celebrado em Novembro de 1927. Gosto de os ver tão novos. Ainda bem que tiraram a fotografia, coisa rara, naquela altura, sobretudo, numa aldeia perdida nos montes transmontanos (tão perdida, que o meu pai ainda pensou em abalar para essa região inóspita, quando, no Verão Quente, pairava a ameaça da guerra civil).

A ideia desta fotografia foi com certeza do meu avô, um autodidata, que sabia ler e escrever, sem nunca ter frequentado uma escola, e um dos primeiros pais da aldeia a enviar os filhos para o liceu de Bragança - atente-se que o primeiro filho que ele enviou foi uma rapariga, a minha tia Nair, professora primária em Chacim durante mais de quarenta anos. O meu avô encorajou igualmente parentes e conhecidos a enviarem as suas filhas para a escola, nem que fosse apenas a primária.

E aqui estão os meus avós, cerca de trinta anos mais tarde: