Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

30 de julho de 2018

Igreja do Santuário de Nossa Senhora de Balsamão



A igreja barroca de Balsamão é lindíssima e, ao contrário da de Podence, está muito bem conservada.

 
Por um lado, gostei de ver o nosso património religioso tratado com tanto esmero. Por outro lado, não pude deixar de ficar triste, pois tinha visitado, poucos dias antes, a igreja de Podence, que não é menos bonita, mas que se encontra muito degradada (para ver as imagens da igreja de Podence, clicar aqui).


As duas igrejas situam-se no concelho de Macedo de Cavaleiros. Porquê este contraste? Porque há dinheiro para uma e não para a outra? Perguntas que gostava de ver respondidas…

Pintura e placa evocativa de Fei Casimiro, o fundador polaco do Santuário de Balsamão


Imagem de Nossa Senhora de Balsamão (de "bálsamo na mão")

28 de julho de 2018

Tareja “Venusta Regina”



Este romance sobre D. Teresa, publicado em 1944, caiu-me nas mãos por acaso, oferta de Luís Carneiro, professor do Instituto Politécnico de Viseu. Trata-se de uma obra desconhecida, escrita por um autor misterioso, Magnus Bergström.

Sobre ele, escreveu Miguel Esteves Cardoso, num texto sobre O Acordo Tortográfico:

«Dos dois autores do Prontuário, Magnus Bergström e Neves Reis, é o primeiro o mais misterioso. Circulam a respeito dele lendas importantes. Para uns, será um sábio islandês, isolado nalguma remota ilha polar, estudando afoitamente o emprego do hífen e as razões que levaram os gramáticos portugueses a abolir o trema. Para outros, Magnus Bergström é o pseudónimo de algum ilustre estudioso português, ansioso por não ver o seu nome académico associado a um mero prontuário».

E António Amaro das Neves, no seu blogue Memórias de Araduca (de onde igualmente tirei o excerto em cima), diz-nos:

«Sempre me causou estranheza ter um livro que servia de guia de bem escrever português, o Prontuário Ortográfico, que tinha um autor que usava um nome tão alienígena como Magnus Bergström. Ainda hoje não sei de que ilha nórdica naufragou este erudito, antes de vir cair a esta terras onde já não havia tremas e de aqui se fazer linguista. Nem sequer tenho a certeza de que algum dia tenha existido, embora na Biblioteca Nacional se indique que viveu entre 1890 e 1960 e que, mais ou menos a meio da vida, trocou galhardetes com o vimaranense Alfredo Pimenta, que o levou a publicar um opúsculo com o título Leal desafronta às graves injúrias dirigidas aos que no Passado se impuseram na nossa Literatura por obras de incontestável valor (Lisboa, Edição do Autor, 1933. 32 páginas)».

Todos sabemos que D. Teresa foi muito maltratada pela nossa História. Sabendo eu a injustiça que lhe foi feita, durante todos estes séculos, o meu único pensamento, quando me passaram este livro para as mãos, foi: um romance que honra a figura da nossa primeira rainha tinha de ser escrito por um estrangeiro! Pelos vistos, porém, não está esclarecida a sua nacionalidade.

Este romance não deixa de ser interessante por aceitar D. Teresa como rainha e colocá-la sob luz favorável. É, no entanto, bastante vago, quanto aos factos históricos, e está muito datado, agarrado à imagem de um povo feliz, com famílias perfeitas, aguentando a sua pobreza com um sorriso nos lábios. O estilo, porém, tem o encanto de uma linguagem que já não se usa, o tipo de encanto nostálgico contido em filmes como Quo Vadis, ou Ben-Hur. E atiça-nos a curiosidade em relação a este misterioso escritor.

Do Prefácio:

«D. Teresa foi a mais notável mulher da nossa Idade-Média, mas descuidosos poetas e cronistas esqueceram os seus encantos: a chama da paixão amorosa, imensa e brava, não pôde aquecer a virtude tranquila daqueles que só admitiram as vantagens políticas, friamente meditadas e construídas, para índice seguro da mortalidade histórica.
No entanto, a ínclita Infanta-Rainha possuiu as qualidades morais que mais sublimam a alma feminina; os seus defeitos foram satélites insignificantes dum planeta que alumiará perenemente os espaços da celebridade».


25 de julho de 2018

Humanae Vitae

Completam-se hoje 50 anos sobre a publicação da Encíclica Humanae Vitae, pelo Papa Paulo VI. E perguntam-me vocês porque venho assinalar o aniversário de uma encíclica papal? Na verdade, não se trata de uma encíclica qualquer, foi publicada na sequência de uma inovação da Medicina que pôs a cabeça dos altos dignitários da Igreja Católica em água: a pílula, método anticoncecional praticamente infalível.

Todos sabemos que, a não ser talvez em alguns casos de um maior fanatismo religioso, ninguém se impressionou com o conteúdo desta encíclica, nem mesmo as mais conservadoras mães de família, frequentadoras da igreja.

O conteúdo é também mais ou menos conhecido, mas, ao ler um artigo sobre ele, chamou-me a atenção uma pequena passagem, que confirma três características da Igreja Católica (e que, mau grado os esforços do Papa Francisco, ainda hoje se mantêm): machismo, um total desconhecimento da vida em comum entre homem e mulher por parte de senhores (alegadamente) celibatários e uma grande hipocrisia.

A passagem em questão é a seguinte (e estou a traduzir do alemão): “o homem pode perder o respeito pela mulher, já que esta passa a estar sexualmente disponível em qualquer momento”!

A maior evidência machista é o facto de aos senhores bispos e cardeais nem sequer passar pela cabeça que também a mulher pode tirar proveito da pílula. Não! A pílula, embora tomada pela mulher, só serve para que os homens possam ter relações sexuais quando muito bem lhes apetecer!

A ignorância da vida em comum, aliada à hipocrisia, assenta na crença, ou no princípio, de que os homens sempre respeitaram as mulheres antes do surgimento da pílula! Não sei se ria, se chore. Todos sabemos que a mulher sempre foi um objeto sexual para o homem, mesmo dentro do casamento.

À altura do meu nascimento, ainda se vivia em ditadura e a minha família era extremamente católica. Ora, eu sempre ouvi dizer às minhas duas avós que a mulher devia obedecer ao homem, mesmo na cama. A mulher não se devia recusar ao homem, cabia-lhe cumprir os seus deveres conjugais, sempre que a ele (e só a ele) lhe apetecesse.

Então como ficamos, senhores bispos e cardeais? Afinal, os homens sempre contaram com as suas esposas estarem sexualmente disponíveis, com ou sem contracetivos. Sejam lá sinceros: nunca nenhum de vocês acreditou realmente que os homens só quisessem fazer sexo para serem pais, concedendo à mulher a oportunidade de ser uma mãe extremosa, pois não? E já agora acrescento: se os homens apenas respeitavam as mulheres pela possibilidade de se tornarem mães, não as respeitavam de todo como ser humano.

Porque aí é que está a questão: o homem respeitar a mulher como ser humano. Tal atitude é imune a qualquer pílula.

Dir-me-ão que me ocupo com coisas antigas, ultrapassadas. Pois, até hoje, não houve nova encíclica a desmentir a Humanae Vitae! Tal como antigamente, e em certos aspetos, a Igreja parece que se limita a “brincar às casinhas”.

Adenda: entretanto, fui espreitar a passagem na versão portuguesa (da wikipedia):
É ainda de recear que o homem, habituando-se ao uso das práticas anticoncepcionais, acabe por perder o respeito pela mulher e, sem se preocupar mais com o equilíbrio físico e psicológico dela, chegue a considerá-la como simples instrumento de prazer egoísta e não mais como a sua companheira, respeitada e amada.