Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

6 de outubro de 2023

No país dos mamarrachos

 

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Imagem: Nelson Garrido

A polémica, felizmente, não durou muito. O povo decidiu, os ânimos serenaram. E ainda bem. Salvo raras exceções (como quando glorificam ditadores) as estátuas não devem ser removidas de ânimo leve.

Dito isto, e porque tenho uma ligação afetiva com a cidade do Porto, a minha opinião sobre o objeto da discórdia é: feia! Mas não é por causa do nu, ou de incitar ao assédio (não adianta vir com esses argumentos nos comentários). É simplesmente grosseira. O Camilo está péssimo, destituído de dignidade. Parece um avozinho caquético, deslumbrado por uma menina nua, aproximando-se dela, com o pretexto de a proteger do frio. É isso que me vem à cabeça, quando olho para a estátua.

Além disso, não tem nada a ver, mesmo nada, com o romance Amor de Perdição. Nem sequer com o conjunto da obra de Camilo, ou com a sua vida. Camilo não era nenhum D. Juan, ou Casanova. A sua relação com Ana Plácido causou polémica por se tratar de adultério e os dois terem ido parar ao calabouço. Superado esse período negro, porém, eles levaram uma vida normalíssima.

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Camilo Castelo Branco e Ana Plácido, com um dos filhos – Imagem Rádio Portuense

E, se Camilo não era nenhum Casanova, Ana Plácido estava longe de ser uma Vénus. A que se acrescenta o facto de não ter sido muito mais nova do que ele, como sugere a estátua (para quem a identifica com a figura feminina). Cerca de seis anos separavam os seus nascimentos. E envelheceram juntos, como a maior parte dos casais.

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Camilo e Ana Plácido já "entradotes" – Imagem Museu Virtual do Tribunal da Relação do Porto

Diz o autor da estátua que a menina representa as musas de Camilo. Todos os artistas têm as suas inspirações. Mas o nosso escritor das musas é o Luís Vaz (e fico-me por aqui, para não rimar), que, tendo vivido numa época mais recuada, sobre a qual as informações são escassas, convida mais à criação de lendas e mitos.

No fundo, esta estátua não passa de um mamarracho. O povo decidiu bem? Decidiu. Há tantos mamarrachos espalhados pelo nosso país, que não se justifica o trabalho de remoção de um deles.

Camilo merecia melhor? Oh sim, merecia! Mas já Cristo nos disse: «Um profeta é respeitado em qualquer lugar, menos na sua terra, entre os seus parentes e pela sua própria família» (Marcos 6:4).

 

1 de outubro de 2023

Comemorações dos 900 anos do Foral de Viseu

Depois de tão grande ausência, regresso com mais publicidade. Neste caso, porém, o evento já passou. No passado dia 23 de setembro, estive em Viseu para falar dessa grande mulher que foi Dona Teresa.

 


Os meus agradecimentos à Câmara Municipal de Viseu, na pessoa da Dra. Dora Mariano, Chefe da Divisão Cultural, e à Dra. Liliana Tavares, dirigente da Rede de Museus Municipais.

Aqui vai um momento da conversa:


 

Em breve regressarei para finalmente pôr as leituras em dia.

2 de fevereiro de 2023

Momento publicitário (2ª parte)

E deixo aqui o link da RTP Play para o 10º episódio da série documental Duplas à Portuguesa, transmitido ontem. É dedicado à dupla Afonso Henriques e Egas Moniz.

Infelizmente, não tem direitos de transmissão para o estrangeiro, só poderei ver o programa no próximo dia 7, na RTP Internacional.

https://www.rtp.pt/programa/tv/p42647/e10

24 de janeiro de 2023

Momento publicitário

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Não sei se já ouviram falar na série documental Duplas à Portuguesa, que costuma passar na RTP2, às quartas-feiras, pelas 22:50 horas. O 10º episódio, dedicado à dupla D. Afonso Henriques/Egas Moniz, vai para o ar no próximo dia 1 de fevereiro.

A 13 de julho de 2021, desloquei-me ao Museu Soares dos Reis, no Porto, a fim de ser entrevistada sobre essa dupla, para essa mesma série. A entrevista durou cerca de uma hora, mas deduzo que apenas alguns momentos serão mostrados, pois são entrevistadas várias pessoas sobre cada tema (isto, no caso de terem aproveitado alguma coisa da minha entrevista).

E era isto. Se pudessem ver, agradecia.

 

11 de janeiro de 2023

Resistência em alemão (5)

 Willi Graf

Willi Graf - Placa de homenagem na casa onde nasce

Placa de homenagem a Willi Graf com foto, na casa onde nasceu

Wilhelm „Willi“ Graf nasceu a 2 de janeiro de 1918 em Euskirchen, mas a família mudou-se para Saarbrücken quatro anos depois, onde o pai Gerhard Graf tomou conta de uma quinta pertencente à paróquia de São João. A família era muito ligada à Igreja, Willi Graf ajudou à missa e pertenceu a uma organização de Juventude Católica chamada Bund Neudeutschland, proibida assim que o Partido Nazi alcançou o poder. Em 1934, Willi Graf ingressou numa outra organização católica, a Grauer Orden, abertamente crítica do regime e também proibida, mas que sobreviveu vários anos na clandestinidade, dividida em pequenas unidades regionais.

Willi Graf recusou ingressar na Juventude Hitleriana, apesar de o terem ameaçado de, nesse caso, não lhe permitirem acabar o liceu. Também não se deixou convencer, quando lhe propuseram que ingressasse apenas para manter as aparências. O jovem manteve-se firme nas suas convicções e conseguiu concluir os estudos liceais, de maneira a poder iniciar o curso de Medicina, em Bona, no outono de 1937.

Em 1938, foi preso, junto com outros elementos da Grauer Orden. Algumas semanas mais tarde, porém, beneficiou de uma amnistia na sequência da anexação da Áustria. Quando rebentou a guerra, foi alistado. Serviu a Wehrmacht (exército alemão) até 1942 como socorrista e médico auxiliar na Bélgica, França, Jugoslávia e União Soviética, assistindo a muitas atrocidades. Segundo a sua irmã Anneliese, estas experiências despertaram nele a convicção de que teria de agir.

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https://www.literaturland-saar.de/themen/willi-graf-briefe-tagebuecher/willi-graf-briefe-und-tagebuecher/

Em abril de 1942, foi transferido, junto com os seus colegas de curso, para a Universidade Ludwig-Maximilian, em Munique, onde entrou em contacto com Hans e Sophie Scholl, tornando-se num elemento ativo do grupo Weiße Rose. Na primeira metade de Fevereiro de 1943, além da distribuição dos folhetos, Willi Graf, Hans Scholl e Alexander Schmorell pintaram em vários edifícios de Munique palavras de ordem, como “Abaixo Hitler” e “Hitler assassino em massa”.

Quando, a 18 de Fevereiro, os irmãos Scholl foram descobertos a distribuir os folhetos e entregues à Gestapo, Willi Graf e a sua irmã Anneliese foram igualmente presos, passadas poucas horas. Anneliese, porém, nada tinha a ver com o Weiße Rose (nem sequer sabia que o irmão pertencia ao grupo) e foi libertada. Ele foi condenado à morte a 19 de abril de 1943, mas, ao contrário dos irmãos Scholl e de Christoph Probst, a sentença não foi imediatamente cumprida. Durante seis longos meses, a Gestapo submeteu-o repetidamente a interrogatórios, na esperança de conseguir extorquir-lhe nomes de outros “traidores”. Willi Graf acabou por ser executado pela guilhotina a 12 de outubro de 1943. Foi sepultado em Munique, mas, a pedido da família, os seus restos mortais foram trasladados para Saarbrücken, onde, a 4 de novembro de 1946, foram depositados num túmulo de honra, no cemitério de São João.

Em 1999, Willi Graf foi inserido no Martirológio Católico do século XX. A 27 de dezembro de 2017, a diocese de Munique-Freising anunciou considerar a sua beatificação e a 1 de novembro de 2018, foi inaugurado o sino Willi Graf na Igreja de Santa Elisabete, em Saarbrücken.

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https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=74050872

Além de vários liceus e ruas, têm o nome de Willi Graf: um lar de estudantes em Munique, um lar de idosos em Saarbrücken, um centro de formação para famílias em Neuss e um centro de convívio para jovens em Ludwigshafen am Rhein.

Terminada a guerra, a irmã Anneliese Knoop-Graf dedicou-se intensivamente a analisar a vida, o pensamento e a acão de Willi Graf, através dos diários dele, entre outras fontes. O seu trabalho em prol do estudo da resistência alemã ao nazismo valeu-lhe um doutoramento Honoris Causa pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Karlsruhe. Anneliese Knoop-Graf também instituiu o Prémio Willi Graf no Liceu Irmãos Scholl de Münster, conferido anualmente a finalistas que se destaquem pelo seu desempenho.