Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

29 de junho de 2013

Sem explicação

Tendemos a explicar tudo a partir da perspetiva humana e comovemo-nos, ao vermos este vídeo, em que um cão enterra um cachorrinho morto. Mas haverá quem diga que é puro instinto, que o cão bem podia estar a enterrar um osso, ou que aconteceu por acaso. Por outro lado, eu pergunto: quem assim opina, sabe o que se passa na cabeça de um cão? Algum de nós sabe? Não, pois não?

Resta-nos assitir. E pasmar.



27 de junho de 2013

Divagações Abrilinas (13)



A Assembleia Constituinte dispunha de uma esmagadora «maioria burguesa»! Gabriel García Márquez descreveu o desalento e o receio dos revolucionários:

Em Portugal, muitos acreditam que o primeiro grande erro que a revolução cometeu foram as eleições de 25 de Abril [de 1975]. Foram realizadas contra a vontade do partido comunista (PCP), que só obteve 12% dos votos (…) As análises mais sérias concordam, sem dúvida, que estes resultados não correspondem à realidade, porque numa situação como a actual em Portugal não é possível aferir a realidade política pela quantidade de votos. «O PS obteve mais votos, mas o PCP tem uma maior força política devido à sua real implantação nas bases», disse-me um professor universitário. «Além disso, a direita destronada, mais hábil e inteligente, orientou os seus votos para o socialismo, ou seja, escondeu-se dentro da legalidade eleitoral para pôr um travão na revolução».
«Caímos numa armadilha tola», disse-me um membro do Conselho da Revolução. «As eleições foram prometidas na euforia do primeiro momento, sem um conhecimento real das condições do país, e não as realizar poderia ter comprometido a credibilidade do MFA». Respondi-lhe que a revolução cubana, apesar das pressões vindas de todos os lados, não se deixou cair nessa armadilha.

Centro de Documentação 25 de Abril

25 de junho de 2013

Não há Feira, mas há escritores

Gostei do testemunho da Sofia Teixeira, no Morrighan, sobre o que se passou no Porto, no sábado.

E não se esqueçam: a 29 de Junho, há mais escritores na Avenida dos Aliados!


24 de junho de 2013

Mais uma vez os cães perigosos



Chego à conclusão de que é compreensível a animosidade que muita gente ainda tem em relação aos cães, em Portugal, vendo-os como feras imprevisíveis, prontas a atacar pessoas indefesas. Eu própria tive problemas, na minha última estadia. E tudo porque o sentido de responsabilidade da maior parte dos donos me parece mínimo, ou mesmo inexistente.

Na pequena cidade de Macedo de Cavaleiros, além dos cães que vagueiam pelas ruas, durante todo o dia, há aqueles que passam o dia acorrentados nos jardins e são soltos, ao fim da tarde, para que deem as suas voltas, sem qualquer tipo de controlo! Para quem anda com um cão pela trela, o perigo aumenta, pois, se poucos cães atacam pessoas, muitos atacam outros cães. Eu e o meu marido suámos frio, quando a nossa pequena cadela esteve prestes a ser atacada pela rottweiler do vizinho, que andava solta. Felizmente, reagiu, com receio, aos nossos berros e afastou-se. Pura sorte! Caso contrário, teria esfrangalhado a nossa Lucy. E pode fazer o mesmo a uma criança que vá a passar e esbraceje, ou dê um grito mais estridente. Gestos bruscos e gritos agudos põem certos cães muito nervosos.

Também foi muito desagradável passear com a Lucy perto da praia da Granja, passando por vivendas guardadas por cães enormes, que se atiravam furiosos contra as grades dos portões, ou pareciam prestes a saltar os muros. Em Portugal, ainda há o costume de pôr cães de grande porte a guardar as casas, às vezes, dois ou três, sem qualquer tipo de assistência, cães aborrecidos, cujo passatempo preferido é atacar quem os incomode. É caso para perguntar: que mal fizemos nós para estarmos expostos a tal agressividade gratuita?

No entanto, eu chamo mais uma vez a atenção para que a responsabilidade dessas situações é apenas humana! Os cães têm uma psique complexa e nenhum cão é igual a outro. Quem já teve, pelo menos, dois (e se dedicou a eles), constatou que há sempre situações em que os animais reagem de maneira completamente diferente. Os cães precisam de ser sociabilizados, ocupados e que lhes deem um sentimento de pertença. Principalmente isto é muito importante. Um cão integrado numa família, grande ou pequeno, que aprenda a amar e a respeitar as pessoas com quem vive, dificilmente se tornará num perigo público. E mesmo que tenha tendência a ser agressivo em relação a estranhos, é obrigação do dono acalmá-lo, vigiá-lo e responsabilizar-se por ele. Isto só se consegue com uma relação de grande confiança de parte a parte.

Os cães não são objetos, nem computadores que respondem a teclas, nem tão-pouco guardas ou porteiros que não precisam de salário, nem, ainda, sistemas de alarme, cuja única manutenção são restos de comida que se costumam atirar para o lixo. Um cão saudável só ataca quando se sente ameaçado. Compete-nos a nós, que os trazemos para o nosso meio, ensinar-lhes o que é, ou não, ameaça!


22 de junho de 2013

Injustiça nos direitos de autor

Bruxelas dá um prazo de dois meses para que Portugal acabe com tributação discriminatória. A Comissão Europeia considera que «um tratamento fiscal diferente das empresas não residentes em função da residência dos seus acionistas constitui um obstáculo à livre circulação de capitais».

Na Comunidade Europeia, existe um princípio de igualdade que engloba todos os cidadãos, independentemente da sua nacionalidade e do país onde vivem. O estado português, porém, adora explorar os portugueses residentes no estrangeiro. Como os escritores! Quando é que Bruxelas dá conta desta situação profundamente injusta? No que toca a direitos de autor, os escritores portugueses que vivem no estrangeiro são altamente discriminados e prejudicados, pagam quase três vezes mais de IRS do que os residentes!

Um bom princípio de igualdade, sem dúvida!


20 de junho de 2013

Divagações Abrilinas (12)



No Portugal dos cravos, insultava-se de maneira diferente. «Fascista» e «reacionário» passaram a ser os piores insultos, substituindo os «cabrões» e os «filhos da puta».
O conceito de «burguês», como sinónimo de capitalista explorador, também se tornou numa palavra maldita. Tudo o que não fosse a favor do «processo revolucionário em curso», mas também tudo o que lembrasse a direita, o fascismo, o conservadorismo, a ordem antiga, era «burguês», numa deturpação da palavra de origem medieval usada para definir o habitante do «burgo», ou seja, da cidade protegida por muralhas. Que os «burgueses» tenham adquirido conforto na vida, teve a ver com a decadência da nobreza medieval e a expansão do comércio. Ainda hoje, na Alemanha, Bürger é o vocábulo usado para «cidadão». No Portugal do Verão Quente, representava um insulto.

Centro de Documentação 25 de Abril


19 de junho de 2013

Desabafos



Tenho andado arredada da blogosfera, por força das circunstâncias. Mas, agora que estou em casa, penso que as coisas normalizarão.

Estranho dizer que estou «em casa», agora que cheguei à Alemanha. É o problema de viver há tanto tempo no estrangeiro. Aqui, sou sempre uma estrangeira e, na verdade, já não me sinto completamente «em casa» quando estou em Portugal, um país que visito de fugida, onde não me banho diariamente, um banho que é essencial para falarmos, sentirmos, respirarmos e suarmos Portugal.

Desta vez, a minha visita foi ainda mais estranha do que o costume. A minha mãe foi operada a um cancro, em meados de Maio, um processo que me vi obrigada a acompanhar através de telefonemas, emails, SMS's e fotografias. É nestas alturas que sentimos as distâncias, que notamos que já não pertencemos...

Felizmente, correu tudo bem. Pouco tempo depois, estivemos juntas, pudemos conversar. Mas havia sempre uma barreira, uma distância, a consciência, de parte a parte, de que se tratava de uma situação especial, que, em breve, eu já não estaria ao lado dela.

À quimioterapia, seguir-se-á a radioterapia, o suficiente para ocupar os meus pais mais de meio ano, com viagens desgastantes entre Macedo de Cavaleiros e o Porto. É óbvio que já não são novos, já ultrapassaram os setenta. E eu fico preocupada com eles. E pergunto-me onde eu deveria estar, pergunto-me onde ela gostaria de me ter. Perguntas que não fiz e que ela não abordou. Com medo das respostas...


18 de junho de 2013

Cristo e as Mulheres Desaparecidas (8)


Santa Maria Madalena – 2ª Parte

Hoje, está provado que a Legenda Áurea carece de fundamento, tratando-se de uma compilação do folclore tradicional sobre os santos venerados na época em que foi criada (século XIII). Não é, por isso, provável que Maria de Magdala tivesse vivido numa gruta francesa, durante trinta anos, a redimir-se dos seus pecados.

A teóloga Andrea Taschel-Erber diz-nos que o facto de ter sido uma mulher a anunciadora da ressurreição era algo de provocante, mesmo subversivo, na época medieval. Os teólogos tentaram, então, arranjar a melhor maneira de controlar tal "despropósito" e uma das suas estratégias consistiu em ligar a revelação do milagre da Páscoa à redenção do pecado da mulher, personificado em Eva, aquela que trouxe o pecado e a morte ao mundo. Seria, assim, uma espécie de justificação para o facto de ter sido dado um papel tão importante a uma mulher. E Maria de Magdala ficou irremediavelmente ligada à figura da mulher pecadora.

Em 1896, foi descoberto um escrito copta, no Egito, datado do século II e que, atualmente, se encontra em exibição no Museu Egípcio de Berlim. Hans-Gebhard Bethge, um teólogo da Universidade Humboldt (Berlim), especialista em língua copta, intitula este papiro de Evangelho de Santa Maria Madalena. Para o documentário da ZDF, tirou-o do seu escaparate e traduziu-o frente à câmara.

Das dezoito páginas iniciais, só existem oito. Descreve-se uma cena em que os apóstolos estão desanimados, depois da partida de Cristo ressuscitado, que se foi reunir ao Pai. Surge-lhes Maria Madalena, que lhes diz (traduzo do alemão):

«Não choreis! Não estejais tristes! Não duvideis! Porque a Sua misericórdia estará convosco, proteger-vos-á! Elogiemos antes a Sua grandeza, pois ele preparou-nos, tornou-nos pessoas» (é difícil traduzir, aqui, a palavra Menschen).

Não entendendo bem as suas palavras, os apóstolos suspeitaram que Maria Madalena fosse a portadora de um segredo que Jesus lhe teria revelado, o que lhes provocou o ciúme. Pedro exige que ela lhes confie o segredo e Maria fala da ascensão da alma, que tem de passar provações, antes de se poder unir à luz celestial. Trata-se de uma descrição muito mística, que toma uma direção agnóstica, rejeitada pela Igreja.

O escrito diz-nos ainda que André não acreditou que Cristo teria dito tais palavras a Maria de Magdala. Pedro também se mostra agastado: Jesus confiou tal segredo a uma mulher? Ele preferia-a a eles? Deveriam converter-se à palavra dela? O ambiente torna-se hostil para Maria Madalena, mas um outro discípulo, Levi, contemporiza e acabam todos por fazerem as pazes e decidirem divulgar o Evangelho.

Ou seja: neste escrito copta, que alguns teólogos classificam como Evangelho de Maria Madalena, é ela quem anuncia aos apóstolos como hão de proceder, depois da ascensão de Cristo.

No final, o documentário da ZDF deixa-nos, como conclusão:

Não há qualquer indicação, nas Escrituras Sagradas, que Jesus tenha dito que apenas homens deveriam liderar a Igreja. Hoje em dia, muitos teólogos, nomeadamente, da Universidade de Harvard, consideram isso provado, tanto historica, como teologicamente.