MORTE DE D. PEDRO III DE ARAGÃO
Pedro III de Aragão, por Manuel Aguirre Y Monsalbe, 1854
A 2 de novembro de 1285 morreu o rei D. Pedro III de Aragão, denominado o Grande, pelas suas conquistas militares. Tinha apenas quarenta e seis anos e era o pai da rainha Santa Isabel. Não sabemos qual o efeito teria o acontecimento causado em sua filha, que já se encontrava em Portugal há dois anos e meio. Segundo a tradição, D. Isabel era muito chegada ao pai e, considerando que estava ainda a dois meses de completar quinze anos e seria dona de um carácter sensível, criei esta cena no meu romance, no castelo de Trancoso, rodeado de neve:
Os alões deitados em frente à lareira levantaram-se, a ladrar como doidos. Dinis bradou:
- Que vem a ser isto?
- Virá por aí alguém? - sugeriu Pêro Anes Coelho.
- A esta hora? Num tempo destes?
Dinis virou-se para Isabel e assustou-se: a rainha apresentava uma palidez cadavérica, uma das mãos agarrava o vestido à altura do peito.
- Que tendes? Não vos sentis bem?
Isabel apontou-lhe olhos aterrorizados:
- Uma desgraça sucedeu!
- Que dizeis?
Apesar de assustado, Dinis pegou-lhe nas mãos gélidas e acrescentou:
- Os cães ficaram nervosos com o uivar dos lobos, é só.
De repente, irromperam na sala dois cavaleiros com os seus capotes cobertos de neve. Isabel começou a tremer, mas Dinis teve de a largar para ir ajudar Pêro Anes Coelho e João Anes Redondo a segurar os alões, que ameaçavam despedaçar as vestes dos recém-chegados.
- Quem sois? - bradou o rei. - Porque vos deixaram entrar?
- Vimos de Aragão, Alteza.
- Meu Deus - gritou Isabel.
Levantou-se e foi ao encontro deles. Logo os cães se acalmaram, como por encanto.
- Trata-se de meu pai, não é verdade? Que lhe sucedeu? Dizei!
- Lamentamos ter de vos informar que el-rei D. Pedro III se finou no passado dia 2 deste mês.
Gerou-se um silêncio sepulcral. Até que os lobos tornaram a uivar. Isabel desfaleceu de encontro a Dinis, que a segurou nos braços.
Carregando-a, o rei desceu a escada exterior da torre de menagem e caminhou pela neve a dar-lhe pelas canelas. Pêro Anes Coelho seguira-o e bateu à porta da casa da rainha, arrancando as damas e as camareiras do seu sono.
Nota: Pedro III de Aragão era igualmente rei de Valencia, Sicília e conde de Barcelona.

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