Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

29 de fevereiro de 2012

Naquele Tempo (3)

Ou: Aspectos menos conhecidos da Idade Média


«O casamento só foi considerado um sacramento e, por isso, indissolúvel, depois do século XI; tardou séculos a generalizar-se como cerimónia litúrgica imposta a todos os fiéis.
(...)
O casamento de facto e o casamento privado (ou casamento "de juras") eram considerados legítimos, praticaram-se sem oposição da Igreja até ao concílio de Trento (realizado no século XVI), e continuaram a ser a forma mais corrente de união matrimonial entre as classe populares até à mesma época.
(...)
A moral clerical sempre foi severa para com o adultério, mas era razoavelmente tolerante para com as relações conjugais entre pessoas livres.»
(Páginas 20/21, A moral clerical e a sua evolução)

27 de fevereiro de 2012

Orgulho Ibérico


Não resisto a citar uma passagem do romance Rixa de Gatos, do espanhol Eduardo Mendoza (Sextante Editora), que veio incluído num extracto pré-publicado no número de Novembro da revista Os Meus Livros. Achei a cena deliciosa: um inglês viaja num comboio espanhol, na Primavera de 1936, e é abordado por "um homem de idade e condição imprecisas, com a cabeça rapada e um amplo bigode republicano". O inglês sabe falar castelhano, mas a passagem refere-se ao momento em que o indivíduo que o interpela ainda não se apercebeu disso.

- Inglis?
A pergunta sobressaltou-o. Absorvido na redacção da carta, mal tinha reparado na presença de outros passageiros no compartimento.
(...)
- Eu não falo inglês, sabe? - continuou a dizer, perante a aparente aquiescência do inglês à sua pergunta inicial. - No inglis. Eu, espanis. Você inglis, eu espanis. A Espanha muito diferente da Inglaterra. Different. Espanha, sol, toiros, guitarras, vinho. Everibodi olé. Inglaterra, no sol, no touros, no alegria. Everibodi kaput.
Ficou calado durante uns momentos, a fim de dar tempo ao inglês para assimilar a sua teoria sociológica, e acrescentou:
- Em Inglaterra, rei. Em Espanha, no rei. Antes, rei. Afonso. Agora já não há rei. Presidente: Niceto Alcalala Zamora. Eleições. Mandava Lerroux, agora Azaña. Partidos políticos, todos os que quiser, todos maus. Políticos desavergonhados. Everibodi cabrões.

Eu adoro este tipo de escrita, que transmite os tiques de um povo, sob uma fina ironia. E, afinal, não somos assim tão diferentes de nuestro hermanos.

Everibodi olé! Everibodi cabrões! Ora bem.

26 de fevereiro de 2012

Respeito pela Vida

Deixo-vos com as bonitas palavras da Ana Domingos, prestes a tornar-se veterinária:

Somos apenas mais uma espécie no meio de milhões, um ser vivo com determinadas características rodeado por um infinito de outros seres com um outro infinito de características distintas. Todas são especiais à sua maneira, todas têm o seu papel a desempenhar neste complexo ecossistema chamado Terra. E não podemos, de forma alguma, esquecermo-nos disto. Devemos sentirmo-nos humildes perante a vida que nos rodeia, pois a verdade é que não fazemos a mínima ideia das capacidades extraordinárias que essa vida detém. Quem nos garante que a existência daquela espécie que tratamos como se fosse nada não foi essencial para que a nossa própria espécie pudesse ter surgido? Nós, que procuramos tão avidamente distanciarmo-nos das outras espécies que vemos como inferiores, dispensáveis e que podemos destruir a nosso belo prazer, somos tão semelhantes a elas que nem imaginamos o quanto. Afirmamos que não somos animais, somos pessoas. Afirmamos que não temos nada a ver com o porco que esventramos num matadouro. Afinal somos pessoas, não porcos. Como nos enganamos! O sangue que corre nas veias de um porco, de uma vaca, de um leão, de um cão, de uma gaivota, de um golfinho é o mesmo. Só muda o aspecto do recipiente onde este corre. A vida deve ser respeitada, independentemente do aspecto que adoptou. Afinal, um corpo coberto de penas não é mais desprovido de vida que um coberto de pelos. E certamente que um humilde e discreto veado não tem menos vida que um arrogante e egocêntrico humano.

24 de fevereiro de 2012

Somos aquilo que somos, ou aquilo que nos levaram a ser?

Acreditamos naquilo que acreditamos, ou naquilo em que nos levaram a acreditar?

Se aquilo que nos ensinaram a ser nos prejudica e nos faz infelizes, talvez devamos reflectir e perguntarmo-nos se devemos mudar o rumo da nossa vida. Para isso, é preciso, aliás, saber que rumo queremos seguir. O que nem sempre é fácil.

Na minha opinião, aqui é importante a desmistificação do egoísmo. Aprendemos, desde tenra idade, que o egoísmo é um defeito terrível. E, no entanto, só poderemos fazer o bem aos outros, se estivermos bem connosco próprios, isto é, eu só tenho energia para fazer o bem à minha volta, se, antes disso, gastei energia a fazer o bem a mim próprio. Quem se sente amargurado, injustiçado, sem auto-estima, pouco terá para partilhar. Devemos então perder o medo de fazer algo por nós próprios.

Mas o que é o bem para nós próprios? Talvez ajude ouvir a nossa criança interior. Agostinho da Silva disse gostar das crianças, antes destas serem "estragadas" pela família e pela escola. E é descobrindo essa criança que fomos, antes de nos terem "estragado", que começamos a compreender aquilo que nos faz bem e o que queremos. É bom mantê-la dentro de nós e conversar com ela, de vez em quando.

Salvo raras excepções, os pais e os educadores acreditam que estão a agir para nosso bem. Mas, muitas vezes, enganam-se. E é um grande desafio, para todos nós, descobrirmos e, mais difícil ainda, aceitarmos o que nos "estragou". Mas só assim descobrimos o nosso verdadeiro ser.

22 de fevereiro de 2012

Pré-publicação #3


A ansiedade em que começou a viver mergulhava-a no caos. Era como se alguém tivesse desestabilizado uma balança, não se sabendo agora para que lado iria pender, nem, tão-pouco, em qual dos pratos pousava o discernimento, em qual a insânia. Ela seguia aquele movimento sem se conseguir decidir, desejando, no seu íntimo, dar com o lado errado, mesmo que o prazer por ele proporcionado fosse efémero. Passara os últimos seis anos a construir um futuro estável e sólido. Agora, o seu horizonte limitava-se a alguns dias, toda a sua vida parecia convergir para o sábado seguinte, como se, para além dele, não houvesse devir.

21 de fevereiro de 2012

Poesia Fresca

Uma luz que nos nasce por dentro, editado pela Lua de Marfim, é o novo livro de Virgínia do Carmo, a ser lançado no próximo Sábado, 25 de Fevereiro, pelas 16h 00, no Auditório do Campo Grande, nº 56, em Lisboa (convite, aqui).


Virgínia do Carmo é autora de outros dois livros de poesia: Tempos Cruzados (Pé de Página Editores, 2005) e Sou, e sinto (Temas Originais, 2010). É também autora do blogue Crescendo nas Palavras.

Parabéns, Virgínia, e muito sucesso!

20 de fevereiro de 2012

Esperteza canina


- Cá p'ra mim, estás a esconder-me alguma coisa!


- O que é isso que tens na tua mão?


- Hei, o meu biscoitinho preferido!


- Que bom, obrigada.

19 de fevereiro de 2012

Entrevista (5)

Extracto da entrevista dada à Joana Dias do Páginas com Memória:

Depois de tudo o que aprendeu durante as pesquisas que efectuou, para escrever os seus livros, com que ideia ficou dessas figuras da nossa história?

Tanto D. Afonso Henriques, como D. Dinis, são homens perfeitamente enquadrados nas épocas em que viveram. Nem D. Afonso Henriques foi sanguinário e violento demais, nem D. Dinis tão mulherengo como se diz. Ambos foram inteligentes, corajosos e bons diplomatas, mesmo o primeiro rei. Marcaram uma época, são, sem dúvida, os dois monarcas mais importantes da nossa Idade Média. Para isso, também contribuiu o facto de os seus reinados terem sido longos. D. Afonso Henriques é mesmo um caso notável de longevidade, podemos concluir que gozava de uma saúde de ferro. D. Dinis teria sido vítima de excessos que, na época, não se sabia fazerem mal, pois não havia análises ao sangue, nem se media a tensão arterial. Era poeta, mais um homem de relações pessoais e de gabinete; D. Afonso preferia a acção, mas eu acho que também foi um homem sensível, com, aliás, se nota no meu livro.

Ler a entrevista completa aqui e aqui.

18 de fevereiro de 2012

Relato de um episódio não ocorrido


Não posso relatar nada de verídico sobre o caso de uma aluna que veio ao meu gabinete ver a correção de um exame de Álgebra, pelo simples motivo de que nunca lecionei essa disciplina. Por conseguinte, não me comprometerei se disser o que quer que seja sobre o hipotético comportamento de uma aluna que não veio à minha sala ver a correção do exame de uma disciplina que nunca lecionei.

Ler o texto completo aqui.

16 de fevereiro de 2012

Personagens inesquecíveis

Há uns tempos, no 2711, chamava eu a atenção para o facto de J.R.R. Tolkien ter sido recusado para o Prémio Nobel, há 50 anos, o que nos levou à questão do valor literário de livros que vendem como pãezinhos quentes. Mas sucesso comercial não quer necessariamente dizer fraca qualidade. E há certos livros, que, não sendo obras-primas da literatura, contêm em si a fórmula que os catapulta para o imaginário colectivo.

Lembrei-me disso ao ler que um fã das obras de J.R.R. Tolkien criou uma árvore genealógica de todas as personagens que habitam o mundo fictício da "Middle Earth" (...) O aficionado (um engenheiro químico sueco) disponibilizou a árvore online na semana passada e o projecto já envolve 703 personagens, mas Johansson acredita que ainda lhe faltam cerca de 100 (via Blogtailors).

Outros livros há que levam os seus fãs a confundirem ficção com realidade. Muita gente está convencida de que Sherlock Holmes existiu e há turistas em Londres, que, vendo-se na Baker Street, vão à procura do número 221B, para tirarem fotografias à casa onde viveu o mais famoso detective da História! Acontece que, como Sherlock Holmes, também o número 221B era, à altura, produto da imaginação de Sir Arthur Conan Doyle. Quando a Baker Street foi aumentada, o número 221 passou realmente a existir, o que, aliás, tem causado alguns problemas, como se pode ler aqui.

A qualidade literária dos livros de J.K. Rowling deixa muito a desejar. Mas ela conseguiu algo que 99% dos vencedores de Nobel nunca conseguirão: o seu Harry Potter, além de fazer parte do imaginário colectivo, também é usado como metáfora aceite no mundo literário e entendida a nível mundial. Num post sobre ficção científica para crianças, li o seguinte: Que livros do género são apropriados para crianças? Haverá algum tipo de Harry Potter na ficção científica?

Livros e personagens que transcendem a vida de quem os criou. Se isto não é talento...

15 de fevereiro de 2012

Liebster Blog

A branca de neve teve a amabilidade de me enviar o selinho

Muito obrigada!

Eu repasso-o a outros cinco blogues com menos de 200 seguidores (eu até escolhi quem tem menos de 100) e convido cada um deles a fazer o mesmo:

Avançando

Crónicas de um Matemático Exilado no Mundo

Crónicas do meu Descontentamento

Montalvo e as Ciências do Nosso Tempo

Moura Aveirense

14 de fevereiro de 2012

Espelho da alma


Dirigirmo-nos a alguém e esse alguém olhar-nos como se fôssemos a coisa mais importante à face da Terra, mobilizando todos os meios ao seu dispor, a fim de nos tentar entender. Atenção e interesse puros, sinceros.

Quantas pessoas conhecemos capazes de nos olharem assim?

E quantas vezes o fazemos, em relação a outros?

12 de fevereiro de 2012

O Livro de Cale


Carlos Cordeiro apresenta-nos o Condado Portucalense na segunda metade do século XI, ainda antes de o conde D. Henrique, pai de D. Afonso Henriques, ter tomado conta dele. Confesso, no entanto, que esta leitura não me empolgou. O enredo não me pareceu bem doseado: partes em que muitos assuntos são explicados, em catadupa, alternam com diálogos extensivos, que pouco dizem. Às vezes, nem percebi bem sobre o que é que as personagens estavam a falar. Além disso, não me foi bem claro se o autor resolveu misturar o género fantástico com o histórico, ao pôr monges da ordem de Cluny a treinar técnicas de combate e o uso das armas, passando por provas de coragem e perícia mais ao estilo das artes marciais, e a ter direito a quebrar o seu celibato. Sei que, nesta altura, o celibato ainda não era um prerrogativa do clero secular, mas o mesmo não se aplicava ao regular.

O mistério do manuscrito de Cale, tal como é apresentado, não tem continuidade histórica, já que o Condado Portucalense, como sabemos, foi parar às mãos de um francês, que não tinha ligação nenhuma com as famílias nobres de Portucale e que veio a ser o pai de D. Afonso Henriques. Por outro lado, talvez fosse interessante dar continuidade a este enredo, criando uma História paralela à real, ao pôr o Condado nas mãos do sucessor do conde Nuno Mendes.

Uma palavra de apreço para a capa, de que gosto muito.

9 de fevereiro de 2012

Essa vida de escritor...

À velocidade a que se edita, não admira que a vida dos livros seja curta. Parece que se resume a sete semanas. Por isso, é interessante verificar que um livro encontrou o sucesso ao fim de 25 anos!

Segundo o autor (Michael Morpurgo): "It nearly won a prize but failed (...) It simply was not a book that anyone really knew about or cared about."

Pois é! Até que alguém, há um par de anos, resolveu adaptá-lo ao teatro. Mas a verdadeira glória chegou agora que Steven Spielberg o adaptou ao cinema. O filme foi nomeado para os Óscares e o livro vendeu mais exemplares em 15 dias no Reino Unido do que em 25 anos no mundo inteiro!


Nem sei se deva rir, ou chorar. Quem tem autoridade para decidir se um livro é bom, ou mau? O que é que o público compra? Aquilo de que gosta, ou aquilo que lhe enfiam, em campanhas de marketing?

Diz-se que a esperança é a última a morrer, um ditado que se adequa perfeitamente a essa profissão ingrata que é a de escritor. Horas e horas de dedicação. Perdidas, ou ganhas? Vale mesmo a pena? Alguém vai notar? Alguém vai reconhecer o valor daquilo que produzimos?

Diz-se, ainda, que quem corre por gosto não cansa... Enfim, é bonito verificar que, quando o sucesso chega, o escritor ainda está vivo.

Brindo à saúde de Michael Morpurgo!

8 de fevereiro de 2012

Pré-publicação #2


Os gritos estancaram-se-lhe na garganta. O mundo constava apenas de uma dor infinita, que não era só física. Havia uma outra, provocada por humilhação e culpa incomportáveis. O seu corpo parecia cair num poço fundo, a uma velocidade vertiginosa, enquanto a sua mente se mantinha à superfície, flutuando. Era como se ela se tivesse dividido em duas e o seu corpo já não lhe pertencesse. Os olhos verdes-água fixaram-se vítreos nas copas dos choupos que a rodeavam. A parte de si que se compunha do seu pensamento, o seu verdadeiro ser, ascendeu ao cimo das árvores, que se moviam com o vento. No chão, o Fuças, de respiração ofegante, movia-se dentro de um corpo inanimado.
Depois de soltar um grunhido, ele ficou, por momentos, imobilizado em cima dela. Largou-lhe o braço torcido, mas ela deixou-o naquela posição. Já não sentia a dor, o braço não lhe pertencia, nada naquele corpo lhe pertencia. O seu olhar vazio continuava fixo nas copas das árvores, movidas por um vento cada vez mais forte. Ela encontrava-se lá em cima, a balançar, ao sabor do vento…

6 de fevereiro de 2012

Ainda o pastel de nata, ou: maneiras de sair da crise

Há coisa de um mês, a Zélia Parreira, minha colega do 2711, publicou um post sobre a fulminante proposta do Sr. Ministro Álvaro Pereira de comercializar os nosso pastéis de nata, ou de Belém, como modo de sair da crise, pois, segundo ele, as natas não tinham sido nunca até hoje internacionalizadas. Na altura, escrevi o seguinte comentário:

É mentira! Eu já vi um programa de TV aqui na Alemanha sobre o pastel de nata e como ele é comercializado em várias partes do mundo! Chamam-se "portuguese custards". Aliás, de Macau, passaram à China, onde são vendidas em estabelecimentos de "fast-food". Não sei se a receita é a original, mas têm o mesmo aspecto. E os chineses deliciam-se! Não pagam é direitos de autor!

Confesso que não me lembro do nome do programa, nem sei quando o vi, nem em que canal, o que tornava estas minhas afirmações pouco credíveis. Pois agora posso afirmar, com toda a certeza, que o pastelinho de nata é mesmo um sucesso comercial na China! O Exilado, numa das suas viagens àquele país, tirou, há cerca de três anos, esta fotografia:


Lá está ele, o produto que nos poderia tirar da crise, já conhecido de todos os chineses, bem divulgado nessa grande cadeia de fast-food que é a KFC!

Por sugestão do Exilado, fui dar uma espreitadela ao Belém Livre, que nos diz que o valioso pastelinho, afinal, foi introduzido em Hong Kong por um casal de ingleses e que, daí, se espalhou por toda a China.Mas isto ainda não é tudo!

Fui ao Google e enfiei lá portuguese custard tarts (também dá com portuguese egg tarts) e encontrei tantos resultados, tanta receita em língua inglesa, que nem sabia para onde me virar. E a página inglesa da Wikipedia diz: they are common in Portugal, the Lusosphere — Brazil, Angola, Mozambique, Cape Verde, São Tomé and Príncipe, Guinea-Bissau, Timor-Leste, Goa, and Macau — and countries with significant Portuguese populations, such as Canada, Australia, Luxembourg, the United States, and France, among others.

Posso confirmar. Em Hamburgo, qualquer café português (propriedade de emigrantes) vende o pastelinho de nata. Além disso, também dei com um blogue que informa onde encontrar the best portuguese custard tarts in Toronto, o youtube apresenta vários vídeos, onde se pode acompanhar a confecção deste prodígio da culinária, e até a página do cozinheiro Jamie Olivier nos dá a receita.

Tenho muita pena, Sr. Ministro, mas já perdemos esta corrida. Porém, não desanime! Aconselho-o a ir dar uma olhada à proposta do Exilado de comercializar um outro doce cá da casa, bem popular: a eterna cavaca! Que teria a vantagem de se encontrar facilmente um "padrinho" para a campanha de divulgação...

Também aqui.

5 de fevereiro de 2012

A ode ao cheiro do papel

«Resistir à tecnologia parece ser uma obrigação entre aqueles que têm mais ligações aos livros e às livrarias. Um dos argumentos frequentes é o cheiro do papel. Falta na literatura portuguesa uma ode ao cheiro do papel.»
Palavras do escritor José Luís Peixoto, publicadas na Time Out e citadas no número de Janeiro da Os Meus Livros.

Confesso que gostei de ler estas palavras. Também eu já estou farta desse argumento do "cheiro do papel", para defender o livro convencional em relação ao electrónico. Não digo que não tenha a sua razão de ser. O problema é que, de repente, toda a gente gosta de cheirar o papel dos livros, até o faz quem nunca lê. Basta dizer-se que se adora o cheiro do papel, para se ser olhado com respeito, considerado um literato.

Apetece-me usar aquela expressão de "crescem como cogumelos", a que, por acaso, os alemães dão outra graça, porque dizem algo como "disparam da terra como cogumelos" (schießen wie Pilze aus dem Boden). Talvez fosse uma boa maneira de iniciar a tal ode ao papel:

Disparam da terra como cogumelos,
aqueles que se deliciam com o cheiro do papel.

P.S. Isto não tem nada a ver contigo, fallorca, nem com o teu excelente blogue. Aliás, fala-se em "cheiro do papel" e, não, em Cheiro dos Livros. E os teus livros "sabem ao cheiro do café" ;-)

3 de fevereiro de 2012

Opinião Afonso Henriques (V)

Desta vez, foi a Joana Dias, do Páginas com Memória, que deu a sua opinião sobre Afonso Henriques, o Homem:


Não lhe interessa contar uma história que já foi centenas de vezes contada sobre os feitos heróicos de D. Afonso Henriques, interessa-lhe sim contar quem foi o homem de carne e osso por trás do herói.

Outra personagem que nos é apresentada de forma convincente e elucidativa é D. Teresa, geralmente apresentada ora como uma vítima do filho que a prende, ora como uma víbora e má mãe que desgraça a memória do defunto marido e se vira contra o próprio filho. D. Teresa não é nenhuma das duas coisas (...) É antes uma mulher de quem o filho herda grande parte do feitio, que tem uma personalidade invulgarmente forte e lutadora para as mulheres da época (...) que acredita que luta pela sua herança pois o Condado Portucalense pertencia originalmente ao seu pai. Morto o marido ela vê-se como herdeira legítima, por direito de sangue.

Não existem por parte da autora julgamentos de valor relativamente aos povos e aos personagens. Ela não diz se é D. Afonso ou D. Teresa quem tem razão na luta, não nos diz quem são os heróis ou os vilões da história (...) o que existe são personagens de carne e osso, com diferentes motivações, que não os tornam melhores nem piores. E é isso que torna este livro único: não estereotipar tudo e todos.

1 de fevereiro de 2012

Viv'Arte - História ao Vivo


Quando publiquei este post sobre associações que se dedicam à recriação histórica, houve alguém que me chamou a atenção para a companhia de teatro Viv'Arte. E ainda bem que o fez! Estando na Alemanha, tenho dificuldade em acompanhar o que se vai fazendo em Portugal neste domínio e encorajo todos os que por aqui passarem a darem-me informações deste tipo.

O trabalho dramatúrgico do grupo Viv'Arte consiste na fusão entre Teatro e Recriação Histórica, aliada a um conceito de Teatro de Rua. A companhia actua, nas Feiras, de forma aparentemente desconexa, mas organizada, através de actores e figurantes com papéis bem determinados, recriando por um lado a nossa leitura do tempo histórico e construindo em simultâneo uma dramaturgia global.


Acho este projecto interessante, porque conta com a improvisação e a participação do público:

Podemos dizer que a peça que representamos é a Feira, na consciência de que apenas dominamos uma pequena parte do seu desenrolar, já que o público é sua parte integrante, colocando o improviso como condição necessária ao seu desenrolar. A pedagogia só resulta na interacção.


No site da Viv'Arte encontram-se informações sobre todas as suas actividades, além dos contactos, fotos, vídeos e uma secção de Notícias, que funciona como um blogue.