Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

27 de janeiro de 2018

A Vida Trágica De Uma Escritora Que Morreu em Auschwitz



Foto: dpa/AP

Else Ury, autora alemã de livros infantis da primeira metade do século XX, foi morta nas câmaras de gás de Auschwitz, um destino ignorado durante cinquenta anos no mundo literário alemão, apesar de os seus livros tornarem a conhecer grande êxito depois da 2ª Guerra Mundial. A razão? Os intelectuais alemães da literatura infanto/juvenil desdenhavam de uma escritora por eles intitulada de «propagandista do mundo de conto de fadas”.

Else Ury ficou famosa, a partir de 1913, com uma série dedicada a uma menina chamada Annemarie Braun, que vivia em Berlim no seio de uma família feliz, com o pai médico, a mãe dona de casa, dois irmãos mais velhos, uma criada, uma ama e a sua boneca. Por ser a mais nova, Annemarie Braun era apelidada de Nesthäkchen (benjamim), uma criança vivaça e traquina, que tinha muito a aprender, até se tornar numa jovem obediente e, mais tarde, numa esposa e mãe perfeita. Os episódios da série Nesthäkchen decorriam sob o esquema: «ultrapassar das regras - arrependimento - final feliz».


Entre 1913 e 1925, a série conheceu grande sucesso. Else Ury enriqueceu, mas nunca casou nem constituiu família própria, pelo que se dedicou aos pais, aos irmãos e aos sobrinhos. Dir-se-ia que a sua vida decorria perfeita, um retrato dos seus livros, até que… chegou o nazismo.

Else Ury era judia. A partir de 1933, foi proibida de escrever e de publicar. Viu os seus livros serem retirados das livrarias. Um dos seus irmãos suicidou-se em 1935, os outros familiares fugiram para o estrangeiro. Else Ury ficou em Berlim. Mais! Regressou à sua cidade-natal, depois de uma viagem que fez a Londres, em 1938! Regressou para não deixar a mãe de noventa anos sozinha. Mas terá havido igualmente um pouco de inconsciência? Acreditaria Else Ury no mundo conto de fadas que criara nos seus livros?

O certo é que a sua biografia, publicada em 2007 por Marianne Brentzel (e que finalmente revelou a vida desconhecida desta autora de sucesso) se intitula Nada de mal me acontecerá… (tradução livre de Mir kann doch nichts geschehen…). Else Ury confiaria na justiça e na humanidade, acreditaria que o bem acabava por vencer o mal e terá pensado que os nazis não se preocupariam com uma mulher que já passara os sessenta.


Como todos os judeus, ela foi despojada dos seus bens e direitos, roubada e humilhada. Depois da morte da mãe, com 93 anos, foi obrigada a mudar-se para o ghetto nazi de Berlim. Em Janeiro de 1943, foi deportada para Auschwitz e guiada para a câmara de gás, logo à chegada, por ser dada como inapta para trabalhar. Tinha sessenta e cinco anos.

Livros da Nesthäkchen publicados depois da guerra
Apesar de gerações de meninas alemãs continuarem a ler os seus livros, a partir dos anos 1950, e se ter feito inclusive uma série televisiva neles baseada, em 1983, imperava o silêncio sobre o seu fim por ser má vista pelos intelectuais. Na Alemanha de Leste, os seus livros permaneceram proibidos até à queda do Muro de Berlim! E, no entanto, ao contrário de outros autores do género, Else Ury acompanhou a vida da sua heroína muito para lá da infância. Annemarie Braun, a Nesthäkchen, tornou-se adolescente, casou, formou família e até envelheceu. No último livro da série, publicado em 1925 e intitulado Nesthäkchen im weißen Haar, ela é uma avó de cabelos brancos.





 

20 de janeiro de 2018

Comer Carne


Não é preciso muita carne para se comer bem.


«Comer e ser comido, condição essencial para a evolução» - esta frase, com toda a verdade que encerra, não justifica a maneira lastimosa como mantemos os animais que servem para a nossa alimentação, na produção industrial de carne.

Não contestando o facto de comermos carne (não sou vegetariana) condeno veementemente as condições em que são mantidos os animais. E, se me dizem que hoje tem de ser assim, para alimentar os biliões de humanos, então eu digo: reduza-se a quantidade de carne que comemos! Li algures que um terço da carne produzida acaba no lixo. Se prescindirmos de um outro terço, chegamos à conclusão de que necessitaríamos apenas de um terço daquilo que é produzido. Ninguém morre à fome, limitando o seu consumo de carne, pelo contrário: é um bem que fará à sua saúde!

Comer e ser comido só é condição essencial para a evolução na vida selvagem. Na nossa civilização, nós próprios manipulamos a criação de animais. Que evolução proporcionamos nós aos porcos, aos bovinos e às aves que mantemos em condições catastróficas, provocando-lhes sofrimento sem fim?

Os humanos sempre foram omnívoros, ou seja, comem de tudo. Não há razão nenhuma para que a carne seja o alimento principal. Há muito que a maior parte de nós não se alimenta de animais que andam à solta, no seu habitat, e o mínimo que devemos fazer é manter os que nos são úteis em condições dignas, sem lhes inflingirmos sofrimento gratuito.

Não continuemos a fechar os olhos e a fugir às nossas responsabilidades!


17 de janeiro de 2018

A Crueldade Da Natureza

Foto © Horst Neumann

A suposta "crueldade" da Natureza nunca pode ser pretexto para nós humanos maltratarmos ou abandonarmos um animal (somos muito lestos a procurar razões para fugirmos ao sentimento de culpa). Aliás, não sei se podemos dizer que a Natureza é cruel, pois ela não tem ética, nem moral. Nós, pelo contrário, temos!

Nós humanos mudámos o mundo, com tudo o que a ele pertence e com tudo o que isso implica. Mudámos irremediavelmente, e para sempre, a vida de (quase) todos os animais e nada mais nos resta do que assumir essa responsabilidade. Muitos de nós esquecem-se de que os animais que nascem e crescem no nosso meio nunca aprenderam a viver na Natureza. Além disso, no caso dos cães, por exemplo, há características em muitas raças que tornam a sua sobrevivência na vida selvagem impossível: o tamanho (pequeno demais), ou pêlos longos que, sem a higiene e os cuidados adequados, facilitam a acumulação de sujidade e parasitas (não esqueçamos que as raças surgiram por
intervenção humana).

Todos os cristãos (ou quase) admiram São Francisco de Assis, mas poucos seguem os seus ensinamentos. E até nem precisamos de ir tão longe como ele, que considerava os animais seus irmãos. Eu, por exemplo, considero-os meus primos. Desde Darwin que sabemos possuir um qualquer grau de parentesco com todos os animais e, sendo impossível separar a condição humana das componentes moral e ética, temos o dever de os tratar com dignidade e não lhes infligir sofrimento gratuito.

Temos igualmente o dever de preservar as espécies! Isto não é mania do nosso tempo, tem tradição bíblica! É essa a mensagem do episódio da Arca de Noé. Com o mundo a ser destruído por cheias e enxurradas, Deus não ordenou a Noé que salvasse outros humanos (além da sua família), mas sim "casais" de animais. É a prova de que o nosso planeta e a nossa própria vida dependem das outras espécies, mesmo das que não servem para a nossa alimentação, nem vivem no nosso meio. O equilíbrio do planeta depende da existência dos outros animais.

Nós, com a nossa inteligência e os meios que adquirimos, temos a obrigação de preservar o mundo que Deus nos ofereceu e de assumir as responsabilidades de que Ele nos incumbiu.