Em todos os momentos da História, seja na Antiguidade, na Idade Média, ou no nosso tempo, são as mesmas paixões e os mesmos desígnios que inspiram os humanos. Entender a História é entender melhor a natureza humana.

11 de janeiro de 2021

A Paixão do Jovem Werther

 


Johann Wolfgang Goethe é um dos grandes nomes da literatura mundial, autor de algumas obras-primas, como Fausto ou Viagem a Itália, mas também conhecido pela sua poesia e (sobretudo na Alemanha) pelas suas Máximas e Reflexões.

A Paixão do Jovem Werther é um dos seus livros mais conhecidos, percursor do movimento literário que ficou conhecido por Romantismo. Conta-nos a paixão fulminante de Werther por Charlotte, ou Lotte, uma paixão condenada ao fracasso, pois a jovem está já noiva, quando os dois se conhecem.

Estamos numa altura de compromissos inquebráveis (o livro foi publicado, pela primeira vez, em 1774) e o noivado é um deles. A paixão de Werther é correspondida - pelo menos, assim é dado a entender nas cartas escritas pelo jovem a um amigo. Lotte possui, no entanto, um grande sentido de dever e nunca põe sequer a hipótese de cancelar o seu casamento com Albert, assim como, depois de casada, não concebe ser-lhe infiel. Werther afasta-se do casal, mas não aguenta viver longe da sua amada e torna à sua companhia. Albert começa a desconfiar da paixão de Werther pela sua mulher, mas hesita em exigir o afastamento daquele grande amigo e forma-se, ao nível platónico, um triângulo amoroso.

Os dois homens digladiam-se em diálogos catárticos, impensáveis nos dias de hoje, nos quais o pensamento racional de Albert entra em choque com o idealismo romântico do poeta Werther, que chega a verter lágrimas, a fim de o seu interlocutor e a sua amada melhor ficarem convencidos da sinceridade das suas palavras. Nesta época de grandes convenções sociais, são bem vistos arrebatamentos hoje considerados ridículos, uma espécie de herança medieval dos amores platónicos (diria eu): tudo é permitido, desde que não se consuma a paixão carnal.

A situação torna-se, porém, insustentável. O desconforto de Albert leva-o a transmitir a Lotte o receio de que os vizinhos comecem a falar e ela suplica a Werther que se afaste. A intensidade do sofrimento e do desespero levam o jovem a decidir cometer suicídio e impedem-no de continuar a escrever ao amigo. O romance deixa então de ser epistolar, o resto da história é contado pelo anterior destinatário das epístolas, a partir dos relatos das últimas pessoas a estarem com Werther.

É interessante ver como funcionavam as relações humanas no século XVIII. Penso, porém, notar-se ainda uma certa imaturidade do escritor, no seu idealismo romântico. Goethe tinha apenas vinte e cinco anos à data da primeira publicação deste livro, no qual incluiu elementos biográficos. Porém, A Paixão do Jovem Werther acabou por dar início ao Romantismo e teve um efeito devastador. Foi um sucesso de vendas e, diz-se, levou muitos jovens ao suicídio, na sua ânsia de imitarem o ídolo Werther (e falamos nós hoje nos malefícios das redes sociais na juventude!).

Sobre o estilo da escrita, de indiscutível qualidade em alemão, nada posso dizer em relação às traduções portuguesas, por não as conhecer.

 

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