No Canal Arte, no serão de sábado passado, foi transmitido um programa sobre a importância da caça à baleia para o desenvolvimento industrial e a criação do capitalismo, nos Estados Unidos da América.
Este programa televisivo deixou-me duas horas colada ao ecrã, por três razões:
1 - Mostrou, mais uma vez, que o ser humano é um animal muito irracional, em certas circunstâncias. Mesmo que o avisem das más consequências de certo ato, não consegue parar. Só o faz, ou quando a coisa descamba numa tragédia, ou quando se encontra outra fonte geradora de riqueza. E toca a explorar a nova até a tutano, sem olhar às consequências (sejam elas ambientais, ou provoquem elas sofrimento em outros humanos e/ou animais).
2 - Fiquei a saber que Moby Dick, a obra-prima da literatura de Herman Melville, foi, em parte, baseada num relato verídico. Melville entrou em contacto com o diário de um caçador de baleias, entretanto falecido, que sobrevivera ao naufrágio de um barco baleeiro, um veleiro de três mastros, à volta de 1820, quando este foi atacado por uma baleia. O insólito, no caso, foi precisamente o ataque da baleia, sem que esta estivesse ferida, ou a ser perseguida pelos caçadores. A tripulação conseguiu salvar-se em três pequenas baleeiras a remos (que serviam também de salva-vidas). Vaguearam pelo Oceano Pacífico durante três meses, sobrando cinco sobreviventes, porque se foram alimentando dos colegas que iam morrendo. O mais trágico no meio disto tudo é que eles se aventuraram numa viagem de cerca de cinco mil quilómetros, até à costa do Chile, recusando a hipótese de rumarem ao Tahiti, a menos de mil quilómetros do local do naufrágio, com medo dos canibais!
3 - Moby Dick, à altura da sua publicação, foi um flop de vendas, arrasado pela crítica. Melville nunca mais escreveu romances, dedicou-se à poesia, mas nunca teve êxito, caindo no esquecimento e morrendo, com 72 anos, anónimo. Histórias destas são muito românticas. Mas alguém pensa na tristeza e na frustração de um escritor que sabia ter escrito um grande livro, sem encontrar esse reconhecimento?
Todos sabemos que não é caso único. Valha-nos hoje em dia haver gente que entende muito de literatura e que reconhece um talento, assim que lhe põe os olhos em cima...
Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.
Apesar de todos os protocolos estabelecidos, os países continuam a fazer vista grossa a estes atentados à natureza, em nome da manutenção dos proveitos de uma classe que deles retira todo o lucro e nada lhes retribui.
ResponderEliminarE ainda ha quem se encrespe tanto contra os princípios politico-economico-sociais de Marx...
E se, em tempos, a caça à baleia ainda se justificava (embora não nas dimensões em que era feita), hoje, não há mesmo razão para tal "atividade"!
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