Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

31 de dezembro de 2011

A todos, um Bom 2012!

Muito aconchegadinho!


Porque, se não tivermos mais nada, temo-nos uns aos outros!

Costumes Curiosos (2)

Vamos então ao fenómeno Dinner for One!


Dinner for One, também conhecido por The 90th Birthday, é um sketch de comédia britânico, com cerca de 15 minutos de duração, escrito para o teatro nos idos anos 1920. Em 1963, a NDR, estação televisiva alemã, gravou uma representação que se tornou na peça televisiva mais repetida de todos os tempos (registada como tal no Guinness Book of Records, 1988-1995; as edições posteriores não contemplam esta categoria).

E agora eu digo-vos como foi atingido este recorde: os alemães deliram tanto com esta peça (um fenómeno difícil de explicar, pois aqui não se aprecia muito aquilo que vem das ilhas Britânicas), que ela é repetida, desde 1963, todos os anos, na véspera de Ano Novo! E isto não só num canal televisivo, mas em vários! Milhões de alemães vêem o sketch ano após ano e desfazem-se em riso, mesmo aqueles que não percebem patavina de inglês. E isto constitui o próximo fenómeno, pois a transmissão alemã não tem legendas, nem é dobrada!

Trata-se de uma senhora que, no seu aniversário, convida sempre quatro amigos muito especiais. No dia do seu 90º aniversário, porém, já nenhum deles está vivo. A senhora recusa-se a aceitar esse facto e o seu mordomo, também ele já velho, põe a mesa como habitualmente e serve o jantar, constituído por quatro pratos. O homem vê-se obrigado a representar o papel dos quatro convidados e a brindar, por cada um deles, entre o servir de cada prato. Apanha uma grande bebedeira e o cómico do sketch está precisamente no facto de ele servir à mesa, cada vez mais borracho.

A peça tem piada, mas não sei porque é que os alemães a vêem, todos os 31 de Dezembro, há quase 50 anos!

Para quem estiver interessado, pode ver o sketch aqui. Embora acuse o pó dos anos, é divertido. Escolhi uma versão com legendas francesas, porque a alemã (sem legendas) tem um apresentador que, no início, fala cerca de três minutos.

29 de dezembro de 2011

Costumes curiosos (1)

Os alemães são vistos com muita desconfiança por terem provocado duas guerras mundiais no mesmo século, muita gente se pergunta que tipo de povo é este. Depois de quase 20 anos na Alemanha, não vejo grandes diferenças, no geral. Há gente de que gosto, há gente que me irrita, há simpatias, há hipocrisias, etc. Mas é claro que há muitas diferenças, em relação a Portugal. Este post da Rita fez-me lembrar uma característica alemã curiosa: o costume de ver, repetidos até à exaustão, certos filmes e/ou programas de televisão e surpreender-se, ou rir-se, de todas as vezes como da primeira! Isto é tanto mais estranho, porquanto se trata de películas sem qualidade, algumas delas mesmo imbecis.

Começo pelos filmes da dupla Bud Spencer/Terence Hill. Não sei se se lembram do cow-boy Trinitá, ou dos Dois Missionários. Pois! Estes eram os únicos filmes que eu conhecia da dupla italiana (que já me aborreciam quando eu tinha 12 ou 13 anos). Mas isso era antes de vir para a Alemanha. Há muitas mais destas "obras de arte", cada uma mais imbecil do que a outra. São constantemente repetidas por alguns canais alemães, a ponto de representar excepção passar mais de meio ano sem isso acontecer!
Ao fim de 20 anos, uma pessoa acaba por tomar mais ou menos contacto com os filmes e houve um que me chamou a atenção. O título original é Non c’è due senza quattro, rodado no Rio de Janeiro, nos anos 80, e conta com a participação de actores de telenovelas que eu conhecia, dessa altura.


Resta dizer que Bud Spencer publicou, há meses, uma auto-biografia e conquistou os tops de vendas de livros cá do burgo!

Outro costume deste género tem por objecto os filmes de Louis de Funès, esse francês colérico, que dá pulinhos como um coelho a pilhas e se desfaz em esgares imbecis. Na verdade, ele teve algumas actuações de mérito e é muito considerado em França, mas a maior parte das películas são mesmo para atrasados mentais, especialmente, as do Gendarme de St. Tropez.


Os alemães adoram os filmes de Louis de Funès e - socorro gente - há dezenas deles! Cada um já mostrado pela milionésima vez, claro!

Um outro exemplo é uma trilogia, aqui considerada como um "clássico do cinema" (mas só mesmo aqui). Data dos fins dos anos 50/princípios de 60 e trata-se de um western de produção europeia, rodado em terras jugoslavas (já isto chega para nos pôr o estômago às voltas). A personagem principal é um índio, chamado Winnetou, que trava amizades fraternas com "brancos", que têm nomes sugestivos como Old Surehand, ou Old Shatterhand. Esta trilogia põe esta nação de trabalhadores disciplinados e, normalmente, nada dados a pieguices, a chorar baba e ranho! E, sim, no passado 24 de Dezembro, houve um canal que transmitiu a trilogia completa, de enfiada!


Os filmes são baseados na obra de Karl May, um autor alemão do século XIX, que escreveu inúmeros livros de aventuras.
Nos meus primeiros tempos neste país, numa reunião de família (sogros, cunhados, sobrinhos), começaram todos a falar de Winnetou. Ele era Winnetou para aqui, Winnetou para acolá... Decidi-me a perguntar: "Mas, quem é Winnetou?" Todos me olharam como se eu viesse de outro planeta!

Enfim, um outro caso digno de estudo tem a ver com um antigo sktech britânico, intitulado Dinner For One, este sim, com a sua piada. Mas merece um post exclusivo, até porque se aproxima a data em que ele será mostrado pela, sei lá, trilionésima vez!

28 de dezembro de 2011

Passatempo Fado/Cruz de Esmeraldas

Como prometido, aqui ficam extractos de textos que, apesar de não terem vencido o passatempo, são dignos de menção.

A Ana Sofia Allen cita Fernando Pessoa: "O fado é o cansaço da alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e também o abandonou". Identificando o fado como "dor transformada em música", Ana Sofia Allen explica porque o fado é entendido noutros cantos do mundo:

Com o coração [os estrangeiros] sentem o que as palavras não entendem - um profundo pesar e um encantamento próprio que só o fado pode dar.
(...)
E tal como um insecto pode ser preservado em âmbar durante milhares de anos, o fado continuará a preservar e a alimentar a essência humana, com o mesmo brilho e profundidade da resina.
(...)
A partir de agora, o fado (...) é um tesouro do mundo. Um tesouro que fala de Portugal, da sua cultura, da sua língua, dos seus poetas, mas também de algo comum a todo o ser humano - os sentimentos.

O Pedro enviou um dos seus poemas, que, na sua simplicidade e economia de palavras, tanto dizem:

o fado moderno
o fado antigo
o fado da tasca
é tudo fado

de verdade, o fado
é fugidio
é o fado do eu
o fado da dor

A Cristina Tordo intitula o seu texto Fado de um rio e faz um interessante paralelismo entre o fado, que nasce "alheio às limitações de uma cultura", e o Tejo, que não sabe "o que é ser-se prisioneiro de uma fronteira, limitações dos homens":

Na melodia de uma guitarra este lamento é poema, num canto que de tanta boémia, soa a santidade.
(...)
Por viver na alma do povo, o fado herdou a liberdade em ser do mundo, como um copo de taberna que transborda sobre a mesa. Mas tal como o Tejo, o fado será sempre nosso!

Os meus agradecimentos a todos os que participaram. Surgirão novas oportunidades (com outros temas), pois tenciono repetir esta experiência gratificante.

26 de dezembro de 2011

Passatempo Fado/Cruz de Esmeraldas

"A algunos de mis amigos de España (aunque también de otros países) no les gusta el fado. A mi sí."

Bartolomé Bauzá


Devido à qualidade e beleza de alguns textos, a escolha foi difícil. Decidi-me pelo de Bartolomé Bauzá, apesar de, em parte, ser escrito em castelhano. Ou talvez por causa disso! Habituada a considerar o fado algo de que só os portugueses falam (em 19 anos de Alemanha, só uma única pessoa me falou no fado, sem eu o ter referido antes), confesso que me surpreendeu esse jeito de escrever sobre o fado em castelhano. Sobretudo em castelhano! E, no meio da hesitação, teria de haver algo que ditasse a decisão final.

Num próximo post publicarei extractos de outros textos de que gostei particularmente. Para já, deixo-vos com o vencedor:


A algunos de mis amigos de España (aunque también de otros países) no les gusta el fado. A mi sí. Oí que el fado tenía sus orígenes en las cubiertas de proa de los barcos que hacían la ruta de ultramar.

Eu sou marinheiro, como o meu pai e os meus dois avôs;  talvez para compreender o fado é preciso entender primeiramente o mar.

La mar, como decimos en España. En femenino, como un nombre de mujer.

Maria Lisboa. María del Mar.

Un amigo mío -otro, a éste le gusta el fado- me citaba a Rilke: hace falta una vida para escribir un verso.

Faz falta uma vida para cantar um fado...
Faz falta uma vida para ouvir um fado...

Faz falta uma vida para compreender o fado.

Quizá es porque no han vivido. No lo suficiente. No con intensidad. No en la mar.

Não com saudades.

No con miedo.  Separados de quién se quiere.

María del Mar. Maria Lisboa.

Isso são saudades…

Para trabajar en la cubierta de proa de un barco hace falta ser un hombre duro. Miro hacia atrás, a la costa que se aleja. Todavía hay alguna gaviota con nosotros.

Nao gosto do meu companheiro. Ele tem um walkman. Rock and Roll.
Eu tenho, as gaivotas, ainda.
Eu tenho o fado. Cá, na minha cabeça.
Lá, na costa. Nos seus lábios cantores.

Definitivamente, no me gusta ese tipo.

María del Mar. Maria Lisboa.

24 de dezembro de 2011

Um Conto para o Natal

Lido algures

Era uma vez um mosteiro que tinha dificuldades em recrutar novos monges. As zangas eram constantes, na procura da culpa para a situação. O abade resolveu aconselhar-se com um eremita, que, depois de ouvir as suas queixas, apenas declarou: «O Messias está entre vós»!
O abade regressou confuso ao mosteiro e limitou-se a anunciar: «O Messias está entre nós»! Os monges estupefactos desataram a perguntar uns aos outros: «Quem poderá ser? É o irmão José o Messias? Ou o irmão João? Ou o próprio abade? Ou sou eu próprio?»
A partir daquele dia, nada mais foi como dantes. Os monges encaravam-se com respeito, as zangas terminaram, assim como os receios quanto ao futuro do mosteiro. Trabalhavam com afinco, celebravam os Ofícios Divinos com maior convicção e davam mais atenção às palavras da Bíblia. A comunidade exalava a luz de quem, finalmente, encontrou o seu caminho e possuía a esperança de alcançar o seu objectivo.
Os visitantes do mosteiro ficavam impressionados com o espírito que lá se vivia e falavam sobre isso nas suas cidades. Cada vez havia mais gente com vontade de conhecer aquele sítio. Muitos desejavam fazer parte daquela comunidade e tornavam-se monges.

Os resultados podem ser surpreendentes, se respeitarmos as pessoas à nossa volta e se demonstrarmos confiança nas suas capacidades!

A todos os que por aqui passam, desejo um Feliz Natal!


22 de dezembro de 2011

Passatempo (VIII)

Adenda de 24.12.2011:
Com o Passatempo fechado, resta-me agradecer a todos os participantes. A escolha vai ser difícil, há vários textos bons. Publicarei o resultado no início da próxima semana!


Às 23:59 de amanhã, 23 de Dezembro, acaba o prazo para o envio dos textos do passatempo. Eu já tenho um favorito. Ou será que ainda aparece algum melhor?

Informe-se aqui sobre o tema ;-)

21 de dezembro de 2011

Vida inventada

Da autoria de J. Rentes de Carvalho:

É humana, muitas vezes até simpática, a curiosidade pela vida alheia, mas mesmo que se trate de uma que não seja corrente nas peripécias e de desenlaces imprevisíveis, ninguém quer a versão original. Há por parte de quem pergunta o anseio quase infantil de ouvir histórias, casos incomuns, e por seu turno o narrador alegremente cumpre, evitando os escolhos, sobrepondo a versão cosmética à da realidade.
Bem é que assim seja e muito desagrado se poupa, pois do mesmo modo que evitamos  desnudar-nos em público, acalentamos, uns e outros, a ilusão de que somos interessantes ou até excepcionais.
Metendo a mão no peito, sabemos que de facto nenhuma vida se conta, nem talvez se possa  contar, já que a verdadeira até de nós próprios a escondemos.
Graças a Deus, que tudo arranja, faz Ele com que isso não nos torne infelizes, deixando-nos viver a vida que inventamos, mais  fácil de suportar.

19 de dezembro de 2011

Peto

Hoje, ao divagar pela lista dos blogues que sigo, deparei com o Peto. E o Peto sobressaiu de todos os outros posts. A figura do Peto, a sinopse do livro e a opinião, escritas com tanta sensibilidade e carinho pela Maria Manuel, do Marcador de Livros, tocaram-me tanto, que aqui vai:


Sinopse:
O Peto apareceu na rua, ainda bebé, e lá viveu durante doze longos anos, comendo dos caixotes do lixo. A certa altura, duas senhoras repararam nele e foram-no protegendo como podiam, dando-lhe comida e água. E ele por ali foi ficando. Foi recolhido duas vezes por pessoas que o voltaram a abandonar porque, afinal, era grande demais ou deixava a casa cheia de pelos. Na sua vida na rua, foi agredido diversas vezes e durante muito tempo teve dificuldade em usar as patas traseiras. Foi também atropelado mais do que uma vez. Chegou a ser esfaqueado na barriga. Tinha Leishmaniose, e por dormir tantos anos ao relento sofria ainda de artrite, passando a ter de tomar medicação quatro vezes ao dia. Foi atacado diversas ocasiões por cães com «donos perigosos» e o seu corpo ficou marcado por várias cicatrizes. Enfrentou duas denúncias de vizinhos, que não o queriam ali. Numa das vezes acabou num canil para ser abatido, como tantos outros cães vadios. Mas foram buscá-lo e ele voltou à sua rua. A sua sorte mudou quando, um dia, Paula, reparou no cão meigo e triste que se arrastava cheio de sangue, terra e pó. Começou por lhe limpar as feridas. Acabou por saber a sua história e seis meses depois, em Novembro de 2005, levou-o para casa e encheu-o de amor. Peto escapou da morte nesse inverno.

A minha opinião:
Esta é a história de um cão de rua sortudo que apanhou pela frente Paula Cairo uma defensora dos animais como há poucas. Foi levado para casa da autora do livro com doze anos e que, apesar de nunca ter tido cães e ter já alguns gatos em casa, não hesitou e acolheu o cão de olhos doces e que precisava de carinho e de cuidados. E até se ter transformado numa grande amizade foi um passo. A partir daí nunca mais se largaram. Peto foi o seu companheiro até à morte deste, aos 18 anos. Por tê-lo adoptado foi olhada por diversas vezes de lado e criticada, teve de mudar de casa porque os seus vizinhos não aceitaram bem aquela adopção, mas mesmo assim Paula não esmoreceu e levou a sua ideia avante: não iria largar Peto. E foram muito felizes juntos, vivendo várias aventuras com outros animais que foram vivendo também nas suas casas.
Também eu adoro animais e não consigo ver ninguém a maltratá-los, mas admiro a coragem da autora e adoptá-los e dar o seu amor pelos seus amigos de quatro patas. Também eu tenho uma gatinha e esta também faz parte da família. É tratada como tal por toda a gente e é assim que deve ser. Infelizmente nem todos pensam assim e a lei não pune os infractores...

Pois, a lei não pune os infractores...

Por aqui, já se vai fazendo alguma coisa. Por estes dias, em Hamburgo, um homem  atirou com um cão Jack Russell Terrier (a raça da minha Lucy) contra a parede, por ele ter roubado um pão que estava em cima de uma mesa. O homem estragou-lhe a anca de tal maneira, que o cãozinho, de apenas um ano, vai ter problemas durante toda a sua vida.
O homem foi condenado, por um tribunal, a pagar cerca de 2.600 euros. Acho pouco!!!

18 de dezembro de 2011

"Deves amar o próximo como a ti mesmo"

Assim nos ensina a Bíblia. Mas sejamos sinceros: quem consegue dizer que se ama? Não nos achamos cheios de defeitos? Não nos tratamos mal, chamando-nos de parvos e estúpidos? Não nos achamos, inúmeras vezes, inferiores aos outros e não desejamos ter a vida deles, que julgamos mais felizes do que nós?

Condenamos o egoísmo. E há um egoísmo prejudicial, sim, mas ao mesmo tempo, existe um egoísmo saudável e, eu diria mesmo, vital. Não encontraremos paz interior, enquanto não nos ocuparmos de nós próprios. Só assim reuniremos condições de amar e ajudar o próximo. Caso contrário, somos vítimas fáceis do egoísmo prejudicial e doentio. E aí não adianta que nos preguem a humildade, a obediência, o sacrifício e a paciência. Se não temos nada para dar a nós próprios, também não encontramos nada para os outros.

Dito por outras palavras: antes de irmos ajudar os outros a arrumar a casa deles, será melhor arrumarmos a nossa. Que energia temos para as casas dos outros, se sabemos que, na nossa, reina o caos? Podemos abrigar-nos no artifício de nos distrairmos: enquanto arrumamos o lar alheio, esquecemos a desordem e a sujidade do nosso. Mas tanto maior será a desolação e a tristeza, quando lá regressarmos.

Não devemos ter medo, nem vergonha, de admitir que velamos, acima de tudo, pelo nosso próprio interesse. Não no sentido de nos julgarmos superior aos outros e de querermos ostentar riqueza, enquanto eles se afogam na miséria, mas no sentido de arranjarmos a energia e a paz que nos permitam encarar, seja quem for, em pé de igualdade; a energia e a paz que nos permitem subir ao degrau mais alto, mas, também, descer, sem preconceitos, a um mais baixo, em caso de necessidade.

Devemos tratar de nós próprios como, em criança, desejávamos que os nossos pais nos tratassem.

16 de dezembro de 2011

Tertúlia na Bertrand de Braga



É já amanhã, às 17 horas! Com a moderação do Manuel Cardoso do blogue Dos Meus Livros e colaborador do Destante.

Admiro quem faz crítica de livros na blogosfera. Porque o faz apenas pelo amor aos livros.


15 de dezembro de 2011

Centenário

O post A Conquista do Pólo Sul atingiu a lista dos cinco mais lidos na barra lateral. Presumo que tenha acontecido à custa das buscas do Google, pois fez ontem exactamente 100 anos que o norueguês Amundsen se tornou no primeiro ser humano a atingir esse pedaço de Terra (ou de gelo). Mas a sua conquista foi ensombrada pela tragédia do inglês Robert Scott. Vi, na terça-feira, um documentário actual (data de 2011), na ZDF, sobre o tema. E tornei a verter lágrimas. É uma tragédia humana e animal incrível. Mas o programa era muito objectivo e dei-me conta dos erros sucessivos de Scott.


Enfim, não deixa de ser o meu herói. Porque tenho um fraco pelos britânicos. E porque, como se disse no documentário, ter escrito um tão belo diário. O de Admunsen nem se compara!

Passatempo (VIII)



Neste meu pequeno romance, à volta da Conquista de Lisboa, há um cruzado alemão, a quem os cânticos mouros deixam perturbado, ainda mais, quando ele trava conhecimento com Aischa, dona de uma linda voz.

Neste meu post, afirmei a minha convicção da existência de uma parentela entre os cânticos mouros e o fado. E, aproveitando o facto de este género musical ter sido classificado como Património Imaterial da Humanidade, desafio-vos a escreverem um pequeno texto sobre o fado, que não deve exceder as 300 palavras (cerca de meia página A4 em Times New Roman 12). Quer acreditem nas origens mouras, ou não; quer gostem de fado, ou não. Enviem-me um parágrafo sobre este tema para andancas@t-online.de, até às 23:59 de 23 de Dezembro. O/A vencedor/a receberá um exemplar autografado e com dedicatória de A Cruz de Esmeraldas.

Nota: Está a decorrer um outro tipo de passatempo com o mesmo livro no Viajar pela Leitura.

12 de dezembro de 2011

Passatempos (VII)



Afonso Henriques, o Homem, no Destante


A Cruz de Esmeraldas, no Viajar pela Leitura

Os exemplares serão enviados aos vencedores com dedicatória e autografados.

A partir de quinta-feira, passatempo também aqui, no Andanças!

10 de dezembro de 2011

Consumo exagerado de carne

Eu não apelo à alimentação exclusivamente vegetariana e abomino os substitutos da carne baseados em soja. Mas pergunto: temos mesmo de comer tanta carne? Porque não comer bifes de 180 g, em vez de 250, 300, ou 400g? Basta aumentar o acompanhamento: ao lado do arroz e/ou das batatas fritas, uma boa fritangada de cebola, pimentos e cogumelos, por exemplo. Porque não diminuir a quantidade de carne num guisado? 150 a 200g por cabeça chegam perfeitamente, é só cortar a carne em pedaços mais pequenos e aumentar a quantidade dos outros ingredientes (pimentos, batatas, cenouras, grão-de-bico, etc.).

As informações que se seguem, assim como a imagem, foram retiradas de um jornal católico alemão:


As contas são fáceis de fazer: cada vez mais pessoas comem mais carne. O seu consumo triplicou a nível mundial, desde 1971, na Ásia quadruplicou mesmo, no espaço de trinta anos. Como nos dizem estudos publicados pela Misereor alemã, as rações exigidas para a criação de animais serão, o mais tardar, em 2050, impossíveis de produzir. "A fim de satisfazermos o nosso apetite por carne, precisaríamos de uma segunda Terra", diz Kerstin Lange, da Misereor.

Actualmente, já se utiliza um terço da superfície agrícola para a produção de rações animais, sem contarmos com as pastagens do gado bovino. 18% das emissões de gases nocivos, nomeadamente, o gás metano, vem da criação massiva de animais. Aviários e viveiros gigantescos produzem quantidades enormes de amoníaco, nitratos, metais e antibióticos que infectam os solos e as águas. E não nos esqueçamos de que a produção de carne exige água sem fim, segundo a FAO, para um quilo de carne de vaca são necessários 15.300 litros.

"Continuar desta maneira deixou de ser uma opção", diz-nos Sarah Wiener (cozinheira austríaca), que se empenha numa criação animal sustentável. Organizações ambientais e a Misereor exigem uma reforma da política agrária da União Europeia, a partir do corte das subvenções para a manutenção de aviários convencionais e outros métodos do género. Através da exportação de carne europeia a preços baixos põe-se, igualmente, em causa a existência de pequenos proprietários africanos, tão necessários ao desenvolvimento e ao combate da fome nos seus países.

"A alimentação não é uma questão do foro privado, a alimentação é uma questão política", diz Sarah Wiener.

90% dos animais destinados à nossa alimentação não sabem o que é viver ao ar livre, vivem apertados, sem hipóteses de se mexerem condignamente, em estábulos iluminados por luz artificial. São cortadas as caudas aos leitões, sem qualquer tipo de anestesia, pois os porcos tendem a comer as caudas dos seus semelhantes, quando se vêem em grande stress por falta de espaço. Só na Alemanha, são anualmente gazeados cerca de 50 milhões de pintainhos, apenas porque nascem com o sexo errado (os machos são os prejudicados porque não servem para a produção de ovos).

Estas práticas da indústria alimentar, não só contradizem o princípio cristão do respeito pela Vida e pela Criação, como contribuem para a fome no chamado Terceiro Mundo.

Sugestão de um colaborador do citado jornal: os cristãos deviam regressar ao hábito de não comerem carne às sextas-feiras. De um ponto de vista global, seria quase irrisório, mas, ainda assim, um começo. Principalmente, os homens deviam repensar a sua alimentação, pois estudos provam que eles comem o dobro da carne das mulheres.

Nota: infelizmente, não encontrei uma palavra sobre o tema na Misereor em língua portuguesa.

8 de dezembro de 2011

Uma boa ideia de passatempo


Aquele que com a Santa casou
Em soberba festa
A que dos pães fez rosas
Espinhosa transformação

Foi aquele que poemas legou
Que as dores do coração pôs em verso
O maior dos trovadores
 Que cantou o amor e o escárnio

Foi aquele a quem chamaram lavrador
Não foi por pegar na enxada
Ou se calhar até pegou sabemos lá nós
E ao pinhal de Leiria ficou para sempre ligado

Afinal tantos factos, tantas datas…que sabemos nós
Dos homens que nos governaram outrora?



Foi com este interessante poema (aqui, extractos) que a Sara Fernanda Barros Paredes ganhou o passatempo em Dos Meus Livros. Parabéns! Irá receber um exemplar do D. Dinis autografado.

Esta ideia do Manuel Cardoso agradou-me e, brevemente, iniciarei um passatempo neste estilo: os concorrentes terão de escrever um texto sobre um tema proposto.

6 de dezembro de 2011

Audiolivros

Na Alemanha, além dos e-books, existe, há vários anos, uma outra forma de publicação alternativa aos livros de papel, que representa um grande mercado: os audiolivros. Dir-me-ão que nada substitui a leitura, mas, na verdade, há situações em que um audiolivro pode ser útil. O meu marido utiliza-os nas suas viagens diárias de comboio (cerca de 50 minutos) para o seu local de trabalho. Ele tem dificuldade em concentrar-se na leitura, quando há ruído de fundo (como num comboio, ou num café), de maneira que é fã dos audiolivros.

Nem todos os audiolivros se limitam à audição pura e simples do texto, alguns são verdadeiros "teatros radiofónicos", com várias personagens e ruídos apropriados (por exemplo, num romance histórico medieval, o som dos cavalos ou das batalhas).

Acho pena que em Portugal este modo de publicação seja raro. Foi, por isso, com satisfação que li sobre o lançamento do audiolivro de O Senhor Henri, o primeiro dos habitantes do “Bairro” de Gonçalo M. Tavares a entrar no catálogo da editora Boca, numa co-produção com o Teatro Municipal da Guarda, e inaugurando a colecção Boca de Cena, dedicada ao teatro.


O lançamento realiza-se no Teatro Municipal da Guarda, no dia 10 de Dezembro às 21h30, num espectáculo que se escuta, e ao qual se seguirá uma conversa com os editores, e repete no Bartô, dia 14 de Dezembro às 22h, com o mesmo figurino e com a presença de Gonçalo M. Tavares, José Neves, Luís Henriques e Américo Rodrigues, entre outros intervenientes.

Na minha opinião, uma belíssima ideia e um exemplo a seguir!

Via Bibliotecar

3 de dezembro de 2011

D. Mafalda de Sabóia (retrato de uma mulher medieval)

A única representação de D. Mafalda que encontrei

D. Mafalda de Sabóia (ou Matilde, ou ainda Mahaut, em fancês), a primeira rainha de Portugal, faleceu com cerca de trinta anos, a 3 de Dezembro de 1157, na sequência do parto da infanta D. Sancha.

Não se sabe bem quando nasceu, presume-se que teria de 18 a 20 anos, quando casou com D. Afonso Henriques, em 1146. Era filha do conde Amadeu III de Sabóia e de Mafalda (ou Matilde) de Albon. A família era muito devota, o pai participou em várias cruzadas e fundou muitos mosteiros, vários dos seus irmãos seguiram a vida religiosa. Mas Mafalda viu-se obrigada a partir para Portugal, uma terra de que ela talvez nunca teria ouvido falar, a fim de casar com o seu rei (sobre os motivos que levaram à escolha de D. Mafalda já aqui falei).

Este era, aliás, um destino comum para jovens da nobreza daquela época. Oficialmente, elas deviam dar o seu consentimento para a união matrimonial, a Igreja sempre fez questão de referir esse aspecto. Mas sejamos francos: quem era a jovem que se atrevia a discordar de seu pai, recusando casar com quem ele escolhera? Depois de terem passado toda a sua infância e parte da juventude a não se atreverem a contradizer os mais velhos e a nunca poderem expressar as suas preferências, não tinham meios para recusar qualquer proposta que fosse.




Esta imagem não tem nada a ver com D. Mafalda, mas gosto de a imaginar assim

D. Mafalda esteve doze anos casada com D. Afonso Henriques, deu sete filhos à luz e acabou por morrer dias depois do último parto. Dito assim, é uma história de vida bastante trágica. Teria sido feliz?

No meu romance, eu optei pelo "sim", depois de dificuldades iniciais. Uma das razões foi o facto de o número de filhos se adequar (por assim dizer) aos anos em que estiveram casados; a outra foi porque não se conhecem filhos ilegítimos do rei durante esses doze anos. A versão oficial é que D. Afonso Henriques teve dois filhos em solteiro e duas filhas depois de enviuvar.

O sucessor de D. Afonso Henriques, D. Sancho I, tinha apenas três anos, quando a mãe morreu, não se devia lembrar dela. Para não falar dos dois que nasceram depois dele. Dos sete filhos, aliás, só três chegaram à idade adulta: além do príncipe herdeiro, as duas filhas mais velhas, Urraca e Teresa.

Acabou por ser um destino bem medieval, este, da nossa primeira rainha. Infelizmente, as mulheres eram apenas meios para certos fins, não uma individualidade em si. Mesmo assim, houve quem se destacasse, como D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, que se intitulava "rainha",  o que leva muitos a considerá-la a primeira rainha de Portugal. E é verdade que, depois da morte de seu pai, o imperador da Hispânia, D. Teresa não mais prestou vassalagem ao rei de Leão.

O romance que estou, neste momento, a escrever é dedicado às mulheres medievais anónimas. Já era tempo!

2 de dezembro de 2011

Cancioneiro Medieval Português

Um site valioso: Cantigas Medievais Galego-Portuguesas, onde estão disponibilizados os Cancioneiros da Biblioteca Nacional, da Ajuda e da Vaticana, ou seja, uma edição crítica das cerca de 1680 catingas trovadorescas que chegaram até nós.


O site disponibiliza, ainda, as imagens dos manuscritos e a música, assim como informação sucinta sobre todos os autores, personagens e lugares referidos nas cantigas. Também a “Arte de Trovar”, o pequeno tratado de poética trovadoresca que abre o Cancioneiro da Biblioteca Nacional, se encontra lá.

O texto editado das cantigas dá ainda acesso a um conjunto de informações destinadas a facilitar quer a sua leitura, quer o seu enquadramento histórico (glossário, notas explicativas de versos, toponímia, antroponímia, notas gerais).

É nestas alturas que eu amo a internet!

Via Montalvo e as Ciências do Nosso Tempo