Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

31 de dezembro de 2017

Feliz Ano Novo!

Vivemos num mundo cheio de injustiças e ódios, a que se juntam catástrofes naturais. As más notícias são diárias, o que nos deixa revoltados, deprimidos, desmotivados. Por isso, talvez seja boa ideia pensarmos igualmente naquilo que é bom e pelo qual devíamos estar agradecidos.

Este mundo pode não ser perfeito, mas é o único que temos. Urge preservá-lo. É isso que nos diz a canção Look At The World, aqui interpretada pelo Coro Gospel Lightfire, ao qual pertenço.

E é a minha mensagem de Ano Novo, desejando, a todos vocês, um excelente 2018!




28 de dezembro de 2017

Retrocesso Civilizacional em Democracia


Agora, que o Natal já passou e nos preparamos para iniciar um novo ano, uma época que poderá servir de reflexão, publico um resumo da minha palestra do passado dia 2 de Outubro, no Rotary Clube da Feira, a convite da sua Presidente Carla Pinto:




Considera-se que, quanto mais evoluímos, mais solidariedade e companheirismo desenvolvemos e melhor sabemos viver em comunidade. Infelizmente, nem sempre se verifica tal e um dos nossos grandes males, a meu ver, é a memória curta.
Verifica-se um crescimento de partidos radicais e xenófobos, ou seja, um retrocesso civilizacional que muitos de nós não julgavam possível. Estamos perante um fenómeno estranho na nossa democracia: há como que um desejo de regresso a regimes autoritários. E, o que é realmente perigoso, a palavra ditadura parece ter perdido muito do seu verdadeiro significado.
«É o medo que nos torna agressivos», escreve a minha personagem Helena, numa das suas cartas, no meu romance parcialmente epistolar Tu És A Única Pessoa. Muitos de nós parecem ter capitulado a um medo ancestral, nomeadamente, o medo do desconhecido. Não nego que vivemos tempos complicados, em que o terrorismo é uma ameaça a ser encarada com toda a seriedade. Impõe-se, porém, discernimento, que ajude a separar o trigo do joio e não nos leve a ver um terrorista em qualquer refugiado que procure a nossa solidariedade (muitas vezes, até nos esquecemos que muitos desses refugiados são cristãos).
O medo procura soluções radicais, como a instauração de uma autoridade suprema, que proteja a vida daquelas que são consideradas “pessoas de bem”. Confesso ter dificuldades com a expressão “pessoas de bem”, altamente subjetiva e que, afinal, nada diz. Muitos de nós parecem dispostos a prescindir de liberdade, em nome de uma segurança, que aliás é sempre ilusória, pois não existe a segurança absoluta. E, numa ditadura, a segurança de alguns paga-se com a insegurança de outros, cujo único “crime” é discordar do sistema vigente.
Assusta-me que o comodismo em que vivemos vá ao ponto de desejar uma ditadura, desejar que haja uma autoridade suprema que nos resolva os problemas, sem nos preocuparmos com que métodos. Considero gravíssima essa ilusão de vivermos em segurança, sem querermos saber dos métodos aplicados, a ilusão que possibilitou o regime nazi.
Nós portugueses também já tivemos uma experiência ditatorial. Penso que é imprescindível manter viva essa memória e ir à procura de testemunhos que não nos deixem esquecer as barbaridades que se cometeram em nome de uma pretensa segurança, em nome da proteção das famílias e das tais “pessoas de bem”.


21 de dezembro de 2017

Coleção Essencial INCM




Há seis anos, comprei, na Feira do Livro do Porto, seis livrinhos da Coleção Essencial da INCM, a 1 € cada. Entretanto, constatei que alguns títulos estão à disposição para descarregamento gratuito no site do Instituto Camões, outros podem ser comprados na Loja Online da INCM.

Li, finalmente, os títulos que, na altura, escolhi, pelo que dou aqui a minha opinião sobre cada um deles.

- O essencial sobre José Saramago, de Maria Alzira Seixo

Foi interessante ler um livro publicado em 1987 sobre a obra de Saramago, bem antes de ele ter ganho o Prémio Nobel. A Jangada de Pedra surgira havia pouco tempo (1986) e já tinham sido dados à estampa outros dois grandes romances: Memorial do Convento (1982) e O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984).
Interessante foi também conhecer o percurso e a evolução no nosso único Nobel, que começou discreto, com poesia pouco digna de nota e uns primeiros passos atabalhoados na ficção, ainda sem o estilo que o haveria de caracterizar. O escritor construiu uma carreira ao longo de várias décadas, à custa de muito esforço e perseverança, pois não se movia entre a nata do mundo editorial português, se bem que a sua ligação ao jornalismo lhe facilitou um pouco a vida.

- O essencial sobre a Cultura Medieval Portuguesa (séculos XI a XIV), de José Mattoso

Devido à falta de espaço, este estudo é pouco, ou nada, aprofundado. O autor limita-se a dar algumas informações, frisando a diferença entre o «Norte cristão e rural» e o «Sul moçárabe e urbano» e traçando, em linhas gerais «o processo de aculturação», sem esquecer, claro, que a cultura erudita estava ligada ao meio eclesiástico. Quem pretende iniciar-se neste tema, o livrinho pode ser útil; para quem se ocupa da Idade Média há mais de quinze anos, nada acrescenta. Mas é sempre bom ler José Mattoso. De notar que a edição é de 1993.

- O essencial sobre Filosofia Política Medieval, de Paulo Ferreira da Cunha

Há uma grande preocupação, por parte do autor, de condensar muita informação em pouco espaço. Este volume, publicado em 2005, é mais grosso do que os outros, o tipo de letra é mais pequeno e há longas listas bibliográficas, para quem quiser aprofundar o tema. No seu conteúdo, o livro não passa de uma listagem de filósofos mais influentes, começando com (Aurélio) Agostinho (sécs. IV-V), passando pelo inevitável São Tomás de Aquino (séc. XIII) e acabando com Guilherme de Ockham (sécs. XIII-XIV) que serviu de inspiração a Umberto Eco para a personagem principal de O Nome da Rosa.

- O essencial sobre o Romanceiro Tradicional, de J. David Pinto-Correia

Uma boa base para a iniciação no Romance Tradicional, um género narrativo-dramático popular, de tradição oral (pelo que, muitas vezes, há várias versões para o mesmo enredo) que teve as suas origens na Baixa Idade Média, alimentado por «episódios de antigos cantares de gesta, fragmentos de histórias noticiosas elaboradas por jograis e sequências de intrigas provenientes do fundo baladístico europeu». De salientar a transcrição integral de alguns romances (edição de 1986).

- O essencial sobre o Cancioneiro Narrativo Tradicional, de Carlos Nogueira

Este volume, editado em 2002, dedica-se às cantigas narrativas difundidas por cantores populares e cegos pedintes, cuja origem remonta aos séculos XVI e XVII e que eram promotoras «das ideologias, das normas de comportamento e dos valores religiosos basilares para a vida individual e social». Fazer uma inventariação destas cantigas narrativas não é fácil, já que não há registos escritos. As cantigas transcritas neste volume são resultado de uma recolha de vários investigadores que, ao longo do século XX, visitaram várias localidades portuguesas, a fim de ouvirem as cantigas pela voz de populares.

- O essencial sobre a Literatura de Cordel Portuguesa, de Carlos Nogueira

Em conjunto com os últimos dois volumes citados, este livro, ou será melhor dizer, o estudo da literatura de cordel, é mesmo essencial para se entender a cultura popular e o modo de vida de gerações de portugueses, cultura e costumes que influenciaram as mentalidades e a cultura denominada erudita. À altura da publicação, em 2004, o autor lamentava estar «ainda por fazer uma reflexão de conjunto sobre a literatura de cordel portuguesa», que, «fecundado por uma óptica transdisciplinar, traria com certeza dados surpreendentes para o esclarecimento de várias zonas sombrias ou intocadas da nossa teoria literária ou textual, bem como do comportamento social e da mentalidade portuguesas».
Este tipo de literatura costuma ser menosprezado e, no entanto, «os textos que circulavam sob a forma de folheto alcançavam um público vasto e de condição socioeconómica muito diversa», começando pela própria corte. Resta acrescentar que a literatura de cordel contou com a participação de autores hoje consagrados, como Camilo Castelo Branco, que, em 1848, publicou um folheto, que não assinou, com o curioso título (os títulos longos não eram raros, neste tipo de publicações): Maria, Não Me Mates Que Sou Tua Mãe! Meditação sobre o espantoso crime acontecido em Lisboa; uma filha que mata e despedaça sua mãe. - Mandado imprimir por um mendigo, que foi lançado fora do convento, e anda pedindo esmola pelas portas. Offerecido aos paes de famílias e àqueles que acreditam em Deus.


18 de dezembro de 2017

A Citação da Semana (126)

«O contacto com os próprios sentimentos é condição essencial para desenvolver empatia».

Stepahnie Stahl (psicóloga alemã), no seu livro Das Kind in dir muss Heimat finden.

13 de dezembro de 2017

Escrita


Extrato de uma entrevista dada à Joana Dias do Páginas com Memória, nos idos de 2012:

Que conselho daria a quem decida enveredar pela área da escrita?

Se não consegue conceber a sua vida sem escrever, não desista! É preciso insistir muito para se conseguir publicar, não se deixando abater pelas recusas.

Seja disciplinado e exigente. Enquanto não estiver satisfeito com o texto, corrija-o, nem que sejam mil vezes! Se não gosta de alguma passagem, ou de alguma cena, mas pensa: «não faz mal, vai mesmo assim, no conjunto mal se nota», está a seguir o caminho errado!

Se não lhe ocorre melhor solução para a passagem, ou a cena, problemática, apague-a! Não tenha problemas em apagar, mesmo que doa. Li, uma vez, que o melhor amigo do escritor é o cesto dos papéis.

Não espere enriquecer com a escrita! Um número ínfimo de escritores consegue viver da escrita, os que enriquecem são ainda menos.



11 de dezembro de 2017

A Citação da Semana (125)

«Quem não tem um lar interior, não o encontrará no exterior».

Stephanie Stahl (psicóloga alemã), no seu livro Das Kind in dir muss Heimat finden
(tradução livre)


10 de dezembro de 2017

Tigres de Papel




«Mas parece-me que se passa qualquer coisa na nossa sociedade: muitos americanos parecem ter deixado de entender o que um líder deve ser, confundindo voz grossa e beligerância com firmeza. Porquê? Será a cultura das celebridades? Será desespero da classe trabalhadora, canalizado para o desejo de slogans fáceis? Não sei».

São palavras de Paul Krugman, economista norte-americano, Nobel de Economia em 2008, originalmente publicadas no The New York Times, traduzidas e publicadas na revista Visão (6 de Abril de 2017).

Paul Krugman diz que não sabe. Pois eu arrisco dizer que este não é um problema exclusivo dos Estados Unidos, nem sequer atual. Os humanos, em geral, sempre confundiram «voz grossa e beligerância com firmeza». Vivemos de aparências, daquilo que impressiona à primeira vista. Somos muito manipuláveis e, de vez em quando, aparece alguém capaz de usar na perfeição os artifícios necessários. Dá a ilusão de segurança e de que sabe o que quer.

Adoramos tigres de papel. Mas o problema não é novo e não aprendemos nada com a História.