Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

18 de agosto de 2018

O Princípio da Noite



Este romance está escrito de forma pouco usual: capítulos muito curtos (média de duas a três páginas), que funcionam como episódios, recortes da vida de sete adolescentes. Esta forma de escrita facilita a leitura, também por não se deter excessivamente em pormenores descritivos.

Através dos sete adolescentes, são abordados vários temas da sociedade atual, incluindo os problemas de uma família migrante na Europa. Não é definido o país em que vivem, nem de onde vem a família. O que está aqui em causa é a cultura europeia e a dificuldade de integração de gente que, pelo seu aspeto físico, não deixa margem para dúvidas quanto à sua origem.

Os sete jovens frequentam o liceu e uma grande amizade parece uni-los, numa solidariedade própria da fase, uma ajuda no enfrentar das dificuldades e dos medos na passagem à idade adulta. No entanto, o leitor apercebe-se de que uma ameaça paira sobre a sua amizade. Como diz o texto da contracapa, «as acções das personagens (…) são condicionadas pelos pensamentos, palavras, actos e omissões umas das outras». De facto, por trás das aparências, há bastante falta de comunicação e de interesse pelos sentimentos uns dos outros,  uma amizade superficial que funciona nos tempos de liceu, mas que acaba por sucumbir, quando as personagens mudam de vida, cumprindo-se inclusive a ameaça que sempre pairou no ar.

Esta falta de interesse pelo que realmente move as pessoas também se aplica à relação entre pais e filhos, verificando-se igualmente falta de comunicação, preferindo os pais ocuparem-se com os seus próprios problemas e frustrações.

Tiago Patrício, nascido em 1979, já deu provas do seu talento. Venceu, entre outros, o Prémio Jovens Escritores em 2007, o Prémio Agustina Bessa-Luís em ficção, com o romance Trás-os-Montes, e foi selecionado para várias residências literárias. Penso, no entanto, que este romance tem um problema: a quantidade de personagens principais torna difícil ao leitor construir um perfil de cada uma delas, apesar de o autor tentar facilitar essa tarefa com o método dos capítulos curtos. Mas há apenas espaço para dar alguma profundidade a três personagens e o leitor acaba por ter dificuldade em avaliar as outras que, depois de uma grande ausência, tornam a entrar no enredo. 


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