Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

19 de março de 2024

Quebrando tabus

 

Homossexualidade no futebol 01.png

Vai-se quebrando um dos grandes tabus do futebol masculino. Muita gente com tendências homofóbicas pode perguntar-se se é necessária tanta ostentação. Desdenha com frases feitas, do género: “Que façam o que quiserem à porta fechada, mas não o exibam em público”. Palavras destas revelam grande cinismo. Por um lado, é óbvio que pares como o da foto não estão a fazer aquilo que possam fazer em privado. Por outro, é uma declaração de apoio à discriminação, na medida em que se assume haver seres humanos não dignos de um convívio social sadio e se devem esconder. E, por fim, muitas dessas pessoas deliram com declarações de amor ou propostas de casamento públicas entre um homem e uma mulher (incluindo a hipocrisia de certos homens casados ou comprometidos, que, depois de exultarem com cenas dessas, apoiando a família tradicional, se dirigem ao bordel mais próximo).

Ignoram a verdadeira mensagem de gestos desta natureza: a luta pela inclusão social. Não é fácil esconder de todos uma parte importante da nossa vida. Há festas, convívios, reuniões de família, onde homens e mulheres surgem com os seus parceiros e parceiras, conversam, riem, divertem-se. Um homossexual que ainda não se tenha revelado como tal nunca se pode divertir, nessas situações. Passa o tempo a fingir, a esconder, a tentar responder de maneira mais ou menos adequada a perguntas como: “outra vez sozinho?”; “quando arranjas namorada?”; “já é tempo de constituíres família”. Por vezes, apresentam-lhes mulheres solteiras, com um olhar que encerra a obrigatoriedade de ir para a cama com ela. E o homossexual tenta superar, tão bem quanto possa, o desgosto de, afinal, ter namorado, mas ter de prescindir dele, em momentos importantes da sua vida. A isto acrescem-se olhares e sorrisinhos a insinuar: “há algo de errado com ele”; “deve ser bicha”; “coitado”.

É muito difícil viver sob carga psicológica tão negativa. Muitos homossexuais e lésbicas deixam-se mesmo arrastar para a marginalidade, com todas as consequências nefastas que isso acarreta. E, no entanto, apenas desejam ser aceites, como qualquer outra pessoa. É disso que se trata, não de exibicionismo ou imposição de formas de vida que não cabem nos esquemas sociais transmitidos. São seres humanos à procura da estima dos seus semelhantes. Há séculos. Melhor dizendo, há milénios.

É interessante verificar que a homossexualidade é aceite no futebol feminino. Na verdade, muita gente considera as jogadoras serem todas lésbicas, o que está longe de ser verdade. Mas não menosprezemos, com isso, o papel fundamental das lésbicas na emancipação feminina. Elas estiveram presentes, desde o início, foram importantes impulsionadoras das suffragettes e de outros movimentos. Também na aceitação de muitas modalidades desportivas no feminino. Não se sentindo dependentes de homens, possuíam amiúde mais coragem para lutar. E encorajaram muitas outras mulheres a fazerem-no, lutaram em nome de todas. Também em meu nome. Agradeço-lhes.

8 de março de 2024

Ele há mulheres

Ele há mulheres

que mantêm fria a cabeça

na mais opressiva situação.

Logo lhes sai a resposta seca,

ou a adequada reação.

Infalíveis computadores,

neurónios como chips,

músculos como tratores,

ninguém lhes chega aos acepipes.

Não há medo, nervosismo,

nem vergonha, ou intimidação.

Determinada tecla

aciona a correspondente reação.

São imunes ao dramalhão.

 

Raciocinam numa fração de segundo,

indiferentes aos olhares de meio mundo,

ou à solidão de um poço fundo.

E logo se lhes levanta o joelho,

direito à tomatada.

E logo se lhes levanta a mão,

aplicando a bofetada.

E logo se lhes solta a língua,

sem gaguejar, sem hesitar,

em impropérios ao camarada.

 

Ele há mulheres

que desdenham das mulheres

desprovidas de chips,

possuindo detestáveis tiques.

Não pensam com ligeireza,

mostram (sacrilégio!) fraqueza.

O medo deixa-as bloqueadas,

certas palavras, intimidadas,

certas situações, envergonhadas.

Ficam arrasadas,

sentem-se culpadas,

por não terem reagido a preceito

e levado tudo a eito.

 

Ele há mulheres

que criticam estas mulheres

sem dó nem piedade.

E deixam impoluto o homem

que as pôs em dificuldade,

que as ofendeu, ou abusou

de profícua oportunidade.

As indefetíveis mulheres

avaliam de longe a situação

no conforto do seu cadeirão.

“Havia de ser comigo,

dizia isto,

fazia aqueloitro

e deixava o desgraçado num oito”.

Palavras de conforto,

de alento, de carinho,

solidariedade e apoio

para as suas semelhantes?

Mas que tamanhas lacrimejantes!

Não reagiu?

É porque gostou.

Não respondeu?

É porque bem achou.

Queixa-se do homem?

Ainda lhe estraga a vida

por tamanha lana-caprina.

 

Ele há mulheres

duras, implacáveis,

de reflexos memoráveis,

matemáticas e insensíveis,

cheias de soluções exequíveis,

amantes dos clássicos:

“Ai se fosse comigo”;

“Segurem-me que os desfaço”.

Treinadas, musculadas,

engomadas, engravatadas.

 

Ele há mulheres…

Que parecem (certos) homens.

© 2024 Cristina Torrão

 

Desdenhar da fraqueza alheia é cobardia. Solidariedade é coragem.

Mulheres 01.png

Imagem daqui

 

A dignidade humana é intocável.

Direitos das Mulheres são Direitos Humanos.

7 de março de 2024

8 de março

Não nos ofereçam flores. Olhem-nos ao mesmo nível (não de cima para baixo).

O tamanho da pessoa é insignificante, quando está em causa a dignidade humana.

Direitos das Mulheres são Direitos Humanos.

 

Mulheres 02.jpg

Imagem daqui